quinta-feira, outubro 30

"Mestre, qual é o maior Mandamento?"

Depois de iniciar a nossa Celebração, ouvimos, em jeito de Kyrie...
Rui Veloso - A Gente não Lê


O Evangelho deste 30º Domingo dava-nos nota de mais um teste que os fariseus quiseram fazer a Jesus; para a reflexão sobre as Leituras (especialmente do Evangelho), o Samelo levou-nos a apresentação que podem descarregar aqui.

Na partilha da Palavra (Ex 22, 20-26; 1 Ts 1, 5c-10; Mt 22, 34-40) quisemos saborear o texto que o Samelo nos enviou:

ENCONTRO DE DOIS AMORES
Será necessário afastar-se das pessoas para encontrar a Deus? E quem encontrou a Deus ainda poderá voltar às pessoas e viver com elas, interessar-se por elas, trabalhar com elas e para elas? Noutras palavras, são compatíveis o amor a Deus e o amor às pessoas, ou, pelo contrário, um exclui o outro, de modo que seja absolutamente necessário fazer uma opção?

Amar a pessoa humana para amar a Deus
Nenhuma destas perguntas recebeu de Jesus uma resposta essencial; o primeiro mandamento é amar a Deus e o segundo, que lhe é semelhante, amar as pessoas. Não se pode, pois, pensar que a entrada de Deus numa consciência provoque a exclusão da pessoa (cf evangelho). Pelo contrário, os textos mais seguros da mensagem do Antigo Testamento e de Jesus levam-nos a crer com certeza que o encontro com Deus renova e aperfeiçoa a atenção e a solicitude para com as pessoas (cf 1ª leitura).
“Quando Deus se revela pessoalmente, Ele fá-lo servindo-se das categorias humanas. Assim, revela-se Pai, Filho, Espírito de Amor; e revela-se supremamente na humanidade de Jesus Cristo. Por isto, não é demasiada ousadia afirmar que é preciso conhecer a pessoa humana para conhecer a Deus; é preciso amar a pessoa humana para amar a Deus” (RdC 122, b). “Deus marcou seu encontro com o homem em todas as coisas. Nelas o homem pode encontrar Deus. Por isso todas as coisas deste mundo são ou podem ser sacramentais. Cristo é o lugar de encontro por excelência: nEle Deus está de forma humana e o homem de forma divina. A fé sempre viu e acreditou que em Jesus de Nazaré morto e ressuscitado Deus e o Homem se encontram numa unidade profunda, sem divisão e sem confusão. Pelo homem-Jesus se vai a Deus e pelo Deus-Jesus se vai ao homem. Ele é caminho e termo final do caminho. Nele se encontram os dois movimentos, ascendente e descendente: por um lado é a expressão palpável do amor de Deus (movimento descendente) e por outro é a forma definitiva do amor do homem (movimento ascendente). Quem dialogava com Cristo se encontrava com Deus. (…) Ele foi a própria Abnegação, o radical Amor ao próximo e a exaustiva Dedicação. Porque era(é) sacramento” (Leonardo Boff, Os sacramentos da Vida e a Vida dos sacramentos. Ensaio de teologia narrativa, Editora Vozes, Petrópolis, 200121, pp. 46.47).

Mas convém aprofundar alguns problemas impostos pelos próprios textos evangélicos. Importa amar as pessoas, mas importa também acautelar se em relação ao mundo, saber deixar o pai e a mãe.
Como fazer um acordo entre proposições que, à primeira vista, parecem opor-se? Devendo absolutamente escolher entre a pessoa humana e Deus, que fazer? O amor das pessoas não é uma ameaça ao amor de Deus?
A Escritura e a tradição cristã nunca permitiram ao(à) cristão(ã) desinteressar-se da pessoa humana sob pretexto de interessar-se unicamente por Deus. Nunca deixaram de indicar no serviço da pessoa humana um modo de servir a Deus.

Teoria e práxis
A atenção a Deus e a atenção à pessoa humana não são facilmente separáveis. O cultivo da “vida interior’’ é um valor cristão, um valor permanente, como a necessidade de recolhimento. Mas a “vida interior”, quando é cristã, não é monólogo nem falar com Deus só. Encontrando Deus na oração, o(a) cristão(ã), mais cedo ou mais tarde, encontra inevitavelmente as pessoas que Deus cria e quer salvar. Ele(ela) não pode deixar de subscrever estas linhas de Paul Ricoeur: “A minha vida interior é a fonte de minhas relações exteriores. Contrariamente à sabedoria meditativa e contemplativa do fim do paganismo grego ou do Oriente, a pregação cristã jamais opôs o ser ao fazer, o interior ao exterior, a teoria à práxis, a oração à vida, a fé às obras, Deus ao próximo. É sempre no momento em que a comunidade cristã se desfaz ou a fé decai, que ela abandona o mundo e suas responsabilidades. reconstruindo o mito da interioridade. Então, Cristo não é mais reconhecido na pessoa do pobre, do exilado, do prisioneiro”.

Contemplação e acção
O cristão pode afastar-se momentaneamente das pessoas, para orar, para pensar só em Deus. Pode fazer uma hora de meditação sem encontrar expressamente, na contemplação do mistério divino, o pensamento das necessidades das pessoas. Isto torna-se mesmo, em certos momentos, uma profunda necessidade. Na vida cristã, como na vida humana em geral, existem normalmente ritmos; passa-se da contemplação à acção e desta à contemplação. Mas o afastamento das pessoas é sempre e apenas provisório. Assim como acontece na nossa existência, em que se sucedem tempos de retiro e tempos de intensa actividade, também na Igreja vemos contemplativos e activos. O mistério de Cristo, no seu todo, é vivido na Igreja, no conjunto de seus membros e em todos os séculos. O contemplativo serve as pessoas servindo a Deus; o activo serve a Deus servindo as pessoas. Os dois exprimem, especializando-se na imitação de Cristo, um mesmo e único mistério: o da vida religiosa do Verbo encarnado. Assim aconteceu e acontece ainda na história da Igreja. “A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, (…) propõe-se declarar, com maior insistência, aos seus fiéis e ao mundo inteiro, a natureza e a missão universal da Igreja, que em Cristo, é como que o sacramento ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano. As condições deste tempo tornam maior a urgência deste dever da Igreja, a fim de que todos os homens, hoje mais intimamente unidos por toda a espécie de vínculos sociais, técnicos e culturais, alcancem a unidade total em Cristo” (Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 1).

A Palavra se faz Eucaristia
Não existe oposição entre o amor a Deus e o amor à pessoa humana - aliás, Ele é o seu melhor aliado. A assembleia eucarística, convocada pelo amor do Pai, realiza ao mesmo tempo o duplo mandamento: unidos na caridade fraterna nós dirigimo-nos a Deus como filhos(as).
Cristo, vindo também ao nosso meio no memorial do Seu sacrifício que é a Eucaristia, mostra-nos como se pode realizar um inteiro amor ao Pai e uma total doação aos(às) irmãos(ãs).
(in: Missal dominical. Missal da assembleia cristã, Edições Paulinas, São Paulo, 1987, pp. 801-802.806 - adaptadas)
2008-10-24
António Samelo

Depois, o Credo foi rezado assim:
Mercedes Sosa - Credo


No momento de acção de graças, lemos este texto do saudoso D. Hélder Câmara:

Que toda a palavra
nasça
da acção e da meditação.
Sem acção
ou tendência à acção
ela será apenas teoria
que se juntará
ao excesso de teoria
que está levando os jovens
ao desespero.
Se ela é apenas acção
sem meditação
ela acabará no activismo
sem fundamento,
sem conteúdo,
sem força...
Presta honras ao Verbo eterno
servindo-te da palavra
de forma
a recriar o mundo.
(Dom Hélder Câmara, O Deserto é Fértil (Roteiros para as Minorias Abraâmicas), Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira S.A., 1976, p. 109)

Não podia haver momento mais certo para a La-Salete nos anunciar que gostaria de baptizar o João, seu filho e do Alexandre, no seio da nossa Comunidade. A Festa ficou marcada para o próximo dia 7 de Dezembro, em pleno Advento.

Quisemos que o Cântico final fosse este...
Jason Donovan - Any dream will do

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