domingo, junho 19

Credo da Confiança

Creio por isso confio.
Creio num só Deus, num Deus que é amor, por isso confio que a História caminha para o Bem.
Creio que Deus é Pai, por isso confio nos irmãos que vivem ao meu lado, mesmo naqueles de quem deveria desconfiar.
Creio que Jesus de Nazaré é Cristo, que pela Sua vontade habitou entre nós, por isso confio num Deus que tomou a iniciativa de nos amar primeiro.
Creio que Jesus viveu como nós, de maneira totalmente humana, por isso confio que tudo o que é plenamente humano é bom, porque também Deus o experimentou.
Creio que Jesus viveu pregando o bem e a liberdade plena, por isso confio no testemunho de vida.
Creio que Cristo subverteu a ideia de Deus: foi condenado pelos homens do seu tempo e aceitou morrer na cruz, por isso confio que mais vale perdoar do que vingar-se.
Creio que Jesus ressuscitou ao terceiro dia, por isso confio que não estamos condenados ao nada.
Creio que como o vento, o Espírito Santo sopra onde e quando quer, por isso confio que onde menos esperamos podemos encontrar a verdade e o bem.
Creio na Igreja-Povo de Deus, simultaneamente una e diversa, santa e imperfeita, Católica e apostólica, por isso confio que vale a pena participar na comunidade crente.
Creio num só Deus, num Deus que é amor, por isso confio que mais vale amar.

domingo, junho 12

"Dimensão social da fé"

«Fiéis à Verdade, irmãos e irmãs, continuemos a participação na realeza de Cristo, servindo como Ele, Senhor e Mestre, fez e ensinou. Este é o caminho: cristãos no aconchego da intimidade pessoal; cristãos no interior do lar, como esposos, pais e mães e filhos, em "igreja doméstica"; cristãos na rua, como homens e mulheres situados; cristãos na vida em comunidade, no trabalho, nos encontros profissionais e empresariais, no grupo, no sindicato, no divertimento, no lazer, etc.; cristãos na sociedade, ocupando cargos elevados ou prestando serviços humildes; cristãos na partilha da sorte dos irmãos menos favorecidos; cristãos na participação social e política; enfim, cristãos sempre, na presença e glorificação de Deus, Senhor da vida e da história.»

(João Paulo II, Leigos comprometidos na Igreja e no mundo, Disc. na Sé Catedral de Lisboa, 12 de Maio de 1982)

domingo, junho 5

a bondade é mais forte

Há uma espécie de restrição, de fechamento na culpabilidade e no mal. Eu não subestimo de forma nenhuma este problema. Mas aquilo que tenho necessidade de verificar é que, por muito radical que seja o mal, não é tão profundo como a bondade. E se a religião, as religiões, têm um sentido, é precisamente o de libertar o fundo de bondade dos homens, de o procurar onde ele está completamente escondido.
Nós andamos sobrecarregados pelos discursos, pelas polémicas, pelo assalto do virtual; hoje há como que uma zona opaca e existe esta certeza profunda a libertar, a resgatar; a bondade é mais profunda que o mal mais profundo. Não basta sentir isto. É preciso dar-lhe uma linguagem. Para mim, a liturgia não é simplesmente uma acção. É um pensamento. Na liturgia encontra-se uma teologia escondida, discreta, que se resume nesta ideia: “A lei da oração é a lei da fé”.

Pertencemos à civilização que efectivamente matou Deus, isto é, que fez prevalecer o absurdo e o sem-sentido sobre o sentido. Eu penso que há nisso um protesto profundo. O protesto situa-se ainda no pólo negativo: diz não ao não. O movimento do protesto para a atestação passa pela oração. Esta manhã os cânticos, as orações tinham a forma do vocativo: “Oh” no exortativo e na aclamação. Penso que aclamar a bondade é o hino fundamental.
Gosto muito da palavra felicidade. Saúdo-a como um reconhecimento nos três sentidos da palavra: reconheço-a como sendo minha, aprovo-a no outro e tenho gratidão por aquilo que dela conheci, essas pequenas felicidades, entre as quais as da memória para me curar das grandes desgraças do esquecimento. (Paul Ricoeur)