segunda-feira, novembro 23

Cristo Rei

Que poder temos? o que dele fazemos?
Foi este o desafio que a Carminho e o José Pureza nos lançaram... a partilha foi rica e intensa, tendo versado diversos dos poderes com que lidamos: o de liderar equipas e/ou instituições, o de influenciar os poderes institucionais pela via da participação cívica,...
Mas foi com muito agrado que registámos uma das notícias deste fim-de-semana: o encontro de Bento XVI, em Roma, com mulheres e homens da cultura. Escritoras/es e músicas/os, arquitectas/os e poetisas/as, cineastas e pintoras/es, mais próximos ou mais distantes da Igreja, tod@s foram convocados pelo Papa, que usou o seu poder para estabelecer pontes, construindo um diálogo rico e fecundo com um mundo tantas vezes, e de modo especial no último século, malquisto (bastará lembrar o episódio mais recente, vivido em Portugal).

Fica aqui, ainda, uma outra reflexão, descoberta no http://religionline.blogspot.com/
Para a semana lá nos encontraremos para celebrar o primeiro domingo do Advento.
Começaremos, então, a caminhada para o Natal.

Tragam um/a amig@, também.
Uma boa semana para tod@s.

croireTV : Christ, Roi de l'univers - Croire

(Comentário de Jean-Luc Ragonneau, redactor de Croire Aujourd'hui)

sábado, novembro 21

Apocalipse

Retomámos as nossas celebrações há algum tempo.

No passado Domingo o Samelo ensinou-nos que o Apocalipse é o anúncio da esperança para o tempo presente.

Por isso mesmo, e apesar de já ter passado há algum tempo (do tamanho de um grão de mostarda ou talvez menos...), aqui vos deixo três pequenos textos: dois da Cila e do Zé Filipe, outro do Samelo, todos do Casamento que a Cila e o Zé Filipe celebraram tendo o Samelo e mais umas dezenas de Amigos por testemunhas (27.Junho.2009). Porque tratam, cada um à sua maneira, de anunciar a esperança.

"Boas vindas
Queremos agradecer, do fundo do coração, a presença de cada um de vós, aqui hoje.
A escolha do lugar para realizar o nosso casamento, como tivemos a oportunidade de dizer a alguns dos presentes, recaiu sobre esta igreja para facilitar a vossa chegada cá, sobretudo dos que não conhecem Aveiro. No entanto, quando viemos conhecer este espaço, percebemos que nos identificamos bastante com esta igreja, do arquitecto Luís Cunha.
Os bancos estão dispostos em semi-círculo e em anfiteatro, tornando as pessoas mais próximas. No projecto inicial havia apenas a imagem de Nossa Senhora e este Cristo de espelho para que nos possamos rever Nele. A igreja é simples, despojada de ostentação e riqueza, mais próxima da realidade das duas povoações que acolhe. Estamos contentes com a escolha deste lugar, agora descoberto o seu estilo, pós-Concílio Vaticano II. Como o Samelo gosta de lembrar “nada acontece por acaso”.
Vamos ainda explicar brevemente o sentido que demos a esta celebração.
Pois bem, como é evidente, estamos aqui porque somos crentes, porque afirmamos acreditar em Deus, no Deus de Jesus Cristo. Para nós acreditar em Deus é acreditar que a nossa história não é em vão. Isso dá-nos uma responsabilidade especial sobre a nossa própria vida. Como dizia o Jorge de Sena, achamos que devemos viver com uma “fiel dedicação à honra de estar vivo”. Descobrirmos que nos encontros e desencontros das nossas vidas alguma coisa mais preciosa emerge – aquilo a que Jesus chamava o Reino de Deus, já não com um sentido apocalíptico, mas com um sentido libertador. A sua morte e ressurreição mostram-nos qual o Reino de que se fala: viver a vida com sentido até ao fim. Nós temos muitas vezes essa intuição nos momentos mais felizes e por vezes também nos momentos mais tristes: a vida só se ganha se formos capazes de a oferecer aos outros, sabendo que nada é em vão.
Foi assim que aprendemos a olhar para a vida e é assim que queremos continuar a vivê-la a dois. Por isso viemos aqui celebrar o nosso casamento. Esta missa, que preparámos muito ao nosso jeito, será provavelmente a melhor forma de explicação do que queremos dizer e do que queremos viver. E então, celebremos!"

"Homilia*
Antes de passarmos ao rito do matrimónio, gostávamos de vos dizer duas ou três coisas sobre esse momento, sobre o que ele significa para nós, no fundo sobre o que queremos que seja o nosso casamento. E vamos fazê-lo de forma muito simples, exprimindo alguns desejos que têm muito a ver com os textos que acabámos de ouvir.
Primeiro desejo: queremos que o nosso projecto de vida a dois seja um projecto aberto. Aberto à novidade de um Deus que nos surpreende, aberto à solidariedade para com todos, aberto a um projecto muito mais vasto que é o projecto de Deus para a felicidade das pessoas. Como nos diz o poema da Rita: queremos “encher tudo de futuros”, queremos construir possibilidades novas, queremos transformar os nossos sonhos e esperanças em realidade. Queremos que o nosso projecto de vida a dois seja também uma forma modesta de participação no que Jesus chamava o Reino dos Céus.
O texto do Evangelho que escolhemos, conhecido por “Sermão da Montanha”, é talvez um dos textos mais belos da história humana, onde Jesus explica qual é esse Reino que ele anunciava: um reino para os simples e generosos, onde haverá consolo para os que choram, um reino de paz, de verdade e de justiça. Como dizia Umberto Eco, mesmo que Deus não exista, o facto de a humanidade O conceber com um projecto tão maravilhoso de amor e esperança é por si só um motivo de espanto e crença na humanidade. É esse projecto de amor, de esperança e liberdade que queremos viver a dois.
Segundo desejo: queremos que este compromisso seja para nós e para todos um motivo forte de alegria. A alegria não é somente contentarmo-nos com alguma coisa boa momentaneamente. Também não é pintarmos o mundo de cor-de-rosa. A alegria de que falamos não é propriamente um sentimento, mas antes uma forma de encarar a vida, alegre porque cheia de sentido.
A primeira leitura, do livro do Eclesiastes explica um pouco mais o que queremos dizer. “Para tudo há um tempo” – devemos saber viver um dia de cada vez, sabendo que as coisas nem sempre avançam como queremos. “Todas as coisas são boas a seu tempo” – devemos saborear os bons momentos e ser capazes de encontrar sinais de esperança em todos eles. Como dizia o Alçada Baptista, «a vida não é banal não obstante o nosso quotidiano ter sido de uma banalidade atroz. Acredito que é possível descobrir pedaços de luz no meio de tudo isso». A nossa vida a dois tem sido já uma experiência muito feliz de crescimento, dia a dia. Queremos continuar a gozar essa alegria de vivermos e crescermos juntos, de descobrirmos em conjunto a luz do nosso quotidiano, porque isso é muito bom.
Terceiro desejo: queremos que este compromisso não seja só nosso, mas também vosso. A comunidade onde crescemos, onde quotidianamente celebramos a nossa fé, é também aquela que se compromete connosco a acompanhar a nossa vida. Para nós a experiência da fé passa muito pela interpelação a sermos melhores, mais solidários, mais fraternos, mais humanos. Nós não somos donos da verdade e muitas vezes precisamos da ajuda de outros para descortinar os caminhos do Senhor da História. É isso que nos diz o texto da Gaudium et Spes: a Igreja é essencialmente uma comunidade que olha para a história das pessoas, para as alegrias e tristezas das pessoas de hoje e que as ampara na sua procura de uma vida mais cheia de significado. É isso que quer dizer uma Igreja “real e intimamente ligada ao género humano e à sua história”. Foi nesta Igreja que crescemos, nas nossas famílias, no Movimento Católico de Estudantes, na Comunidade João XXIII. É nessa Igreja que queremos continuar a crescer, convosco.
São estes os três desejos que deixamos. Terminamos com uma espécie de poema que resume isto duma maneira um pouco mais espalhafatosa e desarrumada. Então aqui vai:

Queremos festejar o nosso amor!
Queremos uma vida cheia de sentido
Queremos viver a sério a nossa solidariedade
Queremos um coração onde caiba toda a gente
Queremos uma liberdade mais pura e completa
Queremos ser nós mesmos até ao fim
Queremos encontrar sempre coisas novas
Queremos esperar e descobrir o inesperado
Queremos viver como se estivéssemos a dançar
Queremos acreditar profundamente nas pessoas
Queremos embriagar-nos do amor de Deus
Queremos encontrar esperança mesmo no desespero
Queremos descobrir uma presença mais pura em cada pessoa
Queremos viver o “afecto de cada dia nos dai hoje”
Queremos ensinar alguma coisa e aprender muito com os miúdos
Queremos a verdade como peixe quer água
Queremos a justiça sempre
Queremos ser escutados sem fazer barulho
Queremos encontrar motivos porque lutar
Queremos cultivar humanidade."
Cila e Zé Filipe, Junho 2009
* Há umas semanas o Jorge Wemans cravou-nos um texto para a Viragem sobre a nossa vivência em Igreja baseado na nossa preparação para o casamento. A nossa homilia foi escrita posteriormente com base nesse [outro] texto [que irá ser publicado na revista], introduzindo as referências às leituras e tornando a coisa um pouco mais pessoal.


"Matrimónio de Cila e Zé Filipe – Homilia
A fé da pessoa bíblica, iluminada por Deus, reinterpreta os acontecimentos, comum a outros povos, como sinais da aliança. Essa atitude mostra-nos uma característica da “mentalidade sacramental”. Quando Jesus “institui” os sacramentos, não inventa uma realidade semelhante a um meteorito, a uma instituição que “cai dos céus aos trambolhões“ e se impõe à pessoa humana. Trata-se, pelo contrário, de algo que tem as suas raízes na condição humana. É que Deus é, ao mesmo tempo, criador e salvador. Por isso, linguagens, gestos, encontros… dizem-nos claramente que a pessoa humana necessita do que é sensível para conhecer e exprimir-se, necessita de sinais autênticos sem formalismos nem ritualismos, sinais que sejam expressão do “coração” na sua relação com o Senhor Deus, consigo, com os outros, com a natureza e com os acontecimentos.
O que há de mais comum e, simultaneamente, de mais misterioso do que o encontro de dois seres que se amam e se reconhecem e que, no entanto, nunca acabaram de se descobrir? É o quotidiano em toda a sua poesia, riqueza e monotonia; é o quotidiano a tornar-se espelho do infinito.
Desde a primeira página da Bíblia, o encontro da mulher e do homem é visto como um dos espaços em que se desvenda o invisível. O próprio Deus quis inscrever o Seu rosto no casal humano que aparece no sexto dia como o cume da criação.
Cila e Zé Filipe, na vossa vida de casal tornais-vos imagem de Deus, tornais-vos sacramento nos vossos três desejos: projecto aberto, vivido na alegria e apoiado na e pela comunidade(s).
Entre todos os sacramentos, o matrimónio é um daqueles em que aparece claramente que não se pode separar a realidade humana e a realidade sacramental.
No matrimónio, mais do que noutro sacramento, fidelidade e perdão estão sempre ligados. Ambos têm a mesma fonte. Quando um esposo perdoa ao outro, é porque quer permanecer com ele, para que o amanhã seja diferente do ontem. Quando se perdoa vive-se mais alegre e é-se mais humano(a)... e mais divino(a)! Não se trata nem de esquecer o passado, nem de se tornar indiferente, nem de ser ingénuo(a)!...
Perdoar, como Deus perdoa, é amar o bastante para querer continuar a construir o futuro em conjunto; por isso, o casal humano é a realidade no seio da qual se pode compreender melhor toda a riqueza e toda a dificuldade do perdão: aí se revela também o rosto do Deus de Jesus.
Então, nesta envolvência sacramental ousamos cantar:

É grande a Tua piedade,
Se não fosse,
Qualquer homem deixaria de orar.
Mas apostamos no Teu Reino
Mesmo se sofremos. (bis)

Refrão
Seja o Teu Reino um corpo,
O mistério do Teu rosto
E as mãos
De gestos simples de amor
E de invenção.


Temos as mãos no vazio
Nada tocam,
Ainda que as saibamos feitas para lutar;
Mas apostamos no Teu Reino
Queremos lutar. (bis)

Ó Deus da nossa unidade,
Faz-nos fortes
Nossa força é trabalhar a aventura.
Mas apostamos no Teu Reino
Vamos trabalhar. (bis)"
António Samelo