quarta-feira, fevereiro 25
"Igreja deve dar à mulher protagonismo que até agora lhe negou"
No Público de dia 23 de Fevereiro, em entrevista de António Marujo, o biblista, teólogo e antropólogo Carlos Gil Arbiol fala sobre as primeiras comunidades cristãs e São Paulo. Julgo que nos pode ajudar a reflectir sobre algumas das questões que, nos últimos domingos, nos têm interpelado. Podemos lê-la aqui.
Como reconhecer Deus?
"Se Deus lhe aparecesse, dizendo 'aqui estou, sou eu o Deus', como o reconheceria?"
Esta pergunta guia a reflexão de Anselmo Borges no Diário de Notícias do sábado passado (21 de Fevereiro); o Zé, mais uma vez, quis partilhá-lo connosco. Aqui fica:
«Há relativamente pouco tempo, coloquei esta pergunta a um grupo de crentes: "Se Deus lhe aparecesse, dizendo 'aqui estou, sou eu o Deus', como o reconheceria?"
As respostas, no meio de imensa perplexidade, foram muito interessantes. Que Deus não pode aparecer directamente. Que ninguém, como diz a Bíblia, pode ver Deus. Que Deus é inobjectivável. Que se manifesta indirectamente: nas pessoas, nos acontecimentos, no esplendor da beleza - aqui, recordei a exclamação de uma sobrinha minha com 11 anos, nos Alpes, numa tarde irradiante de Sol sobre a neve e as montanhas todas à volta: "Parece Deus!" Que, para os cristãos, Jesus é a revelação de Deus. Que a experiência de Deus se dá nas experiências-cume de plenitude. Que lhe pediriam um milagre claro, que se visse e o credenciasse. Ele devia manifestar o seu poder.
Quando se fala de Deus, a questão nuclear é saber de que Deus é que se fala. Que se quer dizer quando se diz Deus?
O mais comum é associar Deus ao poder. Deus deve ser, antes de mais, a omnipotência. Deus deve ser infinitamente bom e poderoso, mas sobretudo poderoso. No entanto, a mística Simone Weil, cujo centenário do nascimento se celebra este ano, preveniu: "A Verdade essencial é que Deus é o Bem. Ele só é a omnipotência por acréscimo." Por isso, "é falsa toda a concepção de Deus incompatível com um movimento de caridade pura". Afinal, a revelação de Cristo é essa: Deus é puro amor. O escândalo: "Eu não vim para ser servido, mas para servir."
Não se nega a omnipotência divina. O Poder de Deus, porém, não é Dominação e Espectáculo, mas Força infinita criadora. O Deus de Jesus é o Deus- amor, o Deus-origem-infinita-pessoal-criadora.
A modernidade, pela secularização, quis herdar a omnipotência divina, postergando a bondade. A crise que está aí hoje visível no universo económico-financeiro é mais funda, pois é uma crise de civilização, cuja raiz é esta herança religiosa.
Neste contexto, referindo-se à Igreja, o teólogo X. Pikaza recria de modo alegórico o passo evangélico da cura da sogra de Pedro. Na alegoria, a sogra de Pedro é a Cúria Romana. Jesus chega e cura-a. E depois, alegoricamente?
A Cúria (sogra), que significa casa, corte do Kyrios ou Senhor, estava doente. A casa de Pedro é o Vaticano, um Estado, e quem manda é a Cúria, como ainda recentemente se mostrou no caso dos lefebreveanos. Não protege o Papa, mas impõe-se a ele. Ela "sofre de inércia, de poder".
Jesus cura a Cúria para que, como a sogra de Pedro, se ponha a servir os outros. Que consequências teria a cura da Cúria Romana, que funciona há dez séculos enquanto os Pedros (Papas) vão mudando?
Como Jesus, que, segundo o Evangelho, cura as pessoas diante da casa de Pedro, a Cúria curada veria gente que viria para curar-se. Sobretudo gente mais pobre e perdida (os "endemoninhados", os doentes). Agora também lá vão muitos, mas "vão curar-se ou em busca de prebendas?"
Ainda segundo o Evangelho, Jesus saiu de noite, para rezar e ir ao encontro das pessoas também noutros lugares. Na alegoria, Jesus parte porque não quer ficar fechado na casa de Pedro. Jesus não tem "Cúria". Também Pedro e os funcionários da Cúria têm de sair da sua casa, da Cúria, para ir à procura de Jesus, conhecer o mundo e cuidar dele.
A Igreja está em crise e precisa de conversão. Neste sentido, há 15 dias, a propósito da "falta de vocações", o director do DN, num texto subordinado ao título "Os erros da Igreja", exemplificados nos escândalos dos padres pedófilos, a intransigência quanto aos métodos de planeamento familiar, "declarações absolutamente estúpidas" como as do bispo Williamson a negar o Holocausto, alguns investimentos dúbios no plano dos negócios, escrevia que o resultado é que "a religião vai desconfiando dos seus missionários e o ambiente não aconselha a 'vocação'".
E João Marcelino concluía: "Um dia pagaremos bem caro a crescente desagregação desse factor de união ocidental, bem patente sobretudo na Igreja Católica mas que também afecta todo os ramos do cristianismo."
Esta pergunta guia a reflexão de Anselmo Borges no Diário de Notícias do sábado passado (21 de Fevereiro); o Zé, mais uma vez, quis partilhá-lo connosco. Aqui fica:
«Há relativamente pouco tempo, coloquei esta pergunta a um grupo de crentes: "Se Deus lhe aparecesse, dizendo 'aqui estou, sou eu o Deus', como o reconheceria?"
As respostas, no meio de imensa perplexidade, foram muito interessantes. Que Deus não pode aparecer directamente. Que ninguém, como diz a Bíblia, pode ver Deus. Que Deus é inobjectivável. Que se manifesta indirectamente: nas pessoas, nos acontecimentos, no esplendor da beleza - aqui, recordei a exclamação de uma sobrinha minha com 11 anos, nos Alpes, numa tarde irradiante de Sol sobre a neve e as montanhas todas à volta: "Parece Deus!" Que, para os cristãos, Jesus é a revelação de Deus. Que a experiência de Deus se dá nas experiências-cume de plenitude. Que lhe pediriam um milagre claro, que se visse e o credenciasse. Ele devia manifestar o seu poder.
Quando se fala de Deus, a questão nuclear é saber de que Deus é que se fala. Que se quer dizer quando se diz Deus?
O mais comum é associar Deus ao poder. Deus deve ser, antes de mais, a omnipotência. Deus deve ser infinitamente bom e poderoso, mas sobretudo poderoso. No entanto, a mística Simone Weil, cujo centenário do nascimento se celebra este ano, preveniu: "A Verdade essencial é que Deus é o Bem. Ele só é a omnipotência por acréscimo." Por isso, "é falsa toda a concepção de Deus incompatível com um movimento de caridade pura". Afinal, a revelação de Cristo é essa: Deus é puro amor. O escândalo: "Eu não vim para ser servido, mas para servir."
Não se nega a omnipotência divina. O Poder de Deus, porém, não é Dominação e Espectáculo, mas Força infinita criadora. O Deus de Jesus é o Deus- amor, o Deus-origem-infinita-pessoal-criadora.
A modernidade, pela secularização, quis herdar a omnipotência divina, postergando a bondade. A crise que está aí hoje visível no universo económico-financeiro é mais funda, pois é uma crise de civilização, cuja raiz é esta herança religiosa.
Neste contexto, referindo-se à Igreja, o teólogo X. Pikaza recria de modo alegórico o passo evangélico da cura da sogra de Pedro. Na alegoria, a sogra de Pedro é a Cúria Romana. Jesus chega e cura-a. E depois, alegoricamente?
A Cúria (sogra), que significa casa, corte do Kyrios ou Senhor, estava doente. A casa de Pedro é o Vaticano, um Estado, e quem manda é a Cúria, como ainda recentemente se mostrou no caso dos lefebreveanos. Não protege o Papa, mas impõe-se a ele. Ela "sofre de inércia, de poder".
Jesus cura a Cúria para que, como a sogra de Pedro, se ponha a servir os outros. Que consequências teria a cura da Cúria Romana, que funciona há dez séculos enquanto os Pedros (Papas) vão mudando?
Como Jesus, que, segundo o Evangelho, cura as pessoas diante da casa de Pedro, a Cúria curada veria gente que viria para curar-se. Sobretudo gente mais pobre e perdida (os "endemoninhados", os doentes). Agora também lá vão muitos, mas "vão curar-se ou em busca de prebendas?"
Ainda segundo o Evangelho, Jesus saiu de noite, para rezar e ir ao encontro das pessoas também noutros lugares. Na alegoria, Jesus parte porque não quer ficar fechado na casa de Pedro. Jesus não tem "Cúria". Também Pedro e os funcionários da Cúria têm de sair da sua casa, da Cúria, para ir à procura de Jesus, conhecer o mundo e cuidar dele.
A Igreja está em crise e precisa de conversão. Neste sentido, há 15 dias, a propósito da "falta de vocações", o director do DN, num texto subordinado ao título "Os erros da Igreja", exemplificados nos escândalos dos padres pedófilos, a intransigência quanto aos métodos de planeamento familiar, "declarações absolutamente estúpidas" como as do bispo Williamson a negar o Holocausto, alguns investimentos dúbios no plano dos negócios, escrevia que o resultado é que "a religião vai desconfiando dos seus missionários e o ambiente não aconselha a 'vocação'".
E João Marcelino concluía: "Um dia pagaremos bem caro a crescente desagregação desse factor de união ocidental, bem patente sobretudo na Igreja Católica mas que também afecta todo os ramos do cristianismo."
Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia
Padre e professor de Filosofia
domingo, fevereiro 15
"Se quiseres podes curar-me!"
«"Se quiseres, podes curar-me". Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: "Quero: fica limpo".» Este contraponto que Jesus oferece em relação ao Antigo Testamento («O leproso com a doença declarada usará vestuário andrajoso e o cabelo em desalinho, cobrirá o rosto até ao bigode e gritará: ‘Impuro, impuro!’. Todo o tempo que lhe durar a lepra, deve considerar-se impuro e, sendo impuro, deverá morar à parte, fora do acampamento», Livro do Levítico) levou o José Vieira a trazer-nos esta reflexão sobre como
«Romper com o fatalismo
Incapazes de explicar os fenómenos e as suas causas os humanos primitivos encontraram no Universo dos Deuses e dos heróis míticos a resposta para as suas angústias e problemas . Incapazes de encontrar uma causalidade natural explicativa da vida, socorreram-se duma causalidade sobrenatural.
Não deixa de ser significativo que os gregos só tenham conseguido criar a democracia a partir do momento que descobriram que a ordem social não era ditada pelos deuses, mas construída pelos homens; quando vislumbraram a possibilidade de construir uma sociedade cujo destino não estivesse fora dela, mas nas mãos de todos os que dela participavam.
Só quando uma dada sociedade, como foi o caso da sociedade grega, começa a entender que é ela própria que constrói a essa ordem social, essa ordem desejada, é que ela tem condições para superar o fatalismo e o determinismo rígido.
O fatalismo pode ser definido como uma doutrina segundo a qual tudo o que acontece é inevitável. Em tal contexto, deliberação e acção não farão então muito sentido, pois o futuro já está previamente decidido. Para o fatalista o futuro é como o passado: um facto consumado e inalterável. Podemos ilustrar esta mentalidade com um exemplo. Não adianta chamar o médico no caso de uma pessoa ficar doente, pois se ela o chamar e já estiver determinado que ela não irá recuperar a saúde, ela não se restabelecerá; e se ela não chamar e já estiver determinado que ela irá recobrar a saúde, ela recuperará seguramente..
Ora, todos nós sabemos que é fácil refutar o fatalismo. Todos conhecemos casos de pessoas doentes que procuram o médico e sabemos que elas têm muito mais possibilidades de obterem melhoras do que quando não o fazem. Sabemos então, pela nossa experiência, que as nossas decisões, deliberações ou acções podem mudar efectivamente o futuro.
O fatalismo é geralmente associado às teorias filosóficas deterministas segundo as quais o futuro já se encontra previamente determinado pelo entrelaçado de cadeias causais geradas pelos estados de coisas actuais e pelas leis do universo. Mas tais conclusões são erradas e qualquer de nós tem relutância em aceitar ser apenas uma marionette ou um brinquedo nas mãos do destino ou dos deuses.
Creio que esta mentalidade fatalista ou anti-fatalista tem deixado na história humana marcas muito significativas. Porque o destino está traçado e não adiante lutar contra ele tivemos momentos históricos de grande estagnação. Por outro lado, foi a crença de que os homens e mulheres são fazedores do seu destino que nos brindou certamente com algumas das mais bonitas páginas da história que nos mostram toda a nossa capacidade criativa, lutadora, verdadeiramente emancipadora.
No nosso tempo, em muitas situações , o fatalismo e a falta de esperança, são estados de espírito verdadeiramente irónicos e cínicos. É por causa desse fatalismo e dessa falta de esperança que algumas vezes podemos ser levados a aceitar viver ou conviver com situações que condenamos.
Creio que o único antídoto possível é o apelo a um renovado compromisso, e a novos comportamentos tradutores dos mais fundos valores éticos das pessoas. A única saída é então mostrar e conseguir que as pessoas vejam que existem situações com as quais não podemos conviver, ou em relação às quais não devemos sequer ser tolerantes. Claro que todos sabemos que é mais fácil ficar na tranquilidade do nosso cantinho. Mas está na hora de rompermos com o fatalismo trivial do não há nada a fazer porque tem de ser assim porque sempre foi assim. A História ensina-nos precisamente que só é digno de figurar nela quem foi capaz de acreditar que a condição humana é reinvenção permanente e que homens e mulheres nascem criadores. E não foi esse afinal o exemplo do Mestre?»
«Romper com o fatalismo
Incapazes de explicar os fenómenos e as suas causas os humanos primitivos encontraram no Universo dos Deuses e dos heróis míticos a resposta para as suas angústias e problemas . Incapazes de encontrar uma causalidade natural explicativa da vida, socorreram-se duma causalidade sobrenatural.
Não deixa de ser significativo que os gregos só tenham conseguido criar a democracia a partir do momento que descobriram que a ordem social não era ditada pelos deuses, mas construída pelos homens; quando vislumbraram a possibilidade de construir uma sociedade cujo destino não estivesse fora dela, mas nas mãos de todos os que dela participavam.
Só quando uma dada sociedade, como foi o caso da sociedade grega, começa a entender que é ela própria que constrói a essa ordem social, essa ordem desejada, é que ela tem condições para superar o fatalismo e o determinismo rígido.
O fatalismo pode ser definido como uma doutrina segundo a qual tudo o que acontece é inevitável. Em tal contexto, deliberação e acção não farão então muito sentido, pois o futuro já está previamente decidido. Para o fatalista o futuro é como o passado: um facto consumado e inalterável. Podemos ilustrar esta mentalidade com um exemplo. Não adianta chamar o médico no caso de uma pessoa ficar doente, pois se ela o chamar e já estiver determinado que ela não irá recuperar a saúde, ela não se restabelecerá; e se ela não chamar e já estiver determinado que ela irá recobrar a saúde, ela recuperará seguramente..
Ora, todos nós sabemos que é fácil refutar o fatalismo. Todos conhecemos casos de pessoas doentes que procuram o médico e sabemos que elas têm muito mais possibilidades de obterem melhoras do que quando não o fazem. Sabemos então, pela nossa experiência, que as nossas decisões, deliberações ou acções podem mudar efectivamente o futuro.
O fatalismo é geralmente associado às teorias filosóficas deterministas segundo as quais o futuro já se encontra previamente determinado pelo entrelaçado de cadeias causais geradas pelos estados de coisas actuais e pelas leis do universo. Mas tais conclusões são erradas e qualquer de nós tem relutância em aceitar ser apenas uma marionette ou um brinquedo nas mãos do destino ou dos deuses.
Creio que esta mentalidade fatalista ou anti-fatalista tem deixado na história humana marcas muito significativas. Porque o destino está traçado e não adiante lutar contra ele tivemos momentos históricos de grande estagnação. Por outro lado, foi a crença de que os homens e mulheres são fazedores do seu destino que nos brindou certamente com algumas das mais bonitas páginas da história que nos mostram toda a nossa capacidade criativa, lutadora, verdadeiramente emancipadora.
No nosso tempo, em muitas situações , o fatalismo e a falta de esperança, são estados de espírito verdadeiramente irónicos e cínicos. É por causa desse fatalismo e dessa falta de esperança que algumas vezes podemos ser levados a aceitar viver ou conviver com situações que condenamos.
Creio que o único antídoto possível é o apelo a um renovado compromisso, e a novos comportamentos tradutores dos mais fundos valores éticos das pessoas. A única saída é então mostrar e conseguir que as pessoas vejam que existem situações com as quais não podemos conviver, ou em relação às quais não devemos sequer ser tolerantes. Claro que todos sabemos que é mais fácil ficar na tranquilidade do nosso cantinho. Mas está na hora de rompermos com o fatalismo trivial do não há nada a fazer porque tem de ser assim porque sempre foi assim. A História ensina-nos precisamente que só é digno de figurar nela quem foi capaz de acreditar que a condição humana é reinvenção permanente e que homens e mulheres nascem criadores. E não foi esse afinal o exemplo do Mestre?»
José Vieira Lourenço
segunda-feira, fevereiro 9
D. Hélder Câmara: quando o deserto é fértil
Roubei este título e o texto que se segue (com uma ligeiríssima alteração no primeiro parágrafo) ao António Marujo, que o publicou no blog onde colabora:
«Dom Hélder nasceu há 100 anos, completados este sábado – e morreu em 1999, fará em Agosto 10 anos. Na TSF, está um registo do espectáculo da Missa dos Quilombos, feito em 1993 e reproduzido de novo este sábado, onde Dom Hélder faz a invocação a Maria. Quem quiser ver imagens do espectáculo, pode ir já aqui abaixo. A seguir, em jeito de homenagem e memória, fica o texto publicado no Janus 2007.
O pai – o de sangue – era jornalista, empregado de comércio. A mãe era professora primária. Décimo primeiro de treze filhos (só oito sobreviveram), Hélder Câmara ainda terá ouvido o pai, mação, perguntar-lhe: “Meu filho, você sabe o que é ser padre? Padre e egoísmo nunca podem andar juntos. O padre tem que se gastar, se deixar devorar.” Ordenado em 1931, em Fortaleza, seria nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro em 1952, aos 43 anos de idade. Doze anos depois, em Março de 1964, foi transferido para a sé de Olinda e Recife, onde esteve até resignar, em 1985. Morreu com 90 anos.
Nos primeiros anos de sacerdócio ainda adopta ideias integralistas. Mas cedo evolui. No Rio de Janeiro, cria a Cruzada de São Sebastião e o Banco da Providência, para apoio a habitantes das favelas e a famílias pobres. Na mesma altura, é um dos impulsionadores da colegialidade e da colaboração episcopal, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (onde foi o primeiro secretário-geral, entre 1952 e 1964) – e no Conselho Episcopal Latino-Americano.
Quando é nomeado para arcebispo de Olinda e Recife, o Brasil já vive em plena “ditadura dos coronéis”. Alarga a sua acção à defesa dos direitos humanos e da liberdade política, ao mesmo tempo que contesta a grande concentração da riqueza brasileira (e mundial) nas mãos de poucas famílias. Um dos seus últimos actos públicos seria mesmo o lançamento, com a Fundação Joaquim Nabuco, da campanha Ano 2000 Sem Miséria. A fome, a miséria e a guerra eram os seus grandes inimigos: seria uma vergonha o mundo chegar ao ano 2000 com milhões a viver presos dessas realidades.
Eram essas atitudes e opiniões que o catalogavam, em muitos meios, como o “bispo vermelho” ou “comunista”. O próprio brinca com as acusações e repete a frase antes citada. Nos anos de chumbo do Brasil, sofre retaliações, os militares assassinam-lhe o secretário, fica sem acesso aos meios de comunicação. Obstáculos que ele ultrapassa falando, no estrangeiro, da realidade do Brasil – e do mundo, nunca esquecido. A importância de toda essa actividade – a que se juntam mais de duas dezenas de livros publicados e traduzidos em várias línguas – leva a que lhe sejam atribuídas mais de seiscentas condecorações e títulos honorários, vinte e cinco prémios da paz e dos direitos humanos. Proposto para Nobel da Paz, a ditadura militar conseguiu obstar a que o galardão lhe fosse dado.
Nas suas andanças pelo mundo, faz muitas perguntas: Que fazer perante a miséria do mundo? Como lutar quando 20 por cento da humanidade concentra 80 por cento da riqueza? Como criar alternativas não-violentas quando os países mais poderosos gastam em armamento o que serviria para erradicar do planeta a doença e a fome? E as respostas vinham num sentido: lutar contra a resignação, denunciar injustiças, ser solidário, adoptar um estilo de vida sóbrio e que não afronte quem nada tem.
Um abrigo para refugiados
A coerência da sua vida foi até ao ponto de deixar o palácio episcopal, substituindo-o por uma pequena casa onde todos podiam entrar. Nela se refugiavam perseguidos políticos e pobres. Organizou a Operação Esperança, que permitiu a criação de conselhos de moradores para resolver os problemas das populações ribeirinhas afectadas por problemas de cheias periódicas.
No Concílio Vaticano II (1962-65), a acção de Hélder Câmara, juntamente com outros bispos e cardeais, acaba por ser decisiva na recusa dos esquemas e organização preparados pela Cúria Romana e na adopção de um modelo de debate colegial. Vigoroso adepto da teologia da libertação, acabaria imerecidamente castigado por João Paulo II: ao contrário do que muitas pessoas pediam, nunca foi feito cardeal; pior ainda, o seu sucessor na diocese de Olinda e Recife acabou com todas as vertentes de acção social na formação do clero.
Após o concílio, Dom Hélder envolve-se em três projectos de natureza bem diversa: pede ao padre e compositor suíço Pierre Kaelin que componha um oratório sobre São Francisco de Assis. Nasce a “Sinfonia dos Dois Mundos”, em seis andamentos. No último, “tudo termina na esperança”, descreverá Dom Hélder. “Quanto mais sombria é a noite, mais bela é a aurora que ela carrega no seio.” Depois, encontra-se com o bailarino Maurice Béjart e este cria, a partir das sugestões do bispo, a “Missa para o Tempo Futuro”. Finalmente, na “Missa dos Quilombos”, Milton Nascimento coloca-o a declamar um longo poema à Virgem.
Num dos seus textos sobre a paz, escreve Dom Hélder em Abril de 1980: “Preciso levar aos homens o ramo de oliveira que o Senhor Deus me confiou!/ Por enquanto não há lugar nenhum onde pousar: (…) Voarei a qualquer preço... Enquanto eu não cair de cansaço. (…) voarei, voarei, voarei...” ».
Na nossa Celebração começámos por ser acolhidos pelo cântico de Milton Nascimento
Milton Nascimento - A de O (Estamos chegando)
No momento da partilha, lemos dois textos: o primeiro, escrito por D. Hélder e Abbé Pierre em 18/08/96 (por ocasião dos 65 anos de sacerdócio do Bispo de Olinda e Recife e da inauguração da Comunidade Emaús), construído como um Apelo, é dirigido aos Jovens, aos Políticos e à Igreja, os três destinatários habituais das comunicações de D. Hélder. O segundo, escrito apenas por D. Hélder, é uma pequena oração/desafio. Foram ambos retirados de http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=69193&seccaoid=9&tipoid=161 (último acesso em 8/02/09).
«No dia 07 de Fevereiro de 1909 nasceu em Fortaleza-CE aquele que, em 1952, se tornou um dos Bispos de maior destaque e prestígio no Brasil e no mundo, Hélder Pessoa Câmara, que faleceu com 90 anos de vida e 68 de sacerdócio a serviço dos Direitos Humanos, da Justiça e da Paz. Três públicos-alvo de Dom Hélder foram os Jovens, os políticos e a Igreja; por isso, julgamos oportuno publicar este texto escrito em parceria com Abbé Pierre em 18/08/96.
Apelo aos Humanos
"Por motivo dos 65 anos de sacerdócio de um de nós e da inauguração da Comunidade Emaús, reunimo-nos durante uma semana no Recife. Mais uma vez juntos, para dar graças a Deus e para servir aos pobres.
Partilhámos momentos muito fortes. Cansativos, mas enriquecedores no plano pessoal, humano e espiritual.
Considerando a nossa idade e a responsabilidade que temos pela confiança depositada em nós por uma multidão de pobres no mundo, antes de nos separarmos fisicamente, ousamos lançar este apelo a todos os humanos.
AOS JOVENS
Vocês são a esperança do amanhã. O terceiro milénio é vosso. Há ainda muita miséria no mundo. É preciso que vocês trabalhem sem cessar, em favor da partilha e não da competitividade, seja esta a regra das vossas vidas. Sem partilha (partilha dos bens, das riquezas, do trabalho, do tempo livre, do saber, do saber fazer) não haverá justiça nem felicidade para todos. E, sobretudo os mais fracos, os mais pobres, os menos dotados sofrerão mais. Empenhem-se vocês que são jovens! Trabalhem sem cessar! Sejam competentes na vossa profissão... Lavrador ou motorista, advogado ou médico, vocês serão ouvidos somente se forem considerados competentes. Mas não esqueçam a regra de toda paz, de toda justiça, de toda solidariedade: servir e fazer que sejam servidos, primeiro e em todo lugar, os mais pobres...
AOS POLÍTICOS
A mundialização é a realidade de hoje. O mundo tornou-se uma "pequena aldeia global" onde somos condenados a conhecer tudo, onde o que acontece num canto do mundo tem consequências em todo canto. Mas em lugar de facilitar o encontro entre as pessoas por maior justiça para todos, a mundialização, até o momento, tem aumentado a divisão, cria novos conflitos e a miséria instala-se em toda parte, inclusive nos países ricos e industrializados. Ricos sempre mais ricos, pobres sempre mais miseráveis.
Isso não pode continuar. Não é justo! Não é humano!
Ajudem a organizar o mundo de forma diferente. Na partilha e não na competitividade. Na solidariedade, não na busca incessante de interesse de uma minoria de privilegiados.
Lembrem-se: a beleza de uma cidade não está na beleza dos seus teatros, na grandeza dos seus estádios, dos seus jardins, dos seus monumentos, no esplendor da sua catedral... A beleza de uma cidade realiza-se quando todos têm uma casa digna de ser habitada por pessoas humanas, quando há água potável para todos, a saúde garantida para todos, a possibilidade de frequentar a escola para todos, a possibilidade do lazer para todos, para que o desabrochar da dignidade de cada um possa tornar-se uma realidade viva e completa.
Não fiquem fechados nos vossos confortáveis escritórios ou nas mansões das vossas cidades... visitem as pessoas onde elas estão, onde vivem, onde sofrem, nas favelas, nos bairros populares da América Latina, na África e na Ásia.
À IGREJA
O terceiro milénio aproxima-se. A encarnação do Filho de Deus aconteceu há 2000 anos. Há ainda demasiada miséria no mundo, num mundo de riquezas! E, o que é grave e insuportável, é o facto de que a minoria dos privilegiados, os mais ricos, são, pelo menos na sua origem, cristãos.
O que fizemos com a mensagem de Cristo? De que maneira a multidão dos pobres, dos excluídos, dos marginalizados, dos sem-casa, dos sem-terra, dos sem-nada, pode acreditar que o Criador é o Pai que os ama, se nós, que nos dizemos cristãos, que temos mais, continuamos a deixar o prato deles vazio, embora declarando-nos a favor da Paz e do Amor?
Não sejamos somente crentes... Sejamos ACREDITÁVEIS!
Assim o mundo será como uma Hóstia voltada para o Senhor, uma imensa Hóstia de acção de graças a Deus, na felicidade de todos os Humanos. Porque a felicidade dos Homens é a Glória de Deus.
Nós vivemos mais que 80 anos... Ainda há muito que fazer para pôr ordem no mundo. Com as poucas forças que ainda nos restam, continuamos o nosso combate à miséria, em todo lugar onde for possível: que seja junto com todos vocês!"
MISSÃO É PARTIR
"Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu.
É parar de dar volta ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida.
É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior.
Missão é sempre partir, mas não devorar quilómetros.
É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los.
E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até os confins do mundo."
D. Hélder Câmara
À Comunhão cantámos
Milton Nascimento - Ofertorio
Como Acção de Graças, rezámos este belíssimo poema de D. Hélder (O Deserto é Fértil, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira S.A., 1976, p. 109)
Que toda palavra
nasça
da ação e da meditação.
Sem ação
ou tendência à ação
ela será apenas teoria
que se juntará
ao excesso de teoria
que está levando os jovens
ao desespero.
Se ela é apenas ação
sem meditação
ela acabará no ativismo
sem fundamento,
sem conteúdo,
sem força...
Presta honras ao Verbo eterno
servindo-te da palavra
de forma
a recriar o mundo.
No final, ouvimos a Invocação a Mariama, poderosa prece rezada no final da Missa dos Quilombos por D. Hélder.
«Dom Hélder nasceu há 100 anos, completados este sábado – e morreu em 1999, fará em Agosto 10 anos. Na TSF, está um registo do espectáculo da Missa dos Quilombos, feito em 1993 e reproduzido de novo este sábado, onde Dom Hélder faz a invocação a Maria. Quem quiser ver imagens do espectáculo, pode ir já aqui abaixo. A seguir, em jeito de homenagem e memória, fica o texto publicado no Janus 2007.
A sua utopia de um mundo mais justo e solidário ficou expressa no título de um dos seus livros: O deserto é fértil. Hélder Pessoa Câmara (Fortaleza, 7 de Fevereiro de 1909 – Recife, 27 de Agosto de 1999) foi a figura mais carismática do episcopado brasileiro do século XX. Arcebispo do Recife, a sua opção em favor dos mais pobres e do desenvolvimento fez florir muitos desertos em todo o mundo.
Corpo franzino e frágil, a sotaina de cor creme agigantava-se com o seu gesto largo abarcando o horizonte, discurso feito de braços dançantes, mãos abertas, olhos brilhantes. Quem alguma vez o escutou ao vivo pôde sentir a profunda convicção de cada palavra. Citava as estatísticas do subdesenvolvimento, colocava nomes e rostos concretos em histórias de miséria, apelava a não desanimar perante nenhuma dificuldade, bradava pela certeza de um mundo com mais esperança para todos.
Ia buscar à fé cristã os fundamentos para esse agir: “Quando dou comida aos pobres chamam-me de santo. Quando pergunto por que eles são pobres chamam-me de comunista.” “Sempre que procura defender os sem-vez e sem-voz, a Igreja é acusada de fazer política.” Uma das suas histórias conhecidas é de um telefonema para uma esquadra de polícia, quando um homem estava sendo espancado – vivia-se o tempo da ditadura militar no Brasil: “Aqui é Dom Hélder. Está preso aí o meu irmão.” O agente espanta-se: “Seu irmão, eminência?” Resposta pronta: “É, apesar da diferença de nomes, somos filhos do mesmo Pai.”
“O padre tem que se gastar”Corpo franzino e frágil, a sotaina de cor creme agigantava-se com o seu gesto largo abarcando o horizonte, discurso feito de braços dançantes, mãos abertas, olhos brilhantes. Quem alguma vez o escutou ao vivo pôde sentir a profunda convicção de cada palavra. Citava as estatísticas do subdesenvolvimento, colocava nomes e rostos concretos em histórias de miséria, apelava a não desanimar perante nenhuma dificuldade, bradava pela certeza de um mundo com mais esperança para todos.
Ia buscar à fé cristã os fundamentos para esse agir: “Quando dou comida aos pobres chamam-me de santo. Quando pergunto por que eles são pobres chamam-me de comunista.” “Sempre que procura defender os sem-vez e sem-voz, a Igreja é acusada de fazer política.” Uma das suas histórias conhecidas é de um telefonema para uma esquadra de polícia, quando um homem estava sendo espancado – vivia-se o tempo da ditadura militar no Brasil: “Aqui é Dom Hélder. Está preso aí o meu irmão.” O agente espanta-se: “Seu irmão, eminência?” Resposta pronta: “É, apesar da diferença de nomes, somos filhos do mesmo Pai.”
O pai – o de sangue – era jornalista, empregado de comércio. A mãe era professora primária. Décimo primeiro de treze filhos (só oito sobreviveram), Hélder Câmara ainda terá ouvido o pai, mação, perguntar-lhe: “Meu filho, você sabe o que é ser padre? Padre e egoísmo nunca podem andar juntos. O padre tem que se gastar, se deixar devorar.” Ordenado em 1931, em Fortaleza, seria nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro em 1952, aos 43 anos de idade. Doze anos depois, em Março de 1964, foi transferido para a sé de Olinda e Recife, onde esteve até resignar, em 1985. Morreu com 90 anos.
Nos primeiros anos de sacerdócio ainda adopta ideias integralistas. Mas cedo evolui. No Rio de Janeiro, cria a Cruzada de São Sebastião e o Banco da Providência, para apoio a habitantes das favelas e a famílias pobres. Na mesma altura, é um dos impulsionadores da colegialidade e da colaboração episcopal, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (onde foi o primeiro secretário-geral, entre 1952 e 1964) – e no Conselho Episcopal Latino-Americano.
Quando é nomeado para arcebispo de Olinda e Recife, o Brasil já vive em plena “ditadura dos coronéis”. Alarga a sua acção à defesa dos direitos humanos e da liberdade política, ao mesmo tempo que contesta a grande concentração da riqueza brasileira (e mundial) nas mãos de poucas famílias. Um dos seus últimos actos públicos seria mesmo o lançamento, com a Fundação Joaquim Nabuco, da campanha Ano 2000 Sem Miséria. A fome, a miséria e a guerra eram os seus grandes inimigos: seria uma vergonha o mundo chegar ao ano 2000 com milhões a viver presos dessas realidades.
Eram essas atitudes e opiniões que o catalogavam, em muitos meios, como o “bispo vermelho” ou “comunista”. O próprio brinca com as acusações e repete a frase antes citada. Nos anos de chumbo do Brasil, sofre retaliações, os militares assassinam-lhe o secretário, fica sem acesso aos meios de comunicação. Obstáculos que ele ultrapassa falando, no estrangeiro, da realidade do Brasil – e do mundo, nunca esquecido. A importância de toda essa actividade – a que se juntam mais de duas dezenas de livros publicados e traduzidos em várias línguas – leva a que lhe sejam atribuídas mais de seiscentas condecorações e títulos honorários, vinte e cinco prémios da paz e dos direitos humanos. Proposto para Nobel da Paz, a ditadura militar conseguiu obstar a que o galardão lhe fosse dado.
Nas suas andanças pelo mundo, faz muitas perguntas: Que fazer perante a miséria do mundo? Como lutar quando 20 por cento da humanidade concentra 80 por cento da riqueza? Como criar alternativas não-violentas quando os países mais poderosos gastam em armamento o que serviria para erradicar do planeta a doença e a fome? E as respostas vinham num sentido: lutar contra a resignação, denunciar injustiças, ser solidário, adoptar um estilo de vida sóbrio e que não afronte quem nada tem.
Um abrigo para refugiados
A coerência da sua vida foi até ao ponto de deixar o palácio episcopal, substituindo-o por uma pequena casa onde todos podiam entrar. Nela se refugiavam perseguidos políticos e pobres. Organizou a Operação Esperança, que permitiu a criação de conselhos de moradores para resolver os problemas das populações ribeirinhas afectadas por problemas de cheias periódicas.
No Concílio Vaticano II (1962-65), a acção de Hélder Câmara, juntamente com outros bispos e cardeais, acaba por ser decisiva na recusa dos esquemas e organização preparados pela Cúria Romana e na adopção de um modelo de debate colegial. Vigoroso adepto da teologia da libertação, acabaria imerecidamente castigado por João Paulo II: ao contrário do que muitas pessoas pediam, nunca foi feito cardeal; pior ainda, o seu sucessor na diocese de Olinda e Recife acabou com todas as vertentes de acção social na formação do clero.
Após o concílio, Dom Hélder envolve-se em três projectos de natureza bem diversa: pede ao padre e compositor suíço Pierre Kaelin que componha um oratório sobre São Francisco de Assis. Nasce a “Sinfonia dos Dois Mundos”, em seis andamentos. No último, “tudo termina na esperança”, descreverá Dom Hélder. “Quanto mais sombria é a noite, mais bela é a aurora que ela carrega no seio.” Depois, encontra-se com o bailarino Maurice Béjart e este cria, a partir das sugestões do bispo, a “Missa para o Tempo Futuro”. Finalmente, na “Missa dos Quilombos”, Milton Nascimento coloca-o a declamar um longo poema à Virgem.
Num dos seus textos sobre a paz, escreve Dom Hélder em Abril de 1980: “Preciso levar aos homens o ramo de oliveira que o Senhor Deus me confiou!/ Por enquanto não há lugar nenhum onde pousar: (…) Voarei a qualquer preço... Enquanto eu não cair de cansaço. (…) voarei, voarei, voarei...” ».
Na nossa Celebração começámos por ser acolhidos pelo cântico de Milton Nascimento
Milton Nascimento - A de O (Estamos chegando)
No momento da partilha, lemos dois textos: o primeiro, escrito por D. Hélder e Abbé Pierre em 18/08/96 (por ocasião dos 65 anos de sacerdócio do Bispo de Olinda e Recife e da inauguração da Comunidade Emaús), construído como um Apelo, é dirigido aos Jovens, aos Políticos e à Igreja, os três destinatários habituais das comunicações de D. Hélder. O segundo, escrito apenas por D. Hélder, é uma pequena oração/desafio. Foram ambos retirados de http://www.agencia.ecclesia.pt/noticia_all.asp?noticiaid=69193&seccaoid=9&tipoid=161 (último acesso em 8/02/09).
«No dia 07 de Fevereiro de 1909 nasceu em Fortaleza-CE aquele que, em 1952, se tornou um dos Bispos de maior destaque e prestígio no Brasil e no mundo, Hélder Pessoa Câmara, que faleceu com 90 anos de vida e 68 de sacerdócio a serviço dos Direitos Humanos, da Justiça e da Paz. Três públicos-alvo de Dom Hélder foram os Jovens, os políticos e a Igreja; por isso, julgamos oportuno publicar este texto escrito em parceria com Abbé Pierre em 18/08/96.
Apelo aos Humanos
"Por motivo dos 65 anos de sacerdócio de um de nós e da inauguração da Comunidade Emaús, reunimo-nos durante uma semana no Recife. Mais uma vez juntos, para dar graças a Deus e para servir aos pobres.
Partilhámos momentos muito fortes. Cansativos, mas enriquecedores no plano pessoal, humano e espiritual.
Considerando a nossa idade e a responsabilidade que temos pela confiança depositada em nós por uma multidão de pobres no mundo, antes de nos separarmos fisicamente, ousamos lançar este apelo a todos os humanos.
AOS JOVENS
Vocês são a esperança do amanhã. O terceiro milénio é vosso. Há ainda muita miséria no mundo. É preciso que vocês trabalhem sem cessar, em favor da partilha e não da competitividade, seja esta a regra das vossas vidas. Sem partilha (partilha dos bens, das riquezas, do trabalho, do tempo livre, do saber, do saber fazer) não haverá justiça nem felicidade para todos. E, sobretudo os mais fracos, os mais pobres, os menos dotados sofrerão mais. Empenhem-se vocês que são jovens! Trabalhem sem cessar! Sejam competentes na vossa profissão... Lavrador ou motorista, advogado ou médico, vocês serão ouvidos somente se forem considerados competentes. Mas não esqueçam a regra de toda paz, de toda justiça, de toda solidariedade: servir e fazer que sejam servidos, primeiro e em todo lugar, os mais pobres...
AOS POLÍTICOS
A mundialização é a realidade de hoje. O mundo tornou-se uma "pequena aldeia global" onde somos condenados a conhecer tudo, onde o que acontece num canto do mundo tem consequências em todo canto. Mas em lugar de facilitar o encontro entre as pessoas por maior justiça para todos, a mundialização, até o momento, tem aumentado a divisão, cria novos conflitos e a miséria instala-se em toda parte, inclusive nos países ricos e industrializados. Ricos sempre mais ricos, pobres sempre mais miseráveis.
Isso não pode continuar. Não é justo! Não é humano!
Ajudem a organizar o mundo de forma diferente. Na partilha e não na competitividade. Na solidariedade, não na busca incessante de interesse de uma minoria de privilegiados.
Lembrem-se: a beleza de uma cidade não está na beleza dos seus teatros, na grandeza dos seus estádios, dos seus jardins, dos seus monumentos, no esplendor da sua catedral... A beleza de uma cidade realiza-se quando todos têm uma casa digna de ser habitada por pessoas humanas, quando há água potável para todos, a saúde garantida para todos, a possibilidade de frequentar a escola para todos, a possibilidade do lazer para todos, para que o desabrochar da dignidade de cada um possa tornar-se uma realidade viva e completa.
Não fiquem fechados nos vossos confortáveis escritórios ou nas mansões das vossas cidades... visitem as pessoas onde elas estão, onde vivem, onde sofrem, nas favelas, nos bairros populares da América Latina, na África e na Ásia.
À IGREJA
O terceiro milénio aproxima-se. A encarnação do Filho de Deus aconteceu há 2000 anos. Há ainda demasiada miséria no mundo, num mundo de riquezas! E, o que é grave e insuportável, é o facto de que a minoria dos privilegiados, os mais ricos, são, pelo menos na sua origem, cristãos.
O que fizemos com a mensagem de Cristo? De que maneira a multidão dos pobres, dos excluídos, dos marginalizados, dos sem-casa, dos sem-terra, dos sem-nada, pode acreditar que o Criador é o Pai que os ama, se nós, que nos dizemos cristãos, que temos mais, continuamos a deixar o prato deles vazio, embora declarando-nos a favor da Paz e do Amor?
Não sejamos somente crentes... Sejamos ACREDITÁVEIS!
Assim o mundo será como uma Hóstia voltada para o Senhor, uma imensa Hóstia de acção de graças a Deus, na felicidade de todos os Humanos. Porque a felicidade dos Homens é a Glória de Deus.
Nós vivemos mais que 80 anos... Ainda há muito que fazer para pôr ordem no mundo. Com as poucas forças que ainda nos restam, continuamos o nosso combate à miséria, em todo lugar onde for possível: que seja junto com todos vocês!"
D. Hélder Câmara, Abbé Pierre (adaptado)
MISSÃO É PARTIR
"Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu.
É parar de dar volta ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida.
É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior.
Missão é sempre partir, mas não devorar quilómetros.
É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los.
E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até os confins do mundo."
D. Hélder Câmara
À Comunhão cantámos
Milton Nascimento - Ofertorio
Como Acção de Graças, rezámos este belíssimo poema de D. Hélder (O Deserto é Fértil, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira S.A., 1976, p. 109)
Que toda palavra
nasça
da ação e da meditação.
Sem ação
ou tendência à ação
ela será apenas teoria
que se juntará
ao excesso de teoria
que está levando os jovens
ao desespero.
Se ela é apenas ação
sem meditação
ela acabará no ativismo
sem fundamento,
sem conteúdo,
sem força...
Presta honras ao Verbo eterno
servindo-te da palavra
de forma
a recriar o mundo.
No final, ouvimos a Invocação a Mariama, poderosa prece rezada no final da Missa dos Quilombos por D. Hélder.
domingo, fevereiro 1
as "coisas do Senhor" e as "as coisas do Mundo" – IV Domingo Comum
A segunda leitura da Celebração de hoje levanta-nos questões profundas. O José pediu a três mulheres, casadas, que reflectissem sobre este "dilema", esta [aparente] separação destes "dois mundos". A leitura é esta:
«Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Não queria que andásseis preocupados. Quem não é casado preocupa-se com as coisas do Senhor, com o modo de agradar ao Senhor. Mas aquele que se casou preocupa-se com as coisas do mundo, com a maneira de agradar à esposa, e encontra-se dividido. Da mesma forma, a mulher solteira e a virgem preocupam-se com os interesses do Senhor, para serem santas de corpo e espírito. Mas a mulher casada preocupa-se com as coisas do mundo, com a forma de agradar ao marido. Digo isto no vosso próprio interesse e não para vos armar uma cilada. Tenho em vista o que mais convém e vos pode unir ao Senhor sem desvios.»
Aqui ficam, agora, as reflexões da Carminho e da Rute (a que mais tarde se juntará a da Kuki):
«1. Se S. Paulo vivesse hoje talvez a sua mensagem fosse diferente.
A valorização da capacidade feminina para a multiplicidade de tarefas simultâneas talvez o levasse a encarar a possibilidade de nelas incluir a dedicação às “coisas do Senhor”, como algo próprio das mulheres...
2. A criatividade, as emoções mas também a luta diária pelo cuidado e pela sobrevivência dos que estão mais próximos não são, em primeira análise, manifestações dessa dedicação às causas mais nobres da Boa Nova de Jesus Cristo?
3. A defesa do celibato como base da exclusividade na dedicação às “coisas do Pai” não faz sentido num mundo cheio de pluralidade de opções, de oferta de caminhos e apelos diversificados. Não será prioritariamente, por certo, a dedicação ao marido (ou à mulher) o contraponto à dedicação às “coisas do Senhor”
4. E há quem faça opções radicais – homens e mulheres – que depois de uma vida cheia no mundo dos negócios, p.ex., deixe tudo para se dedicar a causas humanitárias, ao voluntariado, à clausura, mantendo (ou não) as relações conjugais entretanto desenvolvidas. E não são estas, manifestações reais da dedicação às “coisas do Senhor”? Com ou sem celibato! Para homens e mulheres.
Comunidade João XXIII, 1 Fevereiro de 2009
Contributo para a partilha (Carminho)»
«Comentários suscitados pela 1ª Carta de S. Paulo aos Coríntios – 7, 32-25
Trata-se de um texto sobre a “divisão do trabalho” na comunidade de Corinto, no qual sobressai, em primeiro lugar, o contraste entre dois grupos sociais e as tarefas que lhes estão acometidas:
1. Os celibatários (homens e mulheres) apresentados como aqueles que trabalham para “as coisas do Senhor”, que estão preocupados em “agradar ao Senhor”/com os “interesses do Senhor”; elas, mulheres, com o objectivo específico de “serem santas de corpo e espírito”.
2. Os casados, segundo o autor, “preocupam-se com as coisas do mundo”, “com a forma de agradar à esposa/ao marido”.
Alguns têm visto/verão nesta antinomia de funções o primado do celibato/dos celibatários nas coisas de Deus e uma concepção do casamento como algo voltado exclusivamente para o mundo e, consequentemente, desligado das coisas de Deus.
As questões que importa colocar são, a meu ver, as seguintes:
a) Seria S. Paulo um “macho chauvinista”, como costumava afirmar a minha professora de Cultura Inglesa casada com um irlandês católico?
b) Haverá neste texto, apesar da dureza das palavras, apenas a apologia de uma divisão de tarefas escatologicamente motivada? – S. Paulo acreditava que o “fim dos tempos” estava próximo; era, portanto, urgente passar a mensagem e fazia sentido que o fizessem os que estavam em dedicação exclusiva – os celibatários;
c) Não dizemos nós, Igreja de hoje, que temos de, enquanto Igreja, ter uma face voltada para o mundo? Não encontramos na dimensão social da Igreja o modo de muitos cristãos se identificarem com Cristo e com as interpelações mais radicais que Ele nos fez/faz? Serão os cristãos casados deste texto essa face?
A minha experiência pessoal o que diz é que, depois das coisas do mundo, não resta muito tempo em exclusividade para as coisas de Deus e que, nesta medida, só faz sentido que as coisas de Deus se misturem com a minha vida no mundo[, de tal modo que não haja distinção entre coisas de Deus e coisas do mundo].
Questionável é, parece-me, a distinção maniqueísta entre “coisas de Deus” e “coisas do mundo”, que talvez seja epocalmente compreensível, mas que não deve ser extrapolada para os dias de hoje, nomeadamente quando se trata de separar entre ministérios de primeira e de segunda categoria, sacerdotais e laicais, por exemplo.
Lamentável é que se retire de algumas afirmações de S. Paulo, ainda nos nossos dias, a fundamentação para excluir as mulheres de cargos eclesiais e/ou de lugares de referência no discurso teológico, etc., perpetuando a lógica androcêntrica ainda dominante na sociedade civil, como se pode ler nas palavras da teóloga Elisabeth Schüssler Fiorenza:
As mulheres como Igreja são invisíveis não por acidente nem por nossa negligência, mas pela lei patriarcal que nos exclui dos cargos eclesiásticos por causa do sexo. (Fiorenza 1985/86: 9)
Referências bibliográficas:
Cothenet, Edouard (1983), “S. Paulo no seu Tempo”, Cadernos Bíblicos 13, Lisboa: Difusora Bíblica, pp. 54-55.
Fiorenza, Elisabeth Schüssler (1985/86), “Quebrando o silêncio: a mulher se torna visível”, Elisabeth Schüssler Fiorenza et al., A Mulher — Invisível na Teologia e na Igreja, Petrópolis: Editora Vozes. [reedição em livro da revista Concilium/202 – 1985/6: Teologia Feminista]
Rute Soares»
Junto a estes testemunhos a cópia do texto, citado pela Rute, de Edouard Cothenet, que poderão descarregar.
«Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Não queria que andásseis preocupados. Quem não é casado preocupa-se com as coisas do Senhor, com o modo de agradar ao Senhor. Mas aquele que se casou preocupa-se com as coisas do mundo, com a maneira de agradar à esposa, e encontra-se dividido. Da mesma forma, a mulher solteira e a virgem preocupam-se com os interesses do Senhor, para serem santas de corpo e espírito. Mas a mulher casada preocupa-se com as coisas do mundo, com a forma de agradar ao marido. Digo isto no vosso próprio interesse e não para vos armar uma cilada. Tenho em vista o que mais convém e vos pode unir ao Senhor sem desvios.»
Aqui ficam, agora, as reflexões da Carminho e da Rute (a que mais tarde se juntará a da Kuki):
«1. Se S. Paulo vivesse hoje talvez a sua mensagem fosse diferente.
A valorização da capacidade feminina para a multiplicidade de tarefas simultâneas talvez o levasse a encarar a possibilidade de nelas incluir a dedicação às “coisas do Senhor”, como algo próprio das mulheres...
2. A criatividade, as emoções mas também a luta diária pelo cuidado e pela sobrevivência dos que estão mais próximos não são, em primeira análise, manifestações dessa dedicação às causas mais nobres da Boa Nova de Jesus Cristo?
3. A defesa do celibato como base da exclusividade na dedicação às “coisas do Pai” não faz sentido num mundo cheio de pluralidade de opções, de oferta de caminhos e apelos diversificados. Não será prioritariamente, por certo, a dedicação ao marido (ou à mulher) o contraponto à dedicação às “coisas do Senhor”
4. E há quem faça opções radicais – homens e mulheres – que depois de uma vida cheia no mundo dos negócios, p.ex., deixe tudo para se dedicar a causas humanitárias, ao voluntariado, à clausura, mantendo (ou não) as relações conjugais entretanto desenvolvidas. E não são estas, manifestações reais da dedicação às “coisas do Senhor”? Com ou sem celibato! Para homens e mulheres.
Comunidade João XXIII, 1 Fevereiro de 2009
Contributo para a partilha (Carminho)»
«Comentários suscitados pela 1ª Carta de S. Paulo aos Coríntios – 7, 32-25
Trata-se de um texto sobre a “divisão do trabalho” na comunidade de Corinto, no qual sobressai, em primeiro lugar, o contraste entre dois grupos sociais e as tarefas que lhes estão acometidas:
1. Os celibatários (homens e mulheres) apresentados como aqueles que trabalham para “as coisas do Senhor”, que estão preocupados em “agradar ao Senhor”/com os “interesses do Senhor”; elas, mulheres, com o objectivo específico de “serem santas de corpo e espírito”.
2. Os casados, segundo o autor, “preocupam-se com as coisas do mundo”, “com a forma de agradar à esposa/ao marido”.
Alguns têm visto/verão nesta antinomia de funções o primado do celibato/dos celibatários nas coisas de Deus e uma concepção do casamento como algo voltado exclusivamente para o mundo e, consequentemente, desligado das coisas de Deus.
As questões que importa colocar são, a meu ver, as seguintes:
a) Seria S. Paulo um “macho chauvinista”, como costumava afirmar a minha professora de Cultura Inglesa casada com um irlandês católico?
b) Haverá neste texto, apesar da dureza das palavras, apenas a apologia de uma divisão de tarefas escatologicamente motivada? – S. Paulo acreditava que o “fim dos tempos” estava próximo; era, portanto, urgente passar a mensagem e fazia sentido que o fizessem os que estavam em dedicação exclusiva – os celibatários;
c) Não dizemos nós, Igreja de hoje, que temos de, enquanto Igreja, ter uma face voltada para o mundo? Não encontramos na dimensão social da Igreja o modo de muitos cristãos se identificarem com Cristo e com as interpelações mais radicais que Ele nos fez/faz? Serão os cristãos casados deste texto essa face?
A minha experiência pessoal o que diz é que, depois das coisas do mundo, não resta muito tempo em exclusividade para as coisas de Deus e que, nesta medida, só faz sentido que as coisas de Deus se misturem com a minha vida no mundo[, de tal modo que não haja distinção entre coisas de Deus e coisas do mundo].
Questionável é, parece-me, a distinção maniqueísta entre “coisas de Deus” e “coisas do mundo”, que talvez seja epocalmente compreensível, mas que não deve ser extrapolada para os dias de hoje, nomeadamente quando se trata de separar entre ministérios de primeira e de segunda categoria, sacerdotais e laicais, por exemplo.
Lamentável é que se retire de algumas afirmações de S. Paulo, ainda nos nossos dias, a fundamentação para excluir as mulheres de cargos eclesiais e/ou de lugares de referência no discurso teológico, etc., perpetuando a lógica androcêntrica ainda dominante na sociedade civil, como se pode ler nas palavras da teóloga Elisabeth Schüssler Fiorenza:
As mulheres como Igreja são invisíveis não por acidente nem por nossa negligência, mas pela lei patriarcal que nos exclui dos cargos eclesiásticos por causa do sexo. (Fiorenza 1985/86: 9)
Referências bibliográficas:
Cothenet, Edouard (1983), “S. Paulo no seu Tempo”, Cadernos Bíblicos 13, Lisboa: Difusora Bíblica, pp. 54-55.
Fiorenza, Elisabeth Schüssler (1985/86), “Quebrando o silêncio: a mulher se torna visível”, Elisabeth Schüssler Fiorenza et al., A Mulher — Invisível na Teologia e na Igreja, Petrópolis: Editora Vozes. [reedição em livro da revista Concilium/202 – 1985/6: Teologia Feminista]
Rute Soares»
Junto a estes testemunhos a cópia do texto, citado pela Rute, de Edouard Cothenet, que poderão descarregar.
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