domingo, janeiro 27

Cordeiro de Deus

Para a celebração de hoje o Samelo propôs-nos a seguinte reflexão...

(Cântico para a Comunhão)
Mataram-nO um dia de madrugada
Quando os homens dormem
Quando os galos cantam.
MATARAM-NO UM DIA DE MADRUGADA

Atacaram Seu corpo numa manhã
Repartiram Sua roupa
Sortearam Sua capa.
MATARAM-NO UM DIA DE MADRUGADA

Por todos os caminhos Sua voz gritava
As verdades que ferem
As verdades que salvam.
MATARAM-NO UM DIA DE MADRUGADA

Ofereceram dinheiro e “fidalguias”
P’ra ocultar mentiras
Para inventar palavras.
MATARAM-NO UM DIA DE MADRUGADA

O mundo não perdoa a quem não engana.
Arrasaram Sua casa
Deixaram-nO sem nada.
MATARAM-NO UM DIA DE MADRUGADA

Porém Sua voz ressoa
Pelas montanhas...

Seguiremos cantando
Seguiremos sonhando
Seguiremos vivendo
Com Sua Palavra.
Ricardo Cantapiedra


No caso de Jesus, não se pode falar de vocação. D’Ele não se pode dizer que «foi chamado do seio materno», como aconteceu com os grandes profetas.
O evangelista João, em vez da vocação, apresenta-nos a missão de Jesus, e a figura que ele usa é a do «Cordeiro de Deus» (Jo 1, 36b).
Havia muitas outras figuras que se poderiam usar para definir a missão que Jesus estava para realizar. Poder-se-ia dizer que tinha chegado o legislador, o juiz, o dominador, o rei... Em vez disso, no início do Evangelho, João Baptista apresenta-no-lO como «o Cordeiro de Deus». Segundo ele, esta expressão resume melhor do que as outras aquilo que Jesus irá fazer.
Lembremo-nos do que aconteceu no Egipto durante a noite da libertação dos israelitas da escravidão do faraó: todas as famílias tinham imolado um cordeiro e tinham marcado com sangue os umbrais das portas. Esse sangue salvou-os do extermínio.
Ao apresentar Jesus como Cordeiro, João quer confirmar que Ele veio para dar a Sua vida. O Seu sangue liberta as pessoas do pecado e das forças do mal que conduzem à morte.
Também o «Servo do Senhor» (cf Is 49, 3.5-6) é comparado a um cordeiro. O profeta apresenta-O desta maneira: «como cordeiro conduzido ao matadouro, como ovelha muda diante dos seus tosquiadores» (Is 53,7).
É a imagem de Jesus que, com o Seu sacrifício na cruz, Se torna o verdadeiro Cordeiro pascal que destrói para sempre o pecado do mundo. O seu sacrifício traz à humanidade luz, salvação e paz.
(in: ARMELLINI Fernando, O Banquete da Palavra: comentário às leituras dominicais - ano A, Edições Paulinas, Lisboa, 1995, pp. 208-209 - adaptado)

A partilha do pão e do vinho consagrados
O «sinal da paz» acaba de exprimir que todos se sentem e desejam ser irmãos em Cristo, unanimemente disponíveis para acolherem Aquele que, depois de ter falado, Se dá agora no Seu corpo e sangue, com toda a Sua pessoa...
A fracção do pão que se segue é de tal modo importante e central que serviu durante muito tempo para designar toda a Eucaristia (cf. Act 2, 42). Enquanto se parte o pão destinado à comunhão, a comunidade canta o Cordeiro de Deus.
Retomando uma exclamação de João Baptista (cf Jo 1, 29), a Igreja reconhece em Jesus o Cordeiro que «tira» o pecado do mundo.
Os nossos visitantes ficam um pouco surpreendidos quando ouvem falar de cordeiro! O que é que esta evocação significa, pois parece mais adaptada a um redil que a uma assembleia de pessoas sérias?
O guia explica então que, na tradição bíblica, a figura do cordeiro lembrava muitas coisas.
Primeiro, a comovedora pureza de um pequeno ser manso e vulnerável. E sobretudo o cordeiro pascal (cf Ex 12, 3), que foi comido na festa da primeira Páscoa, na véspera da marcha para a terra prometida. Era o alimento do viajante, o sinal pelo qual Deus havia de reconhecer os que estão prontos a seguir o Seu caminho e a viver a grande aventura do êxodo. Na liturgia judaica, comer o cordeiro é um gesto de fé, pelo qual o povo diz a Deus a sua vontade de se libertar, mesmo nas areias quentes do deserto.
Mas o cordeiro é também e indissoluvelmente a personagem humilde e dócil cujo retrato foi feito por Isaías; é a vítima misteriosa, símbolo do povo e, posteriormente, de Jesus, que oferece a Sua vida como sacrifício expiatório (cf Is 53, 10) .
Para os cristãos tal como acentua a liturgia de Sexta-Feira Santa Cristo é Santo, Aquele que Se tornou «obediente até à morte» (Fl 2, 8) para que os Seus vivam. É o companheiro (do latim “cum+panis”) que lembra, pelo Seu exemplo, que o amor pode ir até ao dom da própria vida por aqueles que amamos. Aquele que a assembleia vai comungar, dentro de momentos, não é um grandioso autor de milagres, nem tem um poder esmagador! É como um cordeiro indefeso, um ser disponível, pronto a enfrentar as piores provocações, se delas pode fazer nascer uma vida nova.
Este cordeiro tira o pecado do mundo: traz a reconciliação aos que estão unidos a Ele. Os cristãos, em união com o sofrimento de Cristo, aproximam-se do Pai, de novo plenamente expostos aos raios do Seu amor.
O que é «tirado» é o pecado do mundo. Este singular é uma expressão própria de São João e designa o conjunto dos pecados e faltas das pessoas, todo o imenso peso do mal com inúmeros rostos. É toda a malícia para a qual todos e todas colaboram. Trata-se de um «pecado colectivo»? É provável... com a condição de ser concreto, e de vermos que este pecado está presente em todos os gestos e palavras que exprimem o nosso desinteresse por Deus, a nossa recusa de amar o próximo que Deus pôs no nosso caminho e o nosso sentido de posse em relação à natureza. «O pecado do mundo» é obra nossa, e é graças às nossas conversões quotidianas que ele será menos pesado para o Cordeiro de Deus.
É durante a evocação do Cordeiro que o presidente da celebração parte as hóstias consagradas, como fez Jesus na Última Ceia (cf Lc 22, 19). Este gesto de partilha muito simples, que é também próprio do pai de família judeu, alcançou um significado muito particular na Ceia. Jesus anuncia desse modo que, pouco tempo depois, o Seu corpo vai ser pisado, quebrado, martirizado.., para que o mundo que o agride possa viver. Deus já tinha sugerido a Sua maravilhosa prodigalidade com a multiplicação dos pães: aqueles que não param de destruir o coração divino são alimentados e revigorados pelo dom do corpo do Senhor, partido em bocados. O que é sinal da maldade humana torna-se, como a cruz, num instrumento de salvação.
«O Cordeiro» é Jesus. É o que aponta João Baptista. Ajuda os que o rodeiam a descobrir Jesus. Este gesto suscita a vocação dos primeiros discípulos (cf Jo 1, 35-42). Não serei eu também convidado a contribuir para que os outros descubram Jesus? Portanto, «a História» do povo de Deus continua.., com a condição de a vivermos!

O ritual romano prevê que uma pequena parte (“fragmentum” em latim) do pão consagrado seja misturado ao vinho. Este gesto discreto sugere a unidade do Corpo e do Sangue de Cristo, unidos no cálice. Mas é também o vestígio de uma tradição muito antiga: o Papa, sempre que celebrava, tirava vários bocados do pão que consagrava e enviava-os aos seus padres. Estes, quando por sua vez celebravam, depositavam esse fragmento no seu cálice, para lembrar que cada Eucaristia é vivida em união com o Bispo da Diocese onde se celebra, já mencionado na oração eucarística. Este simples gesto é, portanto, espantosamente sugestivo: recorda que a Eucaristia não é nenhum «assunto pessoal» ou refeição íntima. Cada celebração deve ser vivida em comunhão intensa com a comunidade diocesana presidida pelo Bispo.
(in: “VIE MONTANTE” DA DIOCESE DE MALINES - BRUXELLES, Redescobrir a Eucaristia. A Missa segundo o Concílio, Edições Paulistas, Lisboa, 1989, pp. 104-107 - adaptado)

2008-01-18
António Samelo

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