domingo, junho 24

12º Domingo do Tempo Comum - Ano C

Nascimento de S. João Baptista


As seguintes solenidades têm prioridade sobre o domingo quando caem no domingo: Nascimento de S. João Baptista (24 de Junho), S. Pedro e S. Paulo (29 de Junho), Transfiguração do Senhor (6 de Agosto), Assunção de Nossa Senhora (15 de Agosto), Exaltação da Santa Cruz (14 de Setembro), Todos os Santos (1 de Novembro) e Dedicação da Basílica de Latrão (9 de Novembro).

O cântico a S. João é conhecidíssimo em Pias (Baixo Alentejo), por estar ligado à tradição local dos «Jordões» por altura das Festas de S. João.


Refrão
SÃO JOÃO, FIEL ARAUTO,
ÉS DE JESUS O PRECURSOR
VENS PREGAR A PENITÊNCIA
E ANUNCIAR O SALVADOR.

1. Eu não sou quem suspeitais
Pois vai chegar o Rei Messias;
Sou a voz dos vossos pais.
Eu sou a voz das profecias. (Refrão)

2. Reparti vosso dinheiro,
O vosso amor, o vosso pão;
De Jesus sou Mensageiro
P’ra vos levar à conversão. (Refrão)


1º: Nascimento de João, o precursor no solstício de verão quando os dias começam a diminuir…
Nascimento de Jesus, o Sol; no solstício de Inverno quando os dias começam a aumentar…

O(a) cristão(ã) sente-se “recompensado(a) no momento do agir… e basta!... no dicionário cristão não existem as palavras ingratidão, melindre, homenagens…

2º: O nome “João” significa «O Senhor operou a graça, manifestou a sua bondade, a sua benevolência».
“Baptista” porque foi ele que começou a baptizar: até aí as pessoas baptizavam-se a si próprias.
Ninguém tem direito à salvação, à santidade… é da iniciativa de Deus… ninguém merece…

3º: João é profeta: o profeta bíblico não tem uma bola de cristal… mas vive unido ao Deus fiel («Zacarias» significa «Deus recordou-se» ou «Deus recorda» as suas promessas) e descobre a Sua presença sempre…João descobriu no Nazareno o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
O profeta lê “os sinais dos tempos”, anunciando e denunciando… nenhuma realização humana pode ser absolutizada… não ao fatalismo… esperança…

Cântico
Onde estão os profetas
Que noutros tempos nos deram
As esperanças e forças para andar
Onde estão os profetas
Que noutros tempos nos deram
As esperanças e forças para andar... para andar

Refrão
E NAS CIDADES
E NOS CAMPOS
ENTRE NÓS ESTÃO (bis)
NA CIDADE - ONDE ESTÃO
E NO MAR - ONDE ESTÃO
NA CIDADE - ONDE ESTÃO... ONDE ESTÃO

Simples coisa é a morte
Difícil coisa é a vida
Quando não tem sentido já lutar
Onde estão os profetas
Que noutros tempos nos deram
As esperanças e forças para andar... para andar (Refrão)

Ensinaram-nos normas
Para nos suportarmos
E nunca nos ensinaram a amar
Onde estão os profetas
Que noutros tempos nos deram
As esperanças e forças para andar... para andar (Refrão)

António Samelo

domingo, junho 17

11º Domingo do Tempo Comum - Ano C

O Amor=Deus é MAIOR e MAIS FORTE que o pecado:

(cf 4º Domingo da Quaresma - Ano C: 2007-03-18)

O perdão encerra UM segredo de alegria e humanidade!

Refrão
Dá-nos um coração
grande para amar!
Dá-nos um coração,
forte para lutar!

1. Homens novos, criadores da história,
Construtores da nova humanidade;
Homens novos que vivem a existência
Como risco dum longo caminhar.

2. Homens novos lutando em esperança,
Caminhantes, sedentos de verdade;
Homens novos, sem freios nem cadeias,
Homens livres que exigem liberdade.

3. Homens novos, amando sem fronteiras,
Não havendo mais raça nem lugar;
Homens novos ao lado dos mais pobres,
Partilhando com eles tecto e pão.

Um dos temas fundamentais do evangelho de Lucas é a manifestação que Jesus faz de si mesmo, como Aquele que salva os pecadores. Neste sentido, Ele proclama-se Deus, porque os judeus têm consciência de que só Deus pode perdoar os pecados.
O pecado é a morte da pessoa humana, porque é incomunicabilidade, é solidão: no interior do pecado há uma dinâmica de morte - a escravidão, a fome, a miséria, a vontade de destruição que vai da luta com arma branca à explosão atómica e aos armamentos, são os sinais visíveis do pecado.
A pessoa pode tirar a própria vida (não só a biológica) e pode tirá-la aos outros, mas não pode restituí-la nem a si nem aos outros. Cristo, perdoando, é a revelação de Deus como o AMOR gratuito, como “aceitação” radical da pessoa, como AMOR que restitui a vida. Jesus destrói a falsa imagem de Deus no qual “santidade” quereria dizer um “não” absoluto ao pecador. Deus é “não” absoluto ao pecado, mas não ao pecador.

Então, que pode fazer a pessoa pecadora?
“Crer” que é pecadora, que está morta (Natã ajuda David a tomar consciência disto - 1ª leitura) e crer no amor de Deus que nos é oferecido em Jesus. A salvação é a fé em Jesus (2ª leitura).
Quem procura esconder o próprio mal por detrás da observância exacta e rigorosa de normas e leis religiosas, talvez seja uma pessoa «perfeita», como os fariseus... mas será sempre incapaz de amar, de perdoar! A Igreja da Tri-Unidade, da qual fazemos parte, não é composta por «justos», por «perfeitos», mas por pecadores, que foram perdoados e que sabem que vivem continuamente necessitadas do perdão de Deus e dos irmãos e por isso mesmo são capazes também de perdoar! “...A Igreja (...) santa e sempre necessitada de purificação...” (Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição dogmática Lumen Gentium, n. 8).
Quem “aceita” ser amado gratuitamente, sem mérito seu, vive, torna-se capaz de amar e de enfrentar a vida. A experiência do perdão recebido é a experiência do grande amor de Deus (evangelho). O ser perdoado(a) é o motivo mais forte para amar mais a Deus, ao próximo e à natureza - e a pessoa, libertada pelo AMOR=Deus, torna-se libertadora! Para viver, temos mais necessidade do perdão de Deus que do pão que comemos.
O perdão encerra um segredo: o segredo de alegria e humanidade! Quem perdoa vive mais alegre e é mais humano(a)!

* * * * * * *

A propósito do perdão e porque como dizia Ortega y Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância”, não resisto a transcrever um dos textos mais lúcidos e operativos que li até hoje do teólogo dominicano francês DUQUOC Christian, Jesus, Homem livre. Esboço duma cristologia, Edições Paulistas, Apelação, 1974, pp. 110-118 (adaptado):

O perdão de Jesus liberta do ódio
A palavra «perdão» arrisca-se a induzir imagens que lhe desnaturam o sentido e que enfraquecem o acto de Jesus. Com efeito, não entendo por este termo nem o esquecimento (fecham-se os olhos, porque não se pode fazer de outra maneira e porque, antes de tudo, se quer salvaguardar uma paz “podre”; o esquecimento é um acto de fraqueza); nem a indiferença (esta é uma fuga perante a realidade: “tal pessoa morreu para mim, é como se não existisse”; o outro não tem “rosto”: há coisas mas não pessoas com quem se tenha laços reais e, portanto, nenhuma ameaça precisa); nem a ingenuidade (esta está pronta a tudo crer e, portanto, a tudo apagar). O perdão é um acto arriscado, é o acto dos fortes: existe onde alguém ameaça realmente uma outra existência, quer seja material ou psicológica, onde alguém lesa direitos. Não é, portanto, nem o esquecimento, nem a indiferença, nem a ingenuidade. É lúcido, pois aquele que perdoa julga que quem faz o mal - e esse mal contra ele - é menos pessoa do que ele que o sofre. Esse facto tem por fim romper a fascinação do mal, o «encerramento» do malfeitor em si mesmo; tem por fim despedaçar aquele círculo mágico no qual sossobra toda a comunicação real. É um acto arriscado, porque baseado na esperança de que a bondade, abrindo ao malfeitor um espaço diferente da sua lógica do mal, o fará ter acesso a uma escolha menos desumana.
O perdão é um acto de liberdade. Aquele que perdoa não se deixa dominar pelo mal segregado pelo adversário. Não cura a calúnia pela calúnia, a difamação pela difamação, o assassínio pelo assassínio, a mentira pela mentira. Cria uma outra relação. Esta é um apelo para que o mal não tenha a última palavra. O perdão é um acto criador: aceite, abre de novo ao malfeitor, e de maneira positiva, as relações sociais.
Jesus não perdoou abstractamente. Só pode perdoar ao verdugo aquele que foi torturado. Só aquele que foi objecto de ódio e vítima de sua sede de destruição pode manifestar a impotência do ódio, ao que o odeia, esperando que este acto seja criador duma nova história, para aquele que esteve sob o domínio do ódio. Se Deus perdoa aos criminosos, sem se ter identificado às suas vítimas, esse perdão é abstracto e não cria qualquer possibilidade nova na história, O perdão dado por Jesus, no momento da morte - «Pai, perdoa-lhes» -, é um perdão sobrecarregado de toda a sua história. Ele tinha sido perseguido, caluniado, escarnecido, desprezado, ridicularizado, condenado e morria como um criminoso e um blasfemo. Ao perdoar, Jesus espera que a lógica de morte, de que foi vítima, não tenha a última palavra. Esse perdão abre a possibilidade dum futuro e esse futuro já está inscrito na realidade da sua ressurreição. Deus faz seu o perdão dele, constitui-o Senhor, Messias, Juiz e Filho. É o seu gesto que exprime o que é Deus para o homem, porque este homem que perdoa é justificado por Ele. O verdadeiro justo é aquele que dá o perdão, não é aquele que cumpre a Lei. A oração que Jesus nos ensinou - «Perdoa as nossas ofensas, como nós perdoamos...» - exprime a medida com a qual nós já somos julgados.
O perdão abre um futuro. Se a morte é simbolicamente apresentada na Bíblia como a consequência do «pecado», é porque a morte significa a não comunicação, a irreversível destruição. O homem, que se encerra no ódio, deseja eliminar aquele que odeia, deseja fechá-lo na morte de tal maneira que deixe de existir para ele. A guerra, que não termina por uma negociação, só terá termo pela destruição dum dos antagonistas. Somente o perdão lhe enfrenta a lógica, mesmo nas suas formas mais atenuadas, imagens longínquas ou pervertidas do verdadeiro perdão: a negociação e o esquecimento. A história é possível com a condição de o ódio não responder ao ódio e de a injustiça renunciar mesmo a ser plenamente satisfeita. Somente o perdão, mesmo nas suas formas longínquas, cria uma novidade de relações que abre uma outra história.
Assim, no acto do perdão, surge a esperança de que aquele a quem se perdoa perceba a esterilidade da sua lógica destruidora ou da sua justiça implacável. Renunciando a suplicar a Deus que lhe extermine os inimigos, pelo seu poder e a favor daquele que lhe anunciava o Reino, Jesus dava testemunho do que é o Reino de Deus. Jesus abre o futuro para o próprio pecador, porque testemunha pelo seu perdão que ninguém está definitivamente encerrado no ódio e que o seu Deus é Aquele mesmo que anula todas as barreiras, perdoando aos que matam o seu Enviado. Neste acto, o perdão atinge todo o homem, pois Aquele que o pronunciou está vivo para sempre. Deus já não pode ser requerido para apoiar ódios de clãs, de raças, de classes. Nem sequer pode voltar a ser requerido como garante duma justiça implacável. Deus não pode ser invocado a não ser quando o perdão cria uma novidade de relações. Libertando-nos do ódio pelo seu perdão, Jesus liberta-nos da imagem opressiva do Absoluto.
O perdão é um acto da vida quotidiana. É um dado essencial das relações humanas. Estas nem sequer são duráveis a não ser que o perdão seja uma dimensão permanente da nossa vida. É um acto que Jesus integrou na sua atitude, conferindo-lhe, porém, uma profundidade que a banalidade quotidiana oculta. Esse acto de Jesus revela o mal que prolifera na nossa história e o trágico da nossa condição: é um homem justo, um profeta da liberdade e do amor, que matam. Evidencia igualmente a relativa impotência do perdão: o ódio não cessa de surgir e de ser assassino. Por isso é necessário, para a compreensão do carácter libertador do acto de Jesus, manifestar-lhe a consequência: aquele que foi injustamente crucificado e que perdoou é Senhor e doador do Espírito. Jesus, pela sua ressurreição, dá testemunho da infinita eficácia do perdão, pois este mantém-se o princípio activo da história até desaparecer o poder do ódio. Sem a Ressurreição Jesus seria uma figura nobre. A Ressurreição, pela ratificação divina do seu perdão, fundou a esperança de que Deus, sendo o Deus que perdoa e se opõe a todos os ódios, pelo seu Espírito que é o de Jesus, transformará os homens de tal maneira que deixarão de ser os agentes do ódio.

Perdão: a Fatinha e o Rui Marques disseram-no há tempos de uma forma lapidar - perdoar é viver “sem mágoa”!

Perdão, conflitos e libertação
O perdão de Jesus moribundo é um perdão pronunciado por Aquele que abriu o Reino de Deus. Baniu para sempre a imagem de Deus que o homem sujeitou aos seus interesses destruidores. Ratificado por Deus na Ressurreição de Jesus, esse perdão abre o que parecia fechado indefinidamente: mesmo se for o maior malfeitor, homem algum é privado de acesso junto do Deus de Jesus. O perdão de Jesus encerra a esperança de que a sua bondade, o seu amor, a sua liberdade hão-de aniquilar para sempre a obsessão do mal e a recusa de comunicação. O dom do Espírito tem por fim tornar concreto esse perdão, na conversão do coração. Não é a dureza do pecador que determina o comportamento de Deus, mas a sua bondade.
Seria, portanto, um erro fazer do perdão de Jesus um acto exemplar das relações sociais, que iria banir todas as lutas pela justiça, aguardando que o explorador se convertesse. O acto de Jesus é o acto dum homem que enfrentou o mal, sob todas as suas formas. O seu perdão tem valor, precisamente porque ele não teve receio de dizer a verdade e de tomar partido: «Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça»: A justiça superior não consiste em destruir o malfeitor, mas em libertá-lo do seu desejo destruidor. O perdão não consiste em deixá-lo perseverar nesse mau desejo, mas em abrir-lhe a possibilidade duma outra relação. O perdão de Jesus revela, simultaneamente, a profundidade do mal e a altura da sua esperança. Nem a sua palavra, nem os sinais, nem a sua autoridade, nem a sua liberdade, mudaram o coração dos seus adversários. E os evangelhos fazem alusão à cólera de Jesus, perante tal dureza. Jesus sabe que o poder também não terá mais valor: não mudaria essa dureza. Pelo contrário, poderia justificá-la. Somente o acto mais oposto a essa dureza pode esperar despedaçá-la: o perdão daquele mesmo que é perseguido.
O perdão de Jesus não é uma caução dada ao opressor, para continuar a oprimir, nem uma ilusão pregada ao oprimido, para não tomar em mãos a causa da sua libertação. Seria compreender mal aquilo de que se trata na Paixão de Jesus, se nela discerníssemos a condenação da luta de classes, da legítima defesa, do empreendimento revolucionário. O acto exemplar de Jesus não é um programa político ou uma regra de governo social. Manifesta que toda a justiça é relativa: não pode impedir o malfeitor de ser malfeitor, não pode fundar com ele uma relação criadora. E, assim, a dinâmica do perdão actua em todo o empreendimento, mesmo que seja uma revolução violenta, que pretenda estabelecer novas relações e não somente realizar substituições de poder.
A coragem de Jesus na sua esperança não é separável da sua lucidez e das suas exigências. O perdão não é um «deixa correr»; é a maior exigência de conversão, pois é dado por Aquele que sentiu, até na própria carne, o horror do mal.
A nossa reflexão tinha, por ponto de partida, a noção de «redenção» (libertação).
Descobrimos que Jesus nos torna livres, relativamente ao destino tecido pelo pecado. O termo «libertação» está na moda e, por isso, é necessário precisar as consequências do que acabámos de dizer. Fala-se, com efeito, de libertação política, social, cultural, sexual. O homem contemporâneo sente-se oprimido ou reprimido. Tem consciência de não ser livre e aspira à liberdade. Atribui causas diferentes à sua escravidão: para uns, é o sistema económico que, pela alienação produzida, priva o homem de toda a liberdade real; outros acusam a crise de civilização e outros, finalmente, dão razões psicanalíticas. Perante esta proliferação de escravidões, o crente sente-se tentado a discernir um mal-estar que proviria da ausência de ideais e do desaparecimento dos valores religiosos. Vai até propor Jesus como remédio para o mal actual. Assim compreendida, a libertação concedida por Jesus é uma ilusão.
Jesus não propõe um programa social, cultural, sexual. Não dá um remédio milagroso que, em todas as circunstâncias e em todos os lugares, fizesse com que a humanidade atingisse o sentimento da própria liberdade. Jesus recusou-se a tomar o poder, não propôs qualquer lei e, ressuscitado, não transformou, por um acto de poder, as nossas condições materiais: incita-nos a sermos os criadores da nossa história, pois nos liberta da obsessão dum Deus para o qual a ordem fosse o bem supremo. Abre um espaço novo do encontro com Deus: o nosso mundo, tal como o fizermos nós mesmos, na alegria ou no medo, na fantasia ou no enfado. Deus está onde vive, chora, se recreia, trabalha, cria, morre o nosso semelhante. Lei alguma define este modo de relação de que somos responsáveis.
Sendo libertados das imagens opressivas de Deus, libertados da oposição ancestral e ainda dominante entre Deus e o homem, somos libertados do recalcamento em nós mesmos do mal que produzimos. Jesus despedaçou o destino cósmico ao qual os próprios deuses antigos estavam submetidos; mas o destino mais trágico é o que forjamos nós mesmos, pelo mal que produzimos e cujas consequências são irreversíveis. Pode criar vergonha e desespero, ódio de nós mesmos. Este destino é despedaçado, porque alguém perdoa e se abre um novo futuro. E, assim, o «pecado», princípio «homicida» segundo S. João, recusa de co-existir, já não tem a última palavra. Se S. Paulo viu, na «morte» de Jesus, a destruição da morte, quis dizer com isso que nenhum destino está tão bem fechado que não possa voltar a ser aberto por uma nova criação. Assim Jesus torna-nos livres relativamente a nós mesmos, porque o que seria irreversível sob o nosso julgamento, torna-se ponto de partida sob o perdão. Nada exprime melhor esta certeza do que o hino escrito por S. Paulo:

“Se Deus está por nós, quem estará contra nós?
Deus, que não poupou Seu próprio Filho, mas O entregou à morte por todos nós, como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas?
Quem acusará os eleitos de Deus, se Deus os justifica?
E quem os condenará, se Cristo Jesus morreu e, mais ainda, ressuscitou, está à direita de Deus e intercede por nós?
Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou a espada?
Mas em tudo isto somos vencedores, graças Àquele que nos amou.
Na verdade, eu estou certo de que nem a morte nem a vida, nem os Anjos nem os Principados, nem o presente nem o futuro, nem as Potestades, nem a altura nem a profundidade nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que se manifestou em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rom. 8, 31b-35.37-39).

Cântico
Eu deste monte estou a ver o mar
Um mar de gente que não tem um lar
É um sobejo é um sobejo baixo
Canção tão triste paira sobre as ondas
É o lamento de homens a chorar
É um lamento é um lamento o mar

Refrão
Quem vê as ondas
Quem vê as ondas do mar
Não fica em terra
Não fica em terra a olhar

Lá mais ao fundo longe deste pranto
Vive uma gente que não sabe amar
É um tormento é um tormento amar
Vivem num reino feito de cristal
Vivem de sonhos sem querer olhar
Este sobejo este sobejo baixo (Refrão)

Na noite escura vem um monstro irado
Consome as vidas deste mar humano
É deste reino é deste reino o mal
É deste monstro que vive o cristal
E os dois combinam ter um povo em pranto
Esquecimento esquecimento brando (Refrão)

Canção tão triste paira sobre as ondas
Será um hino de libertação
Não será pranto não será pranto o mar
E o cristal será quebrado e o mar
Terá nas mãos um monstro domado
É deste reino, é deste reino o bem (Refrão)

Refrão final
Quem vê as ondas
Quem vê as ondas do mar
Não fica em terra
Não fica em terra a olhar
Quem vê as ondas
Quem vê as ondas do mar
Não fica em terra
Tem Deus que o manda avançar

António Samelo

domingo, junho 10

10º Domingo do Tempo Comum - Ano C

Em cada domingo do Tempo Comum somos convidados(as) a celebrar uma dimensão da Igreja da Tri-Unidade, que somos.

Neste 10º domingo:

Refrão
Eu voltarei a cantar
O amor e a esperança
Eu voltarei a cantar
Os caminhos para a paz

1. Quando os frios chegarem
As flores morrerão
Mas com a Primavera
De novo renascerão
Talvez me vejas chorar
Quando um amigo parte
A morte leva-me os meus
Mas eu sei que voltarão (Refrão)

2. Talvez me vejas morrer
Talvez me vejas partir
Não chores se és amigo
Voltar-me-ás a encontrar
Não sei onde nem quando
Mas será num lugar
Onde não haja grades
E onde possa cantar (Refrão)

Somos testemunhas da esperança, porque Jesus é o Senhor da Vida
Diante de uma morte inexplicável ou de uma desgraça, ainda hoje, muitos falam de "castigos de Deus" e acham que Deus manda doenças para punir os pecados (1ª leitura). Quem se comporta assim não tem fé no Deus da Vida. Deus é bom e quer a vida e a felicidade de todose todas: nunca castiga ninguém!
A vida que o cristianismo propõe é só uma - a morte é um “berço” onde desabrocha mais vida, a vida plena.

Jesus, Senhor da Vida
Quando, no versículo 22 do mesmo capítulo 7, Jesus disser, para definir a sua identidade: “os mortos ressuscitam”, enunciará um facto já acontecido. Esta esperança messiânica baseava-se em Is 61, 1; 55, 5-6; 26, 19. Neste contexto, o judaísmo previa - para o fim dos tempos e a inauguração da era messiânica, em que o Messias curaria todos os sofrimentos e deficiências humanas - uma ressurreição geral dos filhos de Israel mortos anteriormente, e esperava que Elias voltasse à terra para presidir à inauguração desses tempos.
Mas o milagre que Jesus faz de reanimar um cadáver, embora revele o domínio sobre a morte, não é senão um sinal: é apenas uma vitória momentânea, não definitiva. A libertação total da morte e de todo mal e, portanto, a “salvação definitiva da vida” só acontece na “ressurreição de Jesus”.
A ressurreição de Jesus não é uma reanimação dum cadáver, mas uma “animação” nova, gloriosa, diferente daquela da encarnação. É a entrada de Cristo numa condição de existência. A ressurreição de Jesus é o acto divino por meio do qual Deus nos salva hoje e à humanidade inteira na nossa existência humana. A salvação não está, pois, na pessoa humana ou na humanidade inteira, nem no seu desenvolvimento progressivo, ainda que prolongado até ao infinito.
É necessária uma “passagem”, uma intervenção divina absolutamente nova; a passagem da pessoa humana para e em Deus, isto é, a páscoa de Cristo, que o Pai realiza no seu Filho feito carne. Passagem da pessoa humana para e em Deus, que abarca a pessoa toda, a história e o universo. No evangelho, Lucas, iluminando com luz pascal a narrativa do milagre, diz: “O Senhor teve compaixão dela”. Descreve um grande acontecimento humano: o encontro da morte e da Vida. Nos caminhos da cidade de Naim dois cortejos se encontram: Jesus compadece-se da mãe viúva (que representa toda a humanidade abatida e desesperada), interrompe a caminhada para a morte e diz à mãe: «não chores» e ao filho: «levanta-te!»
O pranto torna-se um canto de alegria e todos glorificam o Senhor, exclamando: «Um grande profeta surgiu entre nós e Deus VISITOU o seu povo». A grande novidade não foi adiar a morte por alguns anos, mas o que o facto encerra: a morte foi vencida... Jesus é o SENHOR DA VIDA. Ele não abandona a pessoa humana nas garras da morte, mas ressuscita-a a fim de que viva para sempre: «A glória de Deus é o homem vivente» [SANTO IRENEU (135/140-204)].

Testemunhas da Esperança
Em Cristo Jesus, o futuro já é presente. Contemplando o mundo, esse teatro imenso onde se desenrola a acção maravilhosa da pessoa humana, temos alternadamente a sensação de um gigantesco e assustador vazio ou de uma realidade absoluta e consoladora. Depende de como o encaramos; se olharmos com os olhos da fé na ressurreição, isto é, da fé em que o mundo e a história estão salvos para sempre do esvaziamento do não-ser, permanecemos confiantes, porque a nossa história é, no tempo, a história da morte e ressurreição de Jesus. A humanidade tem diante de si não o nada sem fim, mas a vida plena sem fim. Cristo ressuscitado é o futuro da pessoa humana.
Por isso, no teatro deste mundo seremos testemunhas da esperança, porque testemunhas do Senhor da Vida, quando quotidianamente:

• acontecer ressurreição na família, na escola, no trabalho e na coragem das decisões;
• os critérios das bem-aventuranças e do sermão da montanha (cf Mt 5─7) predominarem sobre os da corrupção e da mentira;
• o coração das pessoas e simultaneamente as estruturas se forem transformando (ainda que lentamente!);
• a Palavra, a Eucaristia e o Perdão criarem uma pessoa nova.

Não é o mundo que precisa de cura! É a pessoa!

Refrão
Nós cremos, Senhor,
que Tu nos dá a mão
cada instante, cada dia;
Nós cremos, Senhor,
que temos Teu amor
a viver dentro de nós!
Nós cremos, Senhor,
que a terra vai p’ra Ti,
cada instante, cada dia;
Nós cremos, Senhor,
que vives entre nós
no amor que nos uniu!

1. Quando caem as fronteiras
E se calam os canhões;
Quando a espr’ança florescer
Nós sabemos que Tu vens!
Quando p’ra findar a guerra
Nem vencidos nem vencedores;
Quando a paz vem do amor
Nós sabemos que Tu vens!

2. Quando não há mais impérios
Nem separações raciais;
Quando se pode escolher
Nós sabemos que Tu vens!
Quando o pão chega p’ra todos,
A escola e a habitação;
Quando os pobres são promovidos
Nós sabemos que Tu vens!

3. Quando o salário é justo
E há trabalho p’ra cada lar;
Quando o lucro é dividido
Nós sabemos que Tu vens!
Quando dispensada a esmola,
A justiça triunfar
Verdadeira caridade
Nós sabemos que Tu vens!

4. Quando há chefes responsáveis
E seu lema é só servir
E há p’ra todos liberdade
Nós sabemos que Tu vens!
Se o cristão se compromete
Este mundo transformar;
Quando a Igreja tem coragem
Nós sabemos que Tu vens!

António Samelo

Acção de Graças

O senhor João Sanches suicidou-se.
Era pai da Ana Rita.
Era doente bipolar e o que foi sofrimento na sua vida, terminou.

Que agradeceremos num dia assim?

- Pois agradeçamos, ao Senhor da Vida, todas as nossas vidas. As saudáveis e as doentes, as vidas realizadas e as vidas sofridas.

- Pois agradeçamos esta vida que passou mais perto de nós do que demos conta, seguramente mais necessitada da nossa ajuda do que aquela que lhe soubemos dar.

- Pois agradeçamos a solidariedade que somos capazes de realizar no dia-a-dia. Nem sempre toda, nem sempre muita, mas sem nunca perdermos a certeza do amor ao próximo e ao longínquo.

- Pois agradeçamos a Maria Rita, esposa do senhor João, mãe da Ana Rita. A sua vida de carinho ao lado de quem sofreu por longos anos.

- Pois agradeçamos a Ana Rita, nossa companheira de viagem nesta Comunidade de Acolhimento. Lado a lado na dor e no absurdo, dulcifiquemos a primeira, signifiquemos o segundo.

- Pois agradeçamos o João Luís, amor da Ana Rita, sua paz de sempre, sua força presente e futura.

- Pois agradeçamos, também, o Zé Filipe e a Inês que hoje receberam o Sacramento do Crisma, a força suavíssima e exigente do Santo Espírito.

- Pois agradeçamos, por fim, mas sem nunca encerrar o agradecimento, todas e todos os que aqui estamos. Somos as vozes que cantam a alegria de sermos chamados filhos de Deus.

Augusta Mateus e José Carlos Patrício