Sandro Botticelli, Cena de Sacrifício Judeu e a Tentação de Cristo, cerca de 1481-82, Fresco, 345 x 555 cm,
Roma, Capela SistinaEste Domingo a nossa celebração teve participações riquíssimas: para além do testemunho que nos foi enviado, por escrito, pela Margarida Gonçalves (voluntária da AFS-Portugal e médica), contámos com a presença da Gabriela Portugal e da Ana Paula Aveleira, que nos vieram falar do projecto
Melhorar a Educação de Infância, na Guiné-Bissau (MEI-GB) em que estão envolvidas e para o qual pedem a colaboração da nossa Comunidade; como foi por elas descrito, é urgente a recolha de materiais lúdicos e didácticos para apetrechar os Jardins de Infância que, através da Fundação Educação e Desenvolvimento, o referido projecto apoia, em Bissau.
Juntamos aqui a imagem do "cartaz" e a carta que elas nos dirigiram:
Ex.mos Senhores
Comunidade de Acolhimento João XXIII
Rua dos Combatentes
3030-181 Coimbra
Assunto: Projecto "Melhorar a Educação de Infância, na Guiné-Bissau" (MEI-GB) – recolha de materiais lúdicos e didácticos
Data: 2006-03-07
A Universidade de Aveiro celebrou um Protocolo de Cooperação com a Fundação Educação e Desenvolvimento, da Guiné-Bissau, para a concretização de acções nos domínios da Educação de Infância e Formação de Recursos Humanos para a Educação.
No âmbito desse Protocolo, desenvolveu-se o projecto "Melhorar a Educação de Infância na Guiné-Bissau" enquadrado nas actividades do Departamento de Ciências da Educação e respectiva Unidade de Investigação, tendo-se realizado várias iniciativas de trabalho com vista a formar, apoiar e acompanhar os educadores do terreno. Neste mesmo contexto, pretende-se levar a cabo um movimento de sensibilização e de recolha de materiais lúdicos e didácticos para apetrechamento de um centro de recursos educativos sediado nas instalações da Fundação Educação e Desenvolvimento, em Bissau.
Nesse sentido, solicitamos a divulgação e apoio à iniciativa, no espaço que vos aprouver, sugerindo como elemento de contacto com a organização do movimento a Dra. Maria do Carmo Lopes.
Ao vosso dispor, apresentamos os nossos melhores cumprimentos.
Gabriela Portugal*
(Responsável p/ Projecto MEI-GB)
Gabriela Portugal: 234 370625 ; gabip@dce.ua.pt(clicar para aumentar)Quanto ao
testemunho que nos foi enviado, ele também aqui fica para nossa reflexão:
Antes de tudo gostava de vos dizer que nunca senti que a minha participação associativa e de voluntariado estivesse ligada ao facto de não ser crente. Penso que o "não acreditar" não condicionou ou modelou essa participação (será que assim é? – uma questão interessante que fica para mim, a partir da vossa sugestão).
Em traços resumidos, o meu percurso de voluntariado começou aos 17 anos quando participei num programa de intercâmbio (AFS), vivendo 11 meses numa família de acolhimento em Wilmington, Delaware, Estados Unidos da América. Foi um ano emocionalmente intenso, cheio de inquietações e descobertas, um ano difícil mas com muitas alegrias.
Quando regressei a Portugal senti uma grande vontade de partilhar a minha experiência e, de alguma forma, contribuir para que outros a pudessem ter. Para tal, envolvi-me na associação juvenil Intercultura AFS Portugal. Mais do que essa vontade, havia ainda necessidade quase absoluta de estar com os amigos, que tinha entretanto feito e que tinham vivido essa mesma experiência no estrangeiro.
No fundo, o motivo que me levou ao voluntariado foi o afecto, a vontade de manter as relações, de partilhar as angústias, as dúvidas, as conquistas e as readaptações de quem vive uma experiência de imersão cultural.
Do afecto, sinto que fui amadurecendo para a participação política: reflectir as questões da interculturalidade, não só no abstracto, mas trazê-las para o quotidiano – da minha vida, da associação, de outros projectos em que, entretanto, me envolvi...
Aquilo que vivi ao longo dos anos como voluntária da Intercultura foi fundamental para o meu percurso pessoal e profissional. Como já disse, parti da experiência pessoal, comecei pelo incentivo do afecto, cresci então para a reflexão, formação e participação associativa, tentando trazer as questões das minorias, do viver com o diferente, da interculturalidade para a ordem do dia. Mas, sobretudo, tentando desenvolver projectos na comunidade, que modificassem o nosso dia-a-dia, "metendo um pauzinho na engrenagem".
É verdade que esta participação me tirou horas de estudo, de diversão, de namoro, de estar com a família e amigos, mas também me trouxe inúmeras horas de alegria, de novos afectos e relações, de discussão e de "aprenderes", que sinto que aplico hoje, diariamente, na minha profissão e no meu "estar". Não só no que diz respeito às experiências e aprendizagens interculturais propriamente ditas, mas também ao aprender a participar em associação, em coordenar projectos e actividades, no fundo, em actuar na Cidade.
Uma das experiências mais gratificantes em que participei na Intercultura, a título de exemplo do que enunciei antes, foi um projecto que envolvia um grupo de jovens de um bairro social dos arredores de Lisboa, quase todos filhos de imigrantes cabo-verdianos, em conjunto com um outro grupo de jovens irlandeses, de um bairro social de Dublin. Este projecto durou quase dois anos. Ao longo deste tempo, semanalmente, os jovens foram trabalhando questões de educação, cidadania, tolerância, racismo e xenofobia, ou seja, como é ser uma minoria (étnica e/ou social) na cidade. Em dois momentos, os jovens viveram um intercâmbio, com acolhimento nas próprias famílias e partilha de experiências e saberes.
Este projecto foi, depois, ponto de partida para outro, que se prolongou por um ano e meio, na área da saúde comunitária (prevenção de doenças sexualmente transmissíveis) no mesmo bairro.
Isto também para dizer que as experiências se vão entrecruzando e que se criam pontes entre os vários universos – pesssoal, de voluntariado, académico e profissional. Mais uma vez percebo que o sempre me motivou e marcou foram as relações que fui criando, com outros voluntários, jovens dos vários projectos, com colegas da faculdade.
Nos últimos dois anos, a minha vida profissional não me permitiu uma participação maior em espaços associativos – e não me consegui organizar para isso. Sinto falta de estar com outros, num espaço que me ajude a reflectir a minha condição de cidadania.
Espero que, mesmo longe e por escrito, sem possibilidade de partilhar um pouco mais das minhas experiências, isto sirva para de algum modo lançar o vosso debate.
Margarida Gonçalves
Lisboa, Março 2006Nota: como já deu para reparar, estamos a aprender a inserir imagens e outros materiais no nosso blog... esta já está, graças ao Miguel Marujo, que a partir de Lisboa nos ensinou, via telefone. Fica aquele abraço!