domingo, outubro 9

Salmo, cantado por Bobby McFerrin

1 Salmo de David.


O SENHOR é meu pastor: nada me falta.
The Lord is my Shepard: I have all I need.
2 Em verdes prados me faz descansar
She makes me lie down in green meadows,
e conduz-me às águas refrescantes.
Beside the still waters, she will lead.
3 Reconforta a minha alma
She restores my soul
e guia-me por caminhos rectos, por amor do seu nome.
She rights my wrongs, She leads me in a path of good things,
And fills my heart with songs.

4 Ainda que atravesse vales tenebrosos
Even though I walk, through a dark and dreary land,
de nenhum mal terei medo
there is nothing that can shake me
porque Tu estás comigo.
She has said She won't forsake me,
A tua vara e o teu cajado dão-me confiança.
I'm in her hand.
5 Preparas a mesa para mim,
She sets a table before me,
à vista dos meus inimigos;
In the presence of my foes,
ungiste com óleo a minha cabeça;
She anoints my head with oil,
a minha taça transbordou.
And my cup overflows.
6 Na verdade, a tua bondade e o teu amor
Surely, surely goodness and kindness
hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida,
Will follow me all the days of my life,
e habitarei na casa do SENHOR
And I will live in her house,
para todo o sempre.
Forever, forever and ever.


Glory be to our Mother, and Daughter,
And to the Holy of Holies,
As it was in the beginning, is now and ever shall be,
World, without end. Amen.


Celebração de 9 de Outubro de 2005, tendo passado a integrar o cancioneiro

segunda-feira, julho 11

oração penitencial

Senhor, nosso Deus, diante da imensidão do mar e dos milhões de milhões de grãos de areia, experimentamos melhor a nossa pequenez e sentimo-nos convocados a pedir o teu perdão
Perdoa-nos, Pai, porque não confiámos. O nevoeiro da podridão humana, feito de pedofilia, de corrupção, de mediocridade mediática e de violência, toldou-nos o olhar e deixámo-nos dominar pela desesperança. Construímos esta Comunidade com as pedras do entusiasmo e do arrojo. Mas, este ano que passou, fomos muitas vezes homens e mulheres de pouca fé. Desculpa, Pai.
Perdoa-nos, Pai, porque cuidámos pouco deste pedacito da tua Igreja. Contentámo-nos em sermos poucos, em sermos pouco exigentes com a nossa formação, satisfizemo-nos com o discurso comum sobre a escolha do Papa, do perdão da dívida dos países mais pobres ou das opções da guerra e da paz, mantivemo-nos confortavelmente distantes dos novos e difíceis debates sobre investigação teológica, ciência e cultura e fomos gerindo, domingo a domingo, a nossa permanência. Devíamos ter dado muito mais frutos. Desculpa, Pai.
Perdoa-nos, Pai, porque deixámos que o silêncio se abatesse sobre as nossas dificuldades. Os desamores dos nossos filhos, e os nossos, mal disfarçados, a vertigem da desistência que se atravessou tantas vezes no nosso caminho, o abandono da fé em Jesus de alguns que começaram esta aventura connosco. Todos esses e outros problemas da vida passaram pouco por dentro da nossa Comunidade. Desculpa, Pai.
Perdoa-nos, Pai, pela nossa incoerência. Fomos fustigados pela verdade dos sem-abrigo e dos excluídos de Coimbra e não nos dispusemos a mais do que a reunir de emergência ama mão cheia de cobertores. Fomos despertados para a condição precária da nossa irmã Hermínia, uma entre tantas outras, e, querendo ser solidários, garantimos-lhe o sustento mas não tocámos mais fundo a sua condição humana frágil. Somos gente com vontade de fazer o bem. Mas falta-nos ambição e radicalidade. Por isso, desculpa Pai.
Perdoa-nos, Pai, porque continuamos a emocionar-nos muito mais com a morte do que com a vida. A irmã morte já nos visitou várias vezes e deixou-nos arrasados, com um terrível sentimento de perda e de incredulidade. Estranhamente, não fomos capazes de perceber outros momentos – o regresso de alguém que andou longe, o empenhamento denso e exigente de tantos de nós na política, na escola, na profissão, no associativismo, a oportunidade de um horizonte renovado para a Hermínia, a dádiva gratuita do Zé Pedro a crianças órfãs nos confins do Peru – como sinais fascinantes de uma vida que se nos dá com surpresa e admiração e que compensa a dor com a alegria e a perda com a noção de construção permanente. Por isso, desculpa Pai.
Perdoa-nos, Pai, por estes e outros pecados contra ti, isto é, contra cada um dos mais pequeninos que nos é próximo. Dá-nos força para continuarmos a acreditar que esta Comunidade é sinal de vida nova e ajuda-nos a superar os nossos abatimentos e as nossas desilusões. Mostra-nos, como só Tu sabes, que a construção da vida em abundância está sempre à frente no nosso caminho.

domingo, junho 19

Credo da Confiança

Creio por isso confio.
Creio num só Deus, num Deus que é amor, por isso confio que a História caminha para o Bem.
Creio que Deus é Pai, por isso confio nos irmãos que vivem ao meu lado, mesmo naqueles de quem deveria desconfiar.
Creio que Jesus de Nazaré é Cristo, que pela Sua vontade habitou entre nós, por isso confio num Deus que tomou a iniciativa de nos amar primeiro.
Creio que Jesus viveu como nós, de maneira totalmente humana, por isso confio que tudo o que é plenamente humano é bom, porque também Deus o experimentou.
Creio que Jesus viveu pregando o bem e a liberdade plena, por isso confio no testemunho de vida.
Creio que Cristo subverteu a ideia de Deus: foi condenado pelos homens do seu tempo e aceitou morrer na cruz, por isso confio que mais vale perdoar do que vingar-se.
Creio que Jesus ressuscitou ao terceiro dia, por isso confio que não estamos condenados ao nada.
Creio que como o vento, o Espírito Santo sopra onde e quando quer, por isso confio que onde menos esperamos podemos encontrar a verdade e o bem.
Creio na Igreja-Povo de Deus, simultaneamente una e diversa, santa e imperfeita, Católica e apostólica, por isso confio que vale a pena participar na comunidade crente.
Creio num só Deus, num Deus que é amor, por isso confio que mais vale amar.

domingo, junho 12

"Dimensão social da fé"

«Fiéis à Verdade, irmãos e irmãs, continuemos a participação na realeza de Cristo, servindo como Ele, Senhor e Mestre, fez e ensinou. Este é o caminho: cristãos no aconchego da intimidade pessoal; cristãos no interior do lar, como esposos, pais e mães e filhos, em "igreja doméstica"; cristãos na rua, como homens e mulheres situados; cristãos na vida em comunidade, no trabalho, nos encontros profissionais e empresariais, no grupo, no sindicato, no divertimento, no lazer, etc.; cristãos na sociedade, ocupando cargos elevados ou prestando serviços humildes; cristãos na partilha da sorte dos irmãos menos favorecidos; cristãos na participação social e política; enfim, cristãos sempre, na presença e glorificação de Deus, Senhor da vida e da história.»

(João Paulo II, Leigos comprometidos na Igreja e no mundo, Disc. na Sé Catedral de Lisboa, 12 de Maio de 1982)

domingo, junho 5

a bondade é mais forte

Há uma espécie de restrição, de fechamento na culpabilidade e no mal. Eu não subestimo de forma nenhuma este problema. Mas aquilo que tenho necessidade de verificar é que, por muito radical que seja o mal, não é tão profundo como a bondade. E se a religião, as religiões, têm um sentido, é precisamente o de libertar o fundo de bondade dos homens, de o procurar onde ele está completamente escondido.
Nós andamos sobrecarregados pelos discursos, pelas polémicas, pelo assalto do virtual; hoje há como que uma zona opaca e existe esta certeza profunda a libertar, a resgatar; a bondade é mais profunda que o mal mais profundo. Não basta sentir isto. É preciso dar-lhe uma linguagem. Para mim, a liturgia não é simplesmente uma acção. É um pensamento. Na liturgia encontra-se uma teologia escondida, discreta, que se resume nesta ideia: “A lei da oração é a lei da fé”.

Pertencemos à civilização que efectivamente matou Deus, isto é, que fez prevalecer o absurdo e o sem-sentido sobre o sentido. Eu penso que há nisso um protesto profundo. O protesto situa-se ainda no pólo negativo: diz não ao não. O movimento do protesto para a atestação passa pela oração. Esta manhã os cânticos, as orações tinham a forma do vocativo: “Oh” no exortativo e na aclamação. Penso que aclamar a bondade é o hino fundamental.
Gosto muito da palavra felicidade. Saúdo-a como um reconhecimento nos três sentidos da palavra: reconheço-a como sendo minha, aprovo-a no outro e tenho gratidão por aquilo que dela conheci, essas pequenas felicidades, entre as quais as da memória para me curar das grandes desgraças do esquecimento. (Paul Ricoeur)

domingo, maio 1

Creio na Igreja

Creio na Igreja Una
Una porque há um só Deus que se manifesta de maneiras diversas. Una porque nos sentimos unidos a todos os nossos irmãos que professam o Deus de Jesus Cristo, unidos a todas as Religiões que veneram o que há de sagrado e transcendente na nossa existência, unidos a todas as pessoas de boa vontade onde o Espírito sopra como e quando quer. Uma Igreja una porque não pretende "um regresso a Roma das ovelhas tresmalhadas", mas porque está em verdadeira união com todos os seus irmãos na fé.

Creio na Igreja Católica
Católica porque a sua Mensagem é maior do que ela. Porque é uma Igreja que quer falar a todas as pessoas de boa vontade. Uma Igreja que não é eurocêntrica, nem ocidental, mas que escuta o clamor dos povos de todos os cantos da Terra.

«Desejo e espero que Bento XVI seja católico no desempenho do ministério de Bispo de Roma e de Papa, isto é, que mostre no comportamento e nas obras que a Igreja, para ser católica, tem de ser una e plural.» (Frei Bento Domingues)

Creio na Igreja Apostólica
Creio nas pessoas de boa vontade, creio no seu exemplo, no seu testemunho, na sua fé. Creio na generosidade, no serviço, no empenho. Creio no mandato de cada um e de todos — e não apenas de alguns — na construção de um mundo melhor. Creio na acção e na missão, não creio nas cruzadas. Creio no amor, verdade universal que se sobrepõe às verdades parciais fechadas em capelas. Creio neste Deus que sai dos muros das igrejas, que faz do mundo Igreja, e se revela, plenamente, em cada acto de bondade da humanidade.

[em actualização]

a Igreja e as multidões

«Da crise actual, uma Igreja emergirá amanhã que terá perdido muito. Será uma Igreja pequena e terá de começar do início. Já não será capaz de encher muitos edifícios construídos nos seus tempos áureos. Ao contrário do que aconteceu até hoje, ela apresentar-se-á muito mais como uma comunidade de voluntários.
Como pequena comunidade, ela exigirá muito mais a iniciativa de cada um dos seus membros e certamente reconhecerá novas formas de ministério e criará cristãos com uma formação sólida que serão chamados à presidência da comunidade. O normal cuidado das almas estará a cargo de pequenas comunidades em grupos sociais com alguma afinidade.
Isto será atingido com esforço e exigirá muito empenho. Tornará a Igreja pobre e numa Igreja dos pobres e humildes. Tudo isto exigirá tempo. Será um processo lento e doloroso.
»

Joseph Ratzinger, 1971, "Fé e Futuro", ed. Vozes.