Senhor, nosso Deus, diante da imensidão do mar e dos milhões de milhões de grãos de areia, experimentamos melhor a nossa pequenez e sentimo-nos convocados a pedir o teu perdão
Perdoa-nos, Pai, porque não confiámos. O nevoeiro da podridão humana, feito de pedofilia, de corrupção, de mediocridade mediática e de violência, toldou-nos o olhar e deixámo-nos dominar pela desesperança. Construímos esta Comunidade com as pedras do entusiasmo e do arrojo. Mas, este ano que passou, fomos muitas vezes homens e mulheres de pouca fé. Desculpa, Pai.
Perdoa-nos, Pai, porque cuidámos pouco deste pedacito da tua Igreja. Contentámo-nos em sermos poucos, em sermos pouco exigentes com a nossa formação, satisfizemo-nos com o discurso comum sobre a escolha do Papa, do perdão da dívida dos países mais pobres ou das opções da guerra e da paz, mantivemo-nos confortavelmente distantes dos novos e difíceis debates sobre investigação teológica, ciência e cultura e fomos gerindo, domingo a domingo, a nossa permanência. Devíamos ter dado muito mais frutos. Desculpa, Pai.
Perdoa-nos, Pai, porque deixámos que o silêncio se abatesse sobre as nossas dificuldades. Os desamores dos nossos filhos, e os nossos, mal disfarçados, a vertigem da desistência que se atravessou tantas vezes no nosso caminho, o abandono da fé em Jesus de alguns que começaram esta aventura connosco. Todos esses e outros problemas da vida passaram pouco por dentro da nossa Comunidade. Desculpa, Pai.
Perdoa-nos, Pai, pela nossa incoerência. Fomos fustigados pela verdade dos sem-abrigo e dos excluídos de Coimbra e não nos dispusemos a mais do que a reunir de emergência ama mão cheia de cobertores. Fomos despertados para a condição precária da nossa irmã Hermínia, uma entre tantas outras, e, querendo ser solidários, garantimos-lhe o sustento mas não tocámos mais fundo a sua condição humana frágil. Somos gente com vontade de fazer o bem. Mas falta-nos ambição e radicalidade. Por isso, desculpa Pai.
Perdoa-nos, Pai, porque continuamos a emocionar-nos muito mais com a morte do que com a vida. A irmã morte já nos visitou várias vezes e deixou-nos arrasados, com um terrível sentimento de perda e de incredulidade. Estranhamente, não fomos capazes de perceber outros momentos – o regresso de alguém que andou longe, o empenhamento denso e exigente de tantos de nós na política, na escola, na profissão, no associativismo, a oportunidade de um horizonte renovado para a Hermínia, a dádiva gratuita do Zé Pedro a crianças órfãs nos confins do Peru – como sinais fascinantes de uma vida que se nos dá com surpresa e admiração e que compensa a dor com a alegria e a perda com a noção de construção permanente. Por isso, desculpa Pai.
Perdoa-nos, Pai, por estes e outros pecados contra ti, isto é, contra cada um dos mais pequeninos que nos é próximo. Dá-nos força para continuarmos a acreditar que esta Comunidade é sinal de vida nova e ajuda-nos a superar os nossos abatimentos e as nossas desilusões. Mostra-nos, como só Tu sabes, que a construção da vida em abundância está sempre à frente no nosso caminho.
segunda-feira, julho 11
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