domingo, setembro 30

26º Domingo do Tempo Comum - Ano C

Regresso das Celebrações

Pois é... regressámos!
À nossa Sala, à Luz com que somos desafiados a olhar o Mundo!
E com mais um texto do Samelo a interpelar-nos!


Lc 16,19-31

Comentário de Fernando ARMELLINI, O Banquete da Palavra: comentário às leituras dominicais - Ano C, Paulinas, Lisboa, 1997, pp. 453-459 (adaptado)

Caríssimos pobres, neste mundo, a vossa vida é dura e, por vezes, parece realmente um inferno: morais em barracas, sofreis a fome, cobris-vos de trapos, estais cheios de chagas. Os ricos, ao contrário, moram em boas casas, gastam dinheiro em festas, têm bons carros, casas luxuosas, vestidos elegantes. Mas não vos zangueis! No outro mundo, as condições serão modificadas: vós gozareis enquanto eles hão-de sofrer. É só questão de ter um pouco mais de paciência e então haveis de ver: Deus mudará os seus prazeres em sofrimento atroz!
Entendida desta maneira, a parábola do rico e do pobre Lázaro está bem para todos: está bem para os pobres, que pelo menos podem alimentar o sonho de um futuro melhor no além; e está bem igualmente para as ricos que, ao contrário, preferem gozar o paraíso já aqui. E os padres o que fazem? Alguns esforçam-se por incutir o medo do inferno no outro mundo; outros, pelo contrário, defendem que a parábola é um convite a eliminar os infernos horríveis que há neste mundo.
Como interpretar a parábola?
No tempo de Jesus, esperava-se uma mudança das condições sociais. Dizia-se entre a gente pobre: «Um dia, os poderosos serão entregues nas mãos dos justos; estes cortar-lhes-ão o pescoço e matá-los-ão sem dó nem piedade. Os que agora não valem nada dominarão sobre os poderosos e os pobres reinarão sobre os ricos».
Jesus quererá porventura alimentar estes desejos de vingança? Não.
Se quisermos dar um título à parábola, será incorrecto chamar-lhe: a parábola do pobre Lázaro (que não é o protagonista) ou então: a parábola do mau rico. A mensagem central do relato diz respeito ao juízo do Deus de Cristo Jesus sobre a distribuição da riqueza no mundo.

O juízo de Deus sobre as desigualdades deste mundo
Talvez muitos de nós tenhamos a convicção de que há ricos bons e ricos maus. Esta distinção permite-nos pensar que neste mundo pode continuar a haver também as desigualdades mais descaradas. O rico pode viver ao lado do miserável, basta que não roube e que dê esmolas.
Ora, o evangelho diz-nos que não podemos continuar a pensar que os bens que alguém acumula com o próprio trabalho lhe pertencem, que ninguém lhes pode tocar, que pode usá-los como bem entender, que pode até malbaratá-los, se quiser, em divertimentos e pândegas.
É precisamente esta maneira de pensar que para Jesus é inaceitável. É esta convicção (profundamente radicada também no coração dos cristãos) que Ele quer banir. Na parábola, Ele fala de um rico que é condenado não porque fosse mau, mas simplesmente porque era rico, ou seja, porque se fechava no seu mundo e não aceitava a lógica da partilha dos bens com quem estava em necessidade.
Jesus quer dizer-nos que o facto de neste mundo haver duas classes de pessoas - os ricos e os pobres - é contra o projecto de Deus Seu e nosso Pai. Os bens foram dados para todos e quem tem mais deve partilhá-lo com quem tem menos ou não tem nada, de maneira que haja igualdade (cf 2 Cor 8, 13) e para que a todos sejam criadas condições de vida dignas da pessoa humana. Assim: antes que alguém possa conceder a si próprio luxos, é necessário que todos tenham satisfeito as suas necessidades mais elementares.
Comentando esta parábola, Santo Ambrósio, bispo de Milão (340-397), dizia: «Quando dás alguma coisa ao pobre, não lhe dás aquilo que é teu, restituis-lhe apenas o que já é seu, porque a terra e os bens deste mundo são de todos, não dos ricos».
Hoje, a economia do mundo não está estruturada segundo o projecto do Deus de Cristo Jesus: 80% dos recursos estão nas mãos de 25% da população (em 1997!). Poderá um cristão aceitar esta situação? Nos nossos corações alimentamos ou não a mesma aversão que Deus sente contra as injustiças e a desigualdade?
Que devem fazer então os pobres? Começar a roubar e a usar violência contra os ricos? Não, não se cometa o erro de recorrer à violência que nunca resolve nenhum problema, antes cria outros novos e piores. As comunidades cristãs e os seus membros, porque participantes da profecia de Cristo Jesus e iluminados pela Escritura (= «Moisés e os Profetas»), devem anunciar denunciando ao mundo as injustiças que se cometem nos seus países e o sofrimento a que são sujeitos os pobres; devem fazer gestos de protesto fortes, embora não violentos (cf a Petição à Assembleia da República organizada pela Comissão Nacional Justiça e Paz e a entregar até 30 de Setembro de 2007). As comunidades cristãs e cada um de nós devem empenhar-se em mudar o «coração de rico» que trazem consigo: se continuarmos com um coração egoísta, se não tivermos a coragem de partilhar o pouco que ternos com quem é mais pobre, (…) nunca construiremos esse mundo novo onde não há ricos e pobres que disputam avidamente os bens, mas apenas e só irmãos que partilham os dons do Pai.

A terminar vejamos o sentido do nome dado ao pobre: “Lázaro”
Em nenhuma outra parábola Jesus atribui um nome às personagens. Só nesta se diz que o pobre se chamava Lázaro. Ter nome é ser importante!
Quem é que «tem um nome» neste mundo? De quem é que falam os jornais? Dos ricos, de quem tem sucesso… Com Jesus, sucede o contrário. Para Ele, rico é: «um tal sem nome», enquanto o pobre tem um nome muito belo, pois se chama Lázaro, que significa «O Senhor ajuda».
Procuremos perguntar-nos: Quem é importante para nós? Quem é que nós gostamos de referir como sendo nosso amigo?...

Eu deste monte estou a ver o mar
Um mar de gente que não tem um lar
É um sobejo é um sobejo baixo
Canção tão triste paira sobre as ondas
É o lamento de homens a chorar
É um lamento é um lamento o mar

Refrão
QUEM VÊ AS ONDAS
QUEM VÊ AS ONDAS DO MAR
NÃO FICA EM TERRA
- NÃO FICA EM TERRA A OLHAR (última vez: TEM DEUS QUE O MANDA AVANÇAR)

Lá mais ao fundo longe deste pranto
Vive uma gente que não sabe amar
É um tormento é um tormento amar
Vivem num reino feito de cristal
Vivem de sonhos sem querer olhar
Este sobejo este sobejo baixo Refrão

Na noite escura vem um monstro irado
Consome as vidas deste mar humano
É deste reino é deste reino o mal
É deste monstro que vive o cristal
E os dois combinam ter um povo em pranto
Esquecimento esquecimento brando Refrão

Canção tão triste paira sobre as ondas
Será um hino de libertação
Não será pranto não será pranto o mar
E o cristal será quebrado e o mar
Terá nas mãos um monstro domado
E deste reino é deste reino o bem Refrão

António Samelo

quinta-feira, setembro 6