tag:blogger.com,1999:blog-114364472024-03-13T13:30:54.570+00:00Comunidade de Acolhimento João XXIIIUnknownnoreply@blogger.comBlogger105125tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-87599338172657103532013-11-17T11:56:00.001+00:002013-11-17T12:03:08.477+00:00"Dos Homens e dos Deuses"<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/KI2qoPoZYaQ" width="560"></iframe><br />
<span style="background-color: #cccccc;"><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
</span><br />
<div style="color: #222222; text-align: justify;">
<span style="background-color: #cccccc; font-family: Times, Times New Roman, serif;">A Comunidade de Acolhimento Cristão João XXIII vai iniciar um ciclo de cinema sobre "A fé em filme", em que proporá ao público a visualização de um filme a ser comentado por um convidado. Constatámos que esta ideia se cruzava com a proposta que o TEAR (Tecer a Espiritualidade com a Arte e a Reflexão) tem para este ano*. </span></div>
<div style="color: #222222; text-align: justify;">
<span style="background-color: #cccccc; font-family: Times, Times New Roman, serif;">Assim, a primeira sessão do nosso ciclo será também o início dos Encontros Itinerantes que o TEAR propõe para este ano. Para esta sessão convidámos Pedro Mexia (cronista do <i>Expresso</i> e ex diretor da Cinemateca Nacional) para nos ajudar a refletir sobre o filme “Des Hommes et des Dieux”, de 2010, realizado por Xavier Beauvois.</span></div>
<div style="color: #222222; text-align: justify;">
<span style="background-color: #cccccc; font-family: Times, Times New Roman, serif;">A sessão decorrerá no <b>auditório do Museu do Mosteiro Velho de Santa Clara</b>, na próxima <b>2ª feira</b>, dia <b>18 de novembro</b>, pelas <b>21:30 horas</b>.</span></div>
<div style="color: #222222; text-align: justify;">
<span style="background-color: #cccccc; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="color: #222222;">
<span style="background-color: #cccccc; font-family: Times, Times New Roman, serif;">As próximas iniciativas deste ciclo serão oportunamente divulgadas.</span></div>
<div style="color: #222222;">
<span style="background-color: #cccccc;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-tf8bgundwGQ/Uoit7k3z-II/AAAAAAAAASg/6IhaQiMdc8s/s1600/cartaz-7encontros-cinema.png" imageanchor="1" style="background-color: #cccccc; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-tf8bgundwGQ/Uoit7k3z-II/AAAAAAAAASg/6IhaQiMdc8s/s320/cartaz-7encontros-cinema.png" width="225" /></a></div>
<div style="color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: #cccccc;"><br /></span></div>
<div style="color: #222222;">
<u><span style="background-color: #cccccc; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: x-small;"> </span></u></div>
<div style="color: #222222;">
<span style="background-color: #cccccc; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: x-small;">* O TEAR é um projeto do IUJP (Instituto Universitário Justiça e Paz) que tem por objetivo realizar atividades que cruzem a vivência da espiritualidade com a fruição e/ou criação artística, bem como com uma reflexão orientada por especialistas.</span></div>
<div style="color: #222222;">
<span style="background-color: #cccccc; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: x-small;">As sessões serão abertas ao público em geral ou circunscritas a grupos mais restritos, consoante as finalidades de cada atividade <i>de</i> <i>per si.</i></span></div>
<div style="color: #222222;">
<span style="background-color: #cccccc; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: x-small;">Em 2013/2014, a equipa que promove os eventos do TEAR calendarizou, ao longo do ano, <b>Sete Encontros Itinerantes (7EI)</b>, cada um subordinado a <b>uma modalidade artística</b> (Cinema, Arquitetura, Música, Dança, Teatro, Pintura, Literatura) e a <b>um tema específico</b>, tendo em comum a intenção de realizar o cruzamento espiritualidade-arte-reflexão sob orientação de <b>um convidado</b> ou um conjunto de convidados.</span></div>
<div style="color: #222222;">
<span style="background-color: #cccccc; font-family: Times, Times New Roman, serif; font-size: x-small;">Procuramos proporcionar ao público que cada encontro decorra num espaço da cidade de Coimbra que tenha sido candidato a património da humanidade ou cuja relevância histórico-cultural seja reconhecida.</span></div>
João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-71049768337861332492013-07-18T11:45:00.000+01:002013-07-18T11:48:45.724+01:00José Dias da Silva (1942-2013): quando o Acolhimento se revela num sorriso rasgado no olharTomo a liberdade de <i>usar</i> as palavras do Zé Carlos Patrício como tendo sido escritas e rezadas, também, em nome de todas e todos nós, Comunidade de Acolhimento Cristão João XXIII.<br />
<br />
<br />
"<span style="font-size: x-small;">Para o Zé</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-UnUubd9m3f0/UefGMbecIOI/AAAAAAAAALU/TqJ1cvj1f9Y/s1600/G_ma%CC%83os.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="143" src="http://1.bp.blogspot.com/-UnUubd9m3f0/UefGMbecIOI/AAAAAAAAALU/TqJ1cvj1f9Y/s200/G_ma%CC%83os.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Não são de tristeza...<br />
<br />
<br />
<br />
<b>Não são de tristeza as minhas horas</b><br />
mas de paz como um lago amanhecendo.<br />
<br />
E quando a dor espreita nestas horas<br />
ela vem mansinha, quase envergonhada.<br />
<br />
Porque um amigo assim nunca morre, nunca parte,<br />
apenas se muda de lugar,<br />
para que, mais fundo, a minha vista veja.<br />
<br />
<b>Não são de amargura as minhas horas,</b><br />
porque semeada está a minha terra<br />
com o seu amor que é eterno,<br />
com o seu exemplo que perdura.<br />
<br />
Fez, para mim, a cara alegre de quem anima.<br />
Fez, para mim, a cara dura de quem emenda.<br />
<br />
Estivemos, ombro a ombro, no mesmo altar<br />
buscando o mesmo Deus de maravilha<br />
e abraçámos, juntos, as incertezas do caminho<br />
e bebemos, a meias, a doçura do Divino.<br />
<br />
<b>Não são de perdição as minhas horas</b><br />
porque deu ao coração boas certezas.<br />
<br />
Ele foi à frente amando a criatura<br />
e eu, apenas, poisando os pés nas suas marcas.<br />
<br />
Semeou a coerência como quem respira<br />
e foi luz e sol no nosso caminhar.<br />
<br />
Até na dor ele se foi transfigurando<br />
fazendo da doença uma oração.<br />
<br />
<b>Não são de ausência as minhas horas</b><br />
pois me olhas com bondade renovada,<br />
agora pelo colo de Jesus que tanto amas.<br />
<br />
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;">Zé Carlos Patrício</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span id="goog_60453286"></span><span id="goog_60453287"></span><a href="http://www.blogger.com/"></a>15 de Julho de 2013"</span></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">"José Dias da Silva (1942-2013): Um porteiro do Reino de Deus" <br />é ainda o título de um texto que António Marujo publicou no <i>Religionline</i> e que <a href="http://religionline.blogspot.pt/2013/07/jose-dias-da-silva-1942-2013-um.html#more" target="_blank">pode ser lido aqui</a>. </span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-39723762597648308232013-03-22T11:04:00.001+00:002013-03-22T11:04:01.832+00:00Que surpresas ainda aí vêm?Uma reflexão sobre o que poderá estar a vir, encontra-se <a href="http://religionline.blogspot.pt/2013/03/que-surpresas-ainda-ai-vem.html" target="_blank">aqui</a>.João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-23598482083617410712013-01-17T00:56:00.003+00:002013-01-17T00:59:12.650+00:00S. João Batista | Jesus Cristo: austeridade vs. vida em abundância?!A reflexão do passado domingo centrou-se na <i>oposição</i> que Jesus Cristo introduz à proposta que havia sido feita por João Batista: à austeridade que este anunciava e vivia, Jesus Cristo continua a desafiar-nos para uma Vida em abundância como, por exemplo, a lê Helena Marujo (<a href="http://comunidadejoao23.no.sapo.pt/HelenaMarujo.pdf" target="_blank">no texto que pode ler aqui</a>) ou a canta Woody Guthrie (forte exercício/desafio de reflexão).<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/EDS00Pnhkqk?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<br />
<br />
<div style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<span class="SongTitle"><span style="font-size: large;">Jesus Christ</span></span></div>
<div style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<span class="MusicCredit"><span style="font-size: xx-small;">Letra e música de Woody Guthrie</span></span></div>
<div style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<span class="MusicCredit"><br /></span></div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
Jesus Christ was a man who traveled through the land<br />
A hard-working man and brave<br />
He said to the rich, "Give your money to the poor,"<br />
But they laid Jesus Christ in His grave</div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<br /></div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
Chorus:<br />
Jesus was a man, a carpenter by hand<br />
His followers true and brave<br />
One dirty little coward called Judas Iscariot<br />
Has laid Jesus Christ in His Grave</div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<br /></div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
He went to the preacher, He went to the sheriff<br />
He told them all the same<br />
"Sell all of your jewelry and give it to the poor,"<br />
And they laid Jesus Christ in His grave.</div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<br /></div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
Chorus</div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<br /></div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
When Jesus come to town, all the working folks around<br />
Believed what he did say<br />
But the bankers and the preachers, they nailed Him on the cross,<br />
And they laid Jesus Christ in his grave.</div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<br /></div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
Chorus</div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<br /></div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
And the people held their breath when they heard about his death<br />
Everybody wondered why<br />
It was the big landlord and the soldiers that they hired<br />
To nail Jesus Christ in the sky</div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<br /></div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
Chorus</div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
<br /></div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
This song was written in New York City</div>
<div class="LyricText" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif;">
Of rich man, preacher, and slave<br />
If Jesus was to preach what He preached in Galilee,<br />
They would lay poor Jesus in His grave.</div>
João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-38154816795673881932012-07-02T00:07:00.003+01:002012-07-02T00:30:58.210+01:00A essência da Igreja<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-right: -0.05pt;">
<b><span style="background-color: #cccccc; font-family: 'Comic Sans MS'; text-transform: uppercase;">A essência da Igreja que é a
evangelização articula-se em três funções</span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-J_wMdiharEQ/T_DOBPJTI6I/AAAAAAAAAHg/8pbcQvQenc0/s1600/a_igreja2a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-J_wMdiharEQ/T_DOBPJTI6I/AAAAAAAAAHg/8pbcQvQenc0/s320/a_igreja2a.jpg" width="319" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm -14.3pt 0.0001pt -7.1pt; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;"><b><span style="background-color: yellow; font-family: 'Times New Roman';">VIAS DA EVANGELIZAÇÃO </span></b><b><span style="background-color: yellow; font-family: Symbol;">«—»</span></b><b><span style="background-color: yellow; font-family: 'Times New Roman';"> BÍBLIA</span></b><b><i><span style="font-family: 'Times New Roman';"><o:p></o:p></span></i></b></span></div>
<br />
<span style="background-color: #cccccc;">A vocação-missão única de toda a Igreja, que é “evangelizar todas as pessoas” inseridas sempre numa(s) cultura(s), desdobra-se em três funções essenciais: profética, sacerdotal e real e cuja referência contínua é a Bíblia, como norma última. Embora atualmente haja várias propostas com maior número de funções, algumas podem adaptar-se a esta divisão tripartida que tem como base as três virtudes teologais:</span><br />
<div>
<span style="background-color: #cccccc;"><br /></span><br />
<div>
<span style="font-size: x-small;"><span style="background-color: #cccccc;">* função profética (aprofundar </span><span style="background-color: yellow;">a fé</span><span style="background-color: #cccccc;">); <br />* função litúrgica (celebrar </span><span style="background-color: yellow;">a esperança</span><span style="background-color: #cccccc;">); </span></span><br />
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="background-color: #cccccc;">* função real (viver </span><span style="background-color: yellow;">a caridade</span><span style="background-color: #cccccc;">) na edificação da comunidade (comunhão) e na transformação da sociedade (missão).</span></span></div>
<span style="font-size: x-small;">
<div style="text-align: left;">
<span style="background-color: #cccccc;"><br /></span></div>
</span></div>
<div style="text-align: center;">
<b style="background-color: white; font-size: small; text-indent: -7.1pt;"><span style="background-color: yellow; font-family: 'Comic Sans MS'; text-transform: uppercase;">Toda a Igreja
deve ser evangelizada e </span></b><b style="background-color: white; font-size: small; text-indent: -7.1pt;"><span style="background-color: yellow; font-family: 'Comic Sans MS'; text-transform: uppercase;">evangelizadora e ministerial</span></b></div>
<div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-zhIeUKxxmis/T_DO7zfyKOI/AAAAAAAAAHo/g71YKd6QSWc/s1600/a_seta.jpg" imageanchor="1" style="background-color: #cccccc; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-zhIeUKxxmis/T_DO7zfyKOI/AAAAAAAAAHo/g71YKd6QSWc/s1600/a_seta.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b style="background-color: white; font-size: small;"><span style="background-color: yellow; font-family: 'Arial Narrow';">“O padre deve ser chamado presbítero e não sacerdote”
(“Ano Sacerdotal”) </span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b style="font-size: small;"><span style="background-color: #cccccc; font-family: 'Arial Narrow';"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="background-color: #cccccc;"><span style="text-align: justify;">Porque a linguagem faz parte da cultura no sentido da </span><i style="text-align: justify;">Evangelli Nuntiandi</i><span style="text-align: justify;">, nn. 19-20, </span><b style="text-align: justify;">“o padre deve </b><b style="text-align: justify;">ser chamado presbítero e não sacerdote”</b><span style="text-align: justify;">. No Novo Testamento, são utilizados dois vocábulos </span><span style="text-align: justify;">gregos diferentes para exprimir duas realidades também diferentes. O vocábulo «hiéreus» designa </span><span style="text-align: justify;">aquele que é mediador entre Deus e as pessoas; o vocábulo «presbuteros» designa aquele que é </span><span style="text-align: justify;">«ancião» (presidente) da comunidade, sem nenhuma referência nem à mediação nem ao culto. Quando </span><span style="text-align: justify;">estes termos gregos são traduzidos para latim, a distinção será: </span><i style="text-align: justify;">hiéreus=sacerdos</i><span style="text-align: justify;"> e </span><i style="text-align: justify;">presbuteros=presbyter</i><span style="text-align: justify;">. </span><span style="text-align: justify;">E em português? Que acontece? Estas duas realidades diferentes vão ser designadas pelo mesmo </span><span style="text-align: justify;">termo: presbyter é traduzido por «padre» e sacerdos é traduzido por... «padre».</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="background-color: #cccccc; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="background-color: #cccccc;"><span style="text-align: justify;">É que tanto para o equilíbrio da fé, da eclesiologia e da compreensão do ministério ordenado como para o ecumenismo só há vantagens em falar, como no Novo Testamento, de presbiterado. Falar de “ministério sacerdotal” ou de “sacerdote” é necessário e legítimo, mas</span><b style="text-align: justify;"> não pode abarcar</b><span style="text-align: justify;"> todo o significado do<i> </i></span></span><b style="text-align: justify;"><span style="background-color: yellow;">ministério do presbítero, cuja identidade é presidir ao anúncio do Evangelho e à construção da Igreja através das três funções </span><span style="background-color: #cccccc;"> </span></b><span style="background-color: #cccccc;"><i style="text-align: justify;">(presidir é uma tarefa global - e não apenas sacerdotal - que supõe coordenação, animação, vigilância, sentido dinâmico do conjunto: é ser responsável da responsabilidade de todos).</i><span style="font-family: 'Arial Narrow'; text-align: justify;"> </span><span style="text-align: justify;">Os vários títulos sucessivos do decreto do Concílio Ecuménico Vaticano II sobre os padres apoiam esta opção: chamado no princípio </span><i style="text-align: justify;">De clericis</i><span style="text-align: justify;"> (Abril de 1963), passou a chamar-se </span><i style="text-align: justify;">De sacerdotibus</i><span style="text-align: justify;"> (Novembro de 1963); depois aparece o conceito de ministério: </span><i style="text-align: justify;">De vita et ministerio sacerdotali </i><span style="text-align: justify;">(Dezembro de 1964), </span><i style="text-align: justify;">De ministerio et vita presbyterorum</i><span style="text-align: justify;"> (Novembro de 1965); mas o seu título final será </span><i style="text-align: justify;">Presbyterorum ordinis </i><span style="text-align: justify;">(7 de Dezembro de 1965).</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="background-color: #cccccc; text-align: justify;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="background-color: #cccccc; text-align: justify;">O conselho dos padres duma Diocese na linha do Concílio Ecuménico Vaticano II chama-se “conselho presbiteral” e não “conselho sacerdotal”!...</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<span style="background-color: #cccccc; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<span style="background-color: #cccccc; font-size: x-small;">Para aprofundar consultar:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<span style="background-color: #cccccc; font-size: x-small;">COMISSÃO DIOCESANA DO APOSTOLADO DOS LEIGOS - DIOCESE DE COIMBRA, </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<span style="background-color: #cccccc;"><i style="font-size: small;">Congresso Diocesano de Leigos. Conclusões: Aprofundamento teológico e sugestões pastorais</i><span style="font-size: x-small;">, </span></span></div>
<span style="background-color: #cccccc;"><span style="font-size: x-small;"></span></span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: #cccccc;"><span style="font-size: x-small;">Gráfica de Coimbra, Palheira, 1992, pp. 37-41, 43-47, 51-54, 131-135, 168-174.</span></span></div>
<span style="background-color: #cccccc;"><span style="font-size: x-small;">
</span></span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: #cccccc; font-size: x-small;">Pe António Manuel Neto Samelo e José Dias da Silva / 2010-02-06</span></div>
</div>
</div>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-74981996999511359082012-06-18T10:34:00.000+01:002012-07-02T00:09:37.902+01:00D. Albino Cleto<span style="background-color: #cccccc;">Querid@s amig@s,</span><br />
<div class="p1">
fomos surpreendidos, este fim de semana, por uma notícia sempre difícil: faleceu no sábado, nos HUC, o sr. D. Albino Cleto.</div>
<div class="p1">
O funeral será daqui a nada, com missa às 11.00 horas na Sé, de onde partirá depois para Manteigas, sua terra natal. </div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
Recordá-lo-emos sempre pela forma como acarinhou a Comunidade de Acolhimento João XXIII, recebendo-nos no Paço, autorizando-nos a <i>reabilitar</i> o espaço do velho edifício da Gráfica de Coimbra onde criámos a nossa Sala da Luz, onde se deslocou para <i>abençoar</i> este nosso espaço de celebração, festa, acolhimento e oração, e nos reafirmar o<i> </i>carinho com que vivia a experiência de risco que nos propomos viver, cada <span class="s1">dia.</span></div>
<div class="p3">
<br /></div>
<div class="p4">
Sabemos que o Senhor, agora, o acolheu na eternidade das Bem aventuranças e rezamos para que ele nos ajude, com Jesus Cristo, nesta construção permanente do Reino, aqui e agora, feita de fracassos e acertos.</div>
<div class="p3">
<br /></div>
<div class="p4">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;"><b>"O Senhor te abençoe e te guarde.</b></span></div>
<div class="p4">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;"><b>O Senhor faça resplandecer sobre ti o Seu rosto,</b></span></div>
<div class="p4">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;"><b>e tenha compaixão.</b></span></div>
<div class="p4">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;"><b>O Senhor te revele a Sua face,</b></span></div>
<div class="p4">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-small;"><b>e isso seja a Paz."</b></span></div>
<div class="p5">
<br /></div>
<div class="p6">
<span style="font-size: x-small;">(Livro dos Números, <i>in</i> Armando S. Carvalho e J. Tolentino Mendonça [2006], <i>A Oração dos Homens - uma antologia das tradições espirituais</i>, Lisboa, Assírio & Alvim, p. 279)</span></div>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-25786296915739759472011-12-11T23:14:00.001+00:002012-05-29T11:20:35.854+01:00IIIº domingo do Advento<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: #cccccc; color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small; line-height: 17px;">"O espírito do Senhor está sobre mim, <b>porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor</b>. Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de justiça, como noivo que cinge a fronte com o diadema e a noiva que se adorna com as suas jóias. Como a terra faz brotar os germes e o jardim germinar as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações."</span></div>
<span class="Apple-style-span" style="background-color: #cccccc; color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;">
</span><br />
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: #cccccc;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;">[</span><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;">Is 61, 1-2a.10-11</span><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px; text-align: -webkit-auto;"> ]</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: x-small;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 17px;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 17px;">Este foi o mote, o desafio que o José Pureza nos lançou: como é que temos dado resposta, na vida de cada uma e de cada um, ao programa que o Senhor, aqui, também nos propõe!</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 17px;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 17px;">Pelas vezes que que não nos centrámos na proposta do Senhor e passámos ao lado da vida pedimos perdão:</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 17px;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 17px;">"Pai, mandaste-nos «anunciar a boa nova aos pobres» e nós entretivemo-nos com os problemas do ATL dos nossos filhos. Mandaste-nos «curar os corações atribulado» e nós preocupámo-nos com o congelamento das nossas carreiras. Mandaste-nos «proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros» e nós concentrámo-nos no descodificador da TDT.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 17px;">Apagámos o Espírito, apagámos os dons proféticos e não fomos fiéis Àquele que nos chama.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 17px;">Por isto e por tantas coisas mais, desculpa Pai."</span></span><br />
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small; line-height: 17px;">(José Pureza)</span></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: x-small;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: #cccccc; line-height: 17px;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: -webkit-auto;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: #cccccc; font-size: x-small;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;">"</span><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;">Irmãos: Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus. Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom."</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: #cccccc;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small; line-height: 17px;">[leitura completa:</span><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small; line-height: 17px; text-align: -webkit-auto;"> </span><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">1 Tes 5, 16-24] </span></span></span></div>
<div style="text-align: -webkit-auto;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: #cccccc; color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: #cccccc;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">"Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. […] </span></span><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small; line-height: 17px;">João respondeu-lhes: «Eu baptizo na água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias». Tudo isto se passou em Betânia, além do Jordão, onde João estava a baptizar."</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: #cccccc;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small; line-height: 17px;">[leitura completa:</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;"> </span><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;">Jo 1, 6-8.19-28]</span></span><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small; line-height: 17px;"> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: white; line-height: 17px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/6oGlRrJLiiY" width="420"></iframe></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #666666; font-family: 'Lucida Grande', Tahoma, Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 17px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 17px;">Demos graças por todas as respostas que vamos sendo capazes de construir: seja pelo questionamento do senso comum, pelos compromissos de cidadania em que nos vamos empenhando, pela exigência com que vamos vivendo as nossas profissões, pela atenção cada vez mais vigilante para com os mais pobres dos pobres. Assim rezámos:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 17px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 17px;">"Pai, já tivemos nas nossas vidas momentos que não esperávamos, daqueles que marcam para sempre os caminhos que fazemos. Com mais ou menos jeito, fizemos as escolhas que achámos que eram mais certas. E temos a ousadia de acreditar que a imitação da Tua vida foi então um dos critérios que nos orientou nessas escolhas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 17px;">Este é outro momento desses. A turbulência própria das mudanças fundas tomou conta das nossas vidas e das vidas de quem connosco vive. Estamos de novo desafiados a fazer escolhas densas, difíceis, marcantes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 17px;">E, ainda que perturbados e angustiados, queremos-Te dar graças por isso. Porque somos chamados a sair da distração e a dar corpo a um projeto de vida coerente com a nossa condição essencial: sermos filhos de Deus.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 17px;">Obrigado por isso, Pai."</span><br />
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #666666; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: x-small; line-height: 17px;">(José Pureza)</span></div>
</div>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-24497438281455984662011-07-09T17:18:00.002+01:002011-07-09T17:23:32.105+01:00Reflexão partilhada...<div>A mensagem chegou-nos pelo Zé Carlos. Mas parece-me que é de partilhar aqui também a <a href="http://espiritualidadypolitica.blogspot.com/2011/06/crisis-terminal-del-capitalismo-por.html">reflexão que nos é proposta por Leonardo Boff</a>.</div><div><br /></div><div>Para quem quiser mais, <a href="http://www.servicioskoinonia.org/boff/">aqui fica a fonte</a>.</div>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-42771002813579586702011-05-23T22:49:00.006+01:002011-05-23T23:39:21.417+01:005º domingo da Páscoa<span style="font-family:georgia;font-size:100%;">O Samelo trouxe-nos mais um desafio para a nossa reflexão semanal: um texto de <strong>José Antonio Pagola</strong>, publicado no seu blog e que pode ser <a href="http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/05/16/p295409#more295409"><span style="font-style: italic;">saboreado</span> clicando aqui</a>.<br /><br /><br />A Clara partilhou connosco, na Acção de Graças, um texto de Helena Araújo:<br /><br />«Entre duas cervejas, falava-se de Deus. O grupo: um católico praticante, um católico duvidante, um ateu militante (que tira todos os dias uns minutos para se reafirmar que Deus não existe), um que só se ria, e eu, especialista em falar mais depressa que o pensamento, deixando escapar que "no fundo, não é muito importante se existe ou não - se eu agir como se Deus existisse, já vale a pena", o que logo me valeu o carimbo de "esta joga pelo seguro".<br /><br />Em termos de <i style="mso-bidi-font-style:normal">esprit d'escalier</i>, eu sou o superlativo absoluto sintético. Só muito mais tarde me ocorreu que era isto o que queria dizer:<br /><br />A minha fé não é um apostar numa conta poupança eternidade, mas uma busca de sentido e conteúdo para a vida. Não tendo a certeza se Deus existe ou não - que isso é tal e qual como nos jogos de futebol: prognósticos, só depois do apito final -, basta-me que a sua procura seja<i> a lâmpada dos meus pés</i>.<br /><br />Como diz a Sophia com tanta leveza e graça:<br /><br />"Escuto mas não sei<br />Se o que oiço é silêncio<br />Ou deus<br /><br />Escuto sem saber se estou ouvindo<br />O ressoar das planícies do vazio<br />Ou a consciência atenta<br />Que nos confins do universo<br />Me decifra a fita<br /><br />Apenas sei que caminho como quem<br />É olhado amado e conhecido<br />E por isso em cada gesto ponho<br />Solenidade e risco"<br /><br />Existe? Não existe? Não sei.<br />Sei que o Deus de Jesus Cristo existiu com toda a força da sua concreta presença nas ruas de Calcutá por onde a Madre Teresa passou, sei que esteve em Auschwitz no dia 29 de julho de 1941, quando o padre Kolbe se ofereceu para morrer em vez de outro prisioneiro. Não existe para nós como um seguro de vida eterna, mas por nós e como O soubermos inventar em actos de amor ao próximo e à nossa vida presente.»<br /></span><div style="text-align: right; font-family:georgia;"><span style="font-size:100%;"><span style="font-size:85%;">(<a href="http://conversa2.blogspot.com/2011/05/deus-ao-fundo-das-escadas.html">http://conversa2.blogspot.com</a>)</span><br /></span></div><span style="font-family:georgia;font-size:100%;"><br /><br />Quem quiser poderá começar, desde já, a preparar o próximo domingo, refletindo sobre o desafio que Pagola nos dirige, a cada uma e a cada um de nós:<br />«En la Iglesia de Jesús necesitamos urgentemente una calidad nueva en nuestra relación con él. Necesitamos comunidades cristianas marcadas por la experiencia viva de Jesús. Todos podemos contribuir a que en la Iglesia se le sienta y se le viva a Jesús de manera nueva. Podemos hacer que sea más de Jesús, que viva más unida a él. ¿Cómo?»<br /></span><div style="text-align: right; font-family:georgia;"><span style="font-size:85%;">(<a href="http://blogs.periodistadigital.com/buenas-noticias.php/2011/05/23/p295838#more295838">http://blogs.periodistadigital.com</a>)</span></div>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-83536641093671373732011-05-23T01:18:00.001+01:002011-05-23T01:20:06.323+01:00Citando o Religionline<a href="http://religionline.blogspot.com/2011/05/haveremos-de-chegar-la-um-dia.html#links"><span style="font-style: italic;"></span></a><h2 class="date-header"><span></span></h2> <div class="date-posts"> <div class="post-outer"> <div class="post hentry"> <a name="7681829305740883187"></a> <h3 class="post-title entry-title"> <a href="http://religionline.blogspot.com/2011/05/haveremos-de-chegar-la-um-dia.html">Haveremos de chegar lá, um dia!</a> </h3></div></div></div><a href="http://religionline.blogspot.com/2011/05/haveremos-de-chegar-la-um-dia.html#links"><iframe src="http://www.youtube.com/embed/QhnPVP23rzo" allowfullscreen="" frameborder="0" height="349" width="425"></iframe><br /></a>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-10186096909962779922011-04-29T01:33:00.002+01:002011-04-29T01:38:09.203+01:00Cristo nossa Páscoa"Quem buscais?! Não está aqui: Ressuscitou!"<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/-0FuNKiyJJdA/TboH8cqopKI/AAAAAAAAAHM/7ww22CpTAOc/s1600/IMG_0244.JPG"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 311px; height: 400px;" src="http://2.bp.blogspot.com/-0FuNKiyJJdA/TboH8cqopKI/AAAAAAAAAHM/7ww22CpTAOc/s400/IMG_0244.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5600797821657195682" border="0" /></a><span style="font-size:85%;"><br /></span><div style="text-align: center;"><span style="font-size:85%;">(Foto: <span style="font-style: italic;">Cristo Ressuscitado</span>, Igreja Paroquial de São Pedro de Valongo do Vouga, Águeda)</span></div>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-15889811177625557542011-02-14T01:38:00.004+00:002011-02-14T01:55:38.820+00:00Ser sal e luzTrago aqui, também, 3 documentos importantes que nos foram enviados pelo Samelo:<br />um texto dele, sobre o que é isso de ser Sal e Luz;<br />outro, um manifesto de teólogos europeus (Igreja 2011 – Uma mudança necessária) com propostas concretas para as mudanças que eles entendem necessárias à Igreja;<br />finalmente, a ligação à entrevista de Carlos Vaz Marques ao teólogo espanhol Juan José Tamayo ("vinculado a la Teología de la Liberación, sobre la que ha trabajado abundantemente. Es miembro de la Asociación de Teólogos y Teólogas Juan XXIII", lê-se em http://es.wikipedia.org/wiki/Juan_Jos%C3%A9_Tamayo, consultada a 14.02.2011).<br /><br />Assim, podem descarregar os textos ou ouvir o programa nas seguintes ligações:<br /><br />– <a href="http://comunidadejoao23.no.sapo.pt/ser%20sal%20e%20luz.pdf">texto do Samelo</a>;<br />– <a href="http://comunidadejoao23.no.sapo.pt/Chiesa2011.pdf">manifesto</a>;<br />– <a href="http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=917512&audio_id=1779930">entrevista</a>.João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-74802340007493812912011-02-14T01:18:00.003+00:002011-02-14T01:28:40.518+00:00A emigração está a matar-nos — Política de Israel em relação aos árabes é segregacionistaPublicamos, agora, a entrevista concedida por Elias Chacour a António Marujo e publicada no caderno «P2» do jornal <span style="font-style:italic;">Público</span>, na passada terça-feira, 8 de Fevereiro. Quem quiser guardar pode descarregá-la <a href="http://comunidadejoao23.no.sapo.pt/Entr_EliasChacour.pdf">aqui</a>.<br /><br /><br /><br />Três vezes candidato ao Nobel da Paz, o arcebispo católico-melquita da Galileia diz que a fuga dos cristãos do Médio Oriente às perseguições e atentados está a matar as comunidades dos lugares onde Jesus nasceu. E conta o que disse um dia ao actual Presidente israelita Shimon Peres, que acabaria a dar-lhe razão…<br /><span style="font-weight:bold;"><br />António Marujo</span><br /><br /><br />Acabado de ser ordenado padre, Elias Chacour chegou à pequena aldeia de Ibillin, na Galileia (Norte de Israel). Olhou à volta e viu miúdos a olhar o vazio. Decidiu dormir meio ano no carro que levara, enquanto preparava uma escola para os mais pequenos. Quatro décadas depois, essa pequena experiência provisória deu lugar a um complexo com mais de 4500 estudantes, incluindo universitários, e onde cabem cristãos, muçulmanos, drusos e mesmo judeus. <br />Elias Chacour é, desde Fevereiro de 2006, arcebispo de Haifa, Nazaré e Galileia, da Igreja Católica Melquita – a maior comunidade cristã em Israel, com cerca de 76 mil crentes (a segunda maior, grega ortodoxa, tem 40 mil). Foi ele quem acolheu o Papa na missa que Bento XVI celebrou em Nazaré, em Maio de 2009. Nomeado por três vezes (1986, 1989 e 1994) para o Nobel da Paz e com várias outras distinções no âmbito da paz e dos direitos humanos, incluindo de instituições dos Estados Unidos e de budistas japoneses, diz que o Nobel apenas traria mais “visibilidade” ao seu trabalho. <br />Nesta entrevista ao P2, Chacour recorda que Jesus e os seus discípulos nasceram na Galileia, critica a política de Israel, condena a violência do Estado ou dos indivíduos e diz que israelitas e palestinianos devem começar a pensar que têm o privilégio de viver juntos. Elias Chacour é autor de vários livros sobre a situação na região e a história de Ibillin.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – O Papa falou da situação dos cristãos no Médio Oriente quando esteve na região e voltou a falar nas últimas semanas. Como estão as coisas?</span><br />ELIAS CHACOUR – Nada mudou. Está tudo como tem estado. <br /><span style="font-weight:bold;"><br />P. – A visita do Papa deveria ter tido outras consequências?</span><br />R. – A visita recordou, antes de mais, que Jesus e os discípulos eram desta região, da Galileia. Nós somos os primeiros cristãos, que levaram a boa nova a Atenas, a Roma, a todo o lado… O Papa veio como peregrino e como pastor, para encorajar os cristãos a ficar.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Pelos vistos, com poucos resultados…</span><br />R. – Não estamos à espera que o Papa traga soluções para os nossos problemas, mas que mostre compreensão e simpatia pelos sofrimentos do povo e que reze para que a paz chegue…<br />Um Papa não é um político, vem sempre a cada sítio como homem religioso, pastor, peregrino: reza por nós, escuta-nos, dá-nos uma mensagem de confiança. Aqui, [foi importante] pedir aos cristãos locais que fiquem e não continuem a emigrar para o estrangeiro. Não podemos ver os nossos jovens partir para a Europa, a América ou a Austrália. A emigração está a matar-nos.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – É possível continuar a ter comunidades cristãs que sejam sinais de paz na região?</span><br />R. – Em Israel, há uma comunidade cristã, a única com uma linguagem diferente: reconciliação, perdão, partilha, direito dos pobres. O nosso papel é demasiado importante para ser negligenciado. Somos conhecidos por ser uma voz de moderação: não estamos com o Estado quando o Estado é violento, não estamos com os indivíduos quando eles utilizam a violência. A violência, para nós, está fora de questão. E isso perturba as autoridades. <br />Aqui [Israel], temos liberdade de movimentos e uma liberdade de expressão bem ampla. O nosso problema não vem do facto de sermos cristãos, mas de sermos também palestinianos, ou seja, árabes em Israel. E a política de Israel não é uma política de integração mas de tolerância. Quer dizer, uma das piores que pode existir.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Nos restantes países da região como definiria a situação?</span><br />R. – Na Síria, os cristãos vivem livres e muito felizes, contrariamente ao Iraque, onde são severamente perseguidos e mortos. No Egipto, é igual, mas um pouco mais camuflado. O atentado do final do ano foi um exemplo disso, mas durante o ano há muitas tragédias como essa. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – No discurso do Ano Novo, o Papa pediu aos governos uma acção decisiva contra as perseguições aos cristãos. Que acções seriam importantes?</span><br />R. – É necessária solidariedade. Seria muito importante que os peregrinos que vêm à Terra Santa consagrem uma parte da sua peregrinação a visitar os cristãos, que conheçam também as pessoas e não apenas as pedras. <br />Até agora, os cristãos da Europa e do Ocidente estão do lado de Israel. Muito poucos conhecem os cristãos do Médio Oriente. Ficam espantados quando dizemos que somos cristãos e perguntam quando nos convertemos do islão. É preciso que rectifiquem a sua atitude e considerem os cristãos da Terra Santa como pessoas com direito a existir e como factor essencial para a paz e o diálogo. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Uma das diferenças entre católicos melquitas e católicos latinos é que, na Igreja Melquita, há pessoas casadas que se tornam padres, como nas outras igrejas orientais. </span><br />R. – A nossa é uma Igreja oriental, bizantina. Estamos em comunhão com Roma. Mas temos 17 padres, num total de 30, que são casados. São muito bons, muito dedicados. Sinto-me muito orgulhoso deles. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Como nasceu a ideia da escola de Ibillin?</span><br />R. – De uma necessidade. Não é uma invenção de luxo, é um projecto necessário e vital. Uma semanas depois da minha ordenação sacerdotal, o meu bispo mandou-me para a aldeia de Ibillin. Como não tinha sítio para dormir, vivi durante seis meses num carro que tinha trazido da Alemanha. Durante seis meses, foi o meu quarto de dormir e o meu escritório. <br />Tinha sido enviado por um mês. Mas o meu bispo era como todos – incluindo eu: têm memória curta, esquecem depressa. E ele esqueceu-se. Passei 38 anos na aldeia, à espera que passasse um mês. <br />Foi lá que aprendi que a comunidade árabe de Israel é o pequeno resto da grande comunidade palestiniana que foi etnicamente apagada, deportada, expulsa de suas casas. Só um pequeno resto ficou no território da Palestina que se tornou Israel. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – De que comunidade falamos hoje?</span><br />R. – Uma comunidade muito jovem: 75 por cento tem menos de 28 anos e metade tem menos de 14 anos. Em Ibillin, pensei: devo dar a minha vida pela educação da juventude. Foi a isso que me dediquei. Começámos por juntar livros que as famílias já não usavam, para fazer uma biblioteca pública.<br />Ao mesmo tempo, pensei fazer colónias de férias para as crianças. Elas têm dois meses de férias de Verão, nada para fazer nem para onde ir. Passam o tempo a olhar em volta as colónias judaicas que foram construídas nas suas terras confiscadas. E pensei: isto não pode continuar. Fizemos a primeira colónia de férias com 1127 crianças; na última, em 1980, tivemos mais de cinco mil crianças de 30 aldeias da Galileia. Foi gigantesco.<br />Entretanto, senti a necessidade de uma instituição de educação, uma escola secundária. Começámos a construir no início de 1982 e, em Setembro desse ano, abrimos a escola com 80 estudantes.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Entretanto, começaram a pensar na universidade.</span><br />R. – Em 2001, começámos a trabalhar na universidade. Em Março de 2009, tivemos o reconhecimento do Conselho de Educação de Israel. Logo depois, a decisão foi ratificada pelo Governo. Sem dinheiro, não podemos ter uma universidade. Mas, se o tivermos, daqui a três ou quatro anos, teremos mais de quatro ou cinco mil estudantes: há todos os anos 12 mil estudantes da minoria árabe que vão para a Jordânia. Se conseguirmos recuperar cinco mil estudantes, será já uma grande universidade.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – A experiência é positiva?</span><br />R. – Muito. Os estudantes trabalham na escola, vivem em conjunto, conhecem-se como homens e mulheres com relações de amizade. A universidade vem completar um grande projecto que caminha desde 1981. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Como arcebispo, deixou a escola. O que faz para construir a paz e a boa convivência entre as pessoas?</span><br />R. – Tornando-me arcebispo, não mudo de orientação: a necessidade do povo pela paz e pela justiça. Na escola, tinha uma responsabilidade limitada aquele espaço. Como arcebispo, estou em contacto com toda a população de Israel, da base ao topo: ministros, homens de negócios, agentes de educação e de universidade.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Falou dos cristãos da Terra Santa como factor de diálogo, mas eles próprios se dividem em muitas igrejas e comunidades. Como podem ser sinal de reconciliação?</span><br />R. – Tudo o que diz respeito aos lugares santos – Santo Sepulcro, Igreja da Natividade, Belém, Nazaré – não tem nada a ver com os cristãos palestinianos. É tudo entre religiosos estrangeiros, franciscanos, gregos, etíopes. Por isso é que afirmamos que não estamos divididos em diferentes igrejas, mas unidos em diferentes igrejas. Como os irmãos de uma família que depois constituem outras famílias, mas permanecem unidos. <br />No Ocidente, aprenderam a distinguir, até exagerar a distinção, dividindo-se. Nós queremos afirmar a unidade na diversidade. E é possível. Infelizmente, quando um franciscano e um ortodoxo se disputam no Santo Sepulcro, nós pagamos o preço, somos acusados. Fico desolado, é triste.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – É por isso que escreve que Deus não é melquita nem católico nem ortodoxo?...</span><br />R. – Até diria mais: Deus não é mesmo cristão. Felizmente. Se não, que cristão seria? Um cristão reformado, re-reformado ou ainda não reformado? Deus está acima disso.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Que críticas faz à política de Israel?</span><br />R. – Temos muitos problemas com Israel: somos cidadãos de segunda; há problemas de subsídio para famílias, escolas e municípios, pois há uma verba para judeus e outra para árabes. Há muito a fazer para que uma igualdade verdadeiramente democrática seja praticada em Israel. Esta é a visão global. Mas, se ficarmos no global, vamo-nos perder. É preciso descer do global ao local: é preciso ter relações de amizade com cada judeu que possamos encontrar. O indivíduo judeu é como o cristão: há uma diferença entre o cristão e a cristandade. Tenho muitos amigos judeus, tenho muito orgulho nisso. Mas há uma política de Israel que não gostamos. A política em relação aos árabes é nefasta, muito segregacionista. E isso não pode continuar.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Diz que os católicos, em Israel, são árabes mas não muçulmanos, israelitas mas não judeus, católicos mas não de rito latino, orientais mas não ortodoxos. Minoritários em tudo…</span><br />R. – Sim, mas se perdermos o tempo a perguntar o que não somos, será uma existência muito triste. Se perguntarmos o que podemos fazer no interior desta grande diversidade, em vez de ver o negativo começamos a ver o potencial. E podemos fazer alguma coisa. É belo ser diferente mas complementar. <br /><br /><span style="font-weight:bold;"><br />P. – Os cristãos crêem que o Messias já veio, os judeus esperam-no. Diz que é possível todos trabalharem para que o Messias venha ou volte…</span><br />R. – Sim… Creio que o Messias já veio, o irmão rabino acredita que ele ainda virá. Acreditamos os dois no Messias, trabalhemos juntos para fazer a nossa vida humana viável e respeitável para que ele venha – e ele nos dirá se já tinha vindo ou se vem. Não vale a pena perder tempo a ver as pessoas morrer na guerra, no ódio, na segregação, por causa de saber se o Messias veio ou virá. Deixemos isso para Deus.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – A noção de povo escolhido coloca dificuldades ao diálogo com os judeus?</span><br />R. – Sim, mas permite também extraordinárias possibilidades de diálogo. Não sei se um cristão poderia explicar-me o Evangelho sem referência ao Antigo Testamento. Eles completam-se: é a história de Deus na história humana. <br />Os muçulmanos e os judeus não precisam de aprender a viver juntos. Precisamos de nos recordar como vivíamos juntos há 60 anos. Até aí, havia judeus em todos os países árabes muçulmanos. Viviam bem, respeitados, eram tratados como os muçulmanos. O rei de Marrocos recusou entregar judeus à Gestapo. A história do judaísmo em Damasco é uma história proverbial de bondade. Em Alexandria ou no Iraque, eles eram senhores… <br />Precisamos de nos recordar disso, em vez de nos fixarmos na desconfiança que dura há 60 anos, não por causa da religião nem da raça, mas do território. Os judeus vieram da Europa e de outros lados para privar os palestinianos do seu território, que os judeus queriam chamar Israel, em vez de aceitar humildemente viver com os palestinianos. Optaram por deportá-los, tomando o seu lugar, destruíram mais de 460 aldeias e cidades palestinianas. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – O senhor foi também uma vítima das deportações?</span><br />R. – Sim, sim… Tinha oito anos, mas lembro-me dos pormenores todos…<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – É possível manter essa ideia do regresso às antigas aldeias palestinianas?</span><br />R. – Não é possível esquecer. O meu pai morreu em 1992, aqui em Haifa. Era muito pobre. Transportámo-lo para o enterrar na aldeia de Bar-am [sul de Israel]. Os nossos casamentos, funerais, baptismos são feitos nas igrejas à volta das ruínas das nossas aldeias. Se os judeus esperaram dois mil anos para regressar, nós podemos esperar dois mil anos, também…<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Disse isso uma vez a Shimon Peres.</span><br />R. – Sim… Ele respondeu: “Tem razão.” Mas não há um líder político corajoso para reconhecer essa verdade… Muitas vezes tenho a impressão de que não estamos na Terra Prometida, estamos na terra das promessas. Promessas vazias, digo-o a todos os judeus, incluindo ministros, primeiro-ministro, chefe de Estado…<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – E que lhe respondem?</span><br />R. – Dizem que tenho razão, mas que não sabem o que fazer. Não sabem? Se não soubessem nos anos 1940, não teriam criado o Estado de Israel.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – A questão nessa época foi a de não criar dois Estados, no início?</span><br />R. – Ninguém pensava em dois estados. Ninguém pensava mesmo no Estado de Israel. Israel expulsou os palestinianos das suas cidades, das suas terras e propagandeou que os palestinianos não existiam. Mas nós existíamos, estávamos cá, eles preferiram ser míopes. Há a famosa frase de Theodore Herzl: “Uma terra vazia deve pertencer a um povo que não tem Estado.” Mas a assistente dele disse-lhe que a Palestina era superpovoada. Ele respondeu: “Devemos ser míopes, fazer como se não houvesse ninguém.” <br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Hoje, a situação está bloqueada. Devem fazer-se esforços para recordar como era possível viver em conjunto?</span><br />R. – Sim, é dessa fé de que os judeus são seres humanos como nós que partimos para uma nova visão na qual judeus e palestinianos têm que viver juntos. Não é possível viverem separados. Desde há 60 anos, os dois [lados] dizem que estamos condenados a viver juntos. É altura de mudar esta fórmula e começar a pensar que temos o privilégio de viver juntos. O que podemos fazer? Tudo, com um pouco de bom senso.<br />Os dois continuam a dizer: a Palestina pertence-me, a terra é minha. Mas nenhum conseguiu controlar a terra: Israel não é apenas um Estado judeu, há 20 por cento de árabes e 25 a 30 por cento de palestinianos sob ocupação israelita. A terra não pode pertencer nem aos judeus nem aos palestinianos. São os judeus e os palestinianos que têm que aprender como partilhar as suas vidas nesta terra. De outro modo, vamos até à destruição.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Hoje, a maior parte das pessoas não compreende esse discurso…</span><br />R. – Porque os líderes não têm coragem de o promover. Digo-o por todo o lado: reuniões, igrejas, assembleias…<br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Não há líderes comprometidos com a não-violência?</span><br />R. – Os líderes que podem representar os palestinianos estão na prisão, seja nas prisões árabes, seja nas prisões israelitas. Não nos faltam líderes, falta-nos a liberdade para que os líderes possam agir. O que falta é liberdade de expressão dos palestinianos. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – Falta uma figura como Mandela, Gandhi, Luther King, Desmond Tutu?...</span><br />R. – Talvez. São figuras de referência nos seus países. Uma vez estive com Tutu, num jantar com o [então] Presidente [norte-americano James] Carter. E Tutu disse-me subitamente: “Padre Chacour, tenho muito mais sorte que o senhor, porque sou um negro da África do Sul. Os brancos não queriam expulsar-nos, queriam que fôssemos seus escravos e nós recusámos. A vocês, Israel não queria que vocês fossem os seus escravos, queria que desaparecessem. Por isso temos mais esperança.” E ele tinha razão. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – São os radicais que, no fundo, fazem barulho, mais que as pessoas que querem viver pacificamente. Como cortar essa força dos radicais?</span><br />R. – Não é preciso cortar, é preciso antes dar vitamina às correntes moderadas, dando-lhes a possibilidade de se exprimirem e de terem alguns sucessos para gerar um pouco de esperança no coração dos jovens. Não vale a pena perder tempo com os radicais de um ou do outro lado. É inútil. Os radicais são sempre uma minoria. Mas são eles que marcam o compasso da marcha. Disse isso uma vez a Shimon Peres: vocês negligenciaram-nos a nós, cristãos, marginalizaram-nos mesmo, porque não somos violentos. Temos bombas muito poderosas, mas que não matam os corpos. Nós não podemos odiar e essa é a nossa força. <br /><br /><span style="font-weight:bold;"><br />P. – Num dos seus livros, diz que o seu ideal é secar as lágrimas a cada judeu, cada muçulmano, cada cristão. Continua a ser?</span><br />R. – Desejo verdadeiramente não ver nenhum judeu, nenhum muçulmano ferido ou a chorar. Porque quem chora é um homem, que é imagem de Deus. Queria colocar um sorriso no lugar do medo, um sorriso de esperança no lugar do desespero. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">P. – E essa esperança é possível ainda? Em breve?</span><br />R. – Claro que sim. Espero que o mais cedo possível.João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-82451549368650166462011-02-14T01:18:00.000+00:002011-02-14T01:19:24.762+00:00A emigração está a matar-nosElias Chacour<br /><br />A emigração está a matar-nos<br />Política de Israel em relação aos árabes é segregacionista<br /><br />Três vezes candidato ao Nobel da Paz, o arcebispo católico-melquita da Galileia diz que a fuga dos cristãos do Médio Oriente às perseguições e atentados está a matar as comunidades dos lugares onde Jesus nasceu. E conta o que disse um dia ao actual Presidente israelita Shimon Peres, que acabaria a dar-lhe razão…<br /><br />António Marujo<br /><br />Acabado de ser ordenado padre, Elias Chacour chegou à pequena aldeia de Ibillin, na Galileia (Norte de Israel). Olhou à volta e viu miúdos a olhar o vazio. Decidiu dormir meio ano no carro que levara, enquanto preparava uma escola para os mais pequenos. Quatro décadas depois, essa pequena experiência provisória deu lugar a um complexo com mais de 4500 estudantes, incluindo universitários, e onde cabem cristãos, muçulmanos, drusos e mesmo judeus. <br />Elias Chacour é, desde Fevereiro de 2006, arcebispo de Haifa, Nazaré e Galileia, da Igreja Católica Melquita – a maior comunidade cristã em Israel, com cerca de 76 mil crentes (a segunda maior, grega ortodoxa, tem 40 mil). Foi ele quem acolheu o Papa na missa que Bento XVI celebrou em Nazaré, em Maio de 2009. Nomeado por três vezes (1986, 1989 e 1994) para o Nobel da Paz e com várias outras distinções no âmbito da paz e dos direitos humanos, incluindo de instituições dos Estados Unidos e de budistas japoneses, diz que o Nobel apenas traria mais “visibilidade” ao seu trabalho. <br />Nesta entrevista ao P2, Chacour recorda que Jesus e os seus discípulos nasceram na Galileia, critica a política de Israel, condena a violência do Estado ou dos indivíduos e diz que israelitas e palestinianos devem começar a pensar que têm o privilégio de viver juntos. Elias Chacour é autor de vários livros sobre a situação na região e a história de Ibillin.<br /><br />P. – O Papa falou da situação dos cristãos no Médio Oriente quando esteve na região e voltou a falar nas últimas semanas. Como estão as coisas?<br />ELIAS CHACOUR – Nada mudou. Está tudo como tem estado. <br /><br />P. – A visita do Papa deveria ter tido outras consequências?<br />R. – A visita recordou, antes de mais, que Jesus e os discípulos eram desta região, da Galileia. Nós somos os primeiros cristãos, que levaram a boa nova a Atenas, a Roma, a todo o lado… O Papa veio como peregrino e como pastor, para encorajar os cristãos a ficar.<br /><br />P. – Pelos vistos, com poucos resultados…<br />R. – Não estamos à espera que o Papa traga soluções para os nossos problemas, mas que mostre compreensão e simpatia pelos sofrimentos do povo e que reze para que a paz chegue…<br />Um Papa não é um político, vem sempre a cada sítio como homem religioso, pastor, peregrino: reza por nós, escuta-nos, dá-nos uma mensagem de confiança. Aqui, [foi importante] pedir aos cristãos locais que fiquem e não continuem a emigrar para o estrangeiro. Não podemos ver os nossos jovens partir para a Europa, a América ou a Austrália. A emigração está a matar-nos.<br /><br />P. – É possível continuar a ter comunidades cristãs que sejam sinais de paz na região?<br />R. – Em Israel, há uma comunidade cristã, a única com uma linguagem diferente: reconciliação, perdão, partilha, direito dos pobres. O nosso papel é demasiado importante para ser negligenciado. Somos conhecidos por ser uma voz de moderação: não estamos com o Estado quando o Estado é violento, não estamos com os indivíduos quando eles utilizam a violência. A violência, para nós, está fora de questão. E isso perturba as autoridades. <br />Aqui [Israel], temos liberdade de movimentos e uma liberdade de expressão bem ampla. O nosso problema não vem do facto de sermos cristãos, mas de sermos também palestinianos, ou seja, árabes em Israel. E a política de Israel não é uma política de integração mas de tolerância. Quer dizer, uma das piores que pode existir.<br /><br />P. – Nos restantes países da região como definiria a situação?<br />R. – Na Síria, os cristãos vivem livres e muito felizes, contrariamente ao Iraque, onde são severamente perseguidos e mortos. No Egipto, é igual, mas um pouco mais camuflado. O atentado do final do ano foi um exemplo disso, mas durante o ano há muitas tragédias como essa. <br /><br />P. – No discurso do Ano Novo, o Papa pediu aos governos uma acção decisiva contra as perseguições aos cristãos. Que acções seriam importantes?<br />R. – É necessária solidariedade. Seria muito importante que os peregrinos que vêm à Terra Santa consagrem uma parte da sua peregrinação a visitar os cristãos, que conheçam também as pessoas e não apenas as pedras. <br />Até agora, os cristãos da Europa e do Ocidente estão do lado de Israel. Muito poucos conhecem os cristãos do Médio Oriente. Ficam espantados quando dizemos que somos cristãos e perguntam quando nos convertemos do islão. É preciso que rectifiquem a sua atitude e considerem os cristãos da Terra Santa como pessoas com direito a existir e como factor essencial para a paz e o diálogo. <br /><br />P. – Uma das diferenças entre católicos melquitas e católicos latinos é que, na Igreja Melquita, há pessoas casadas que se tornam padres, como nas outras igrejas orientais. <br />R. – A nossa é uma Igreja oriental, bizantina. Estamos em comunhão com Roma. Mas temos 17 padres, num total de 30, que são casados. São muito bons, muito dedicados. Sinto-me muito orgulhoso deles. <br /><br />P. – Como nasceu a ideia da escola de Ibillin?<br />R. – De uma necessidade. Não é uma invenção de luxo, é um projecto necessário e vital. Uma semanas depois da minha ordenação sacerdotal, o meu bispo mandou-me para a aldeia de Ibillin. Como não tinha sítio para dormir, vivi durante seis meses num carro que tinha trazido da Alemanha. Durante seis meses, foi o meu quarto de dormir e o meu escritório. <br />Tinha sido enviado por um mês. Mas o meu bispo era como todos – incluindo eu: têm memória curta, esquecem depressa. E ele esqueceu-se. Passei 38 anos na aldeia, à espera que passasse um mês. <br />Foi lá que aprendi que a comunidade árabe de Israel é o pequeno resto da grande comunidade palestiniana que foi etnicamente apagada, deportada, expulsa de suas casas. Só um pequeno resto ficou no território da Palestina que se tornou Israel. <br /><br />P. – De que comunidade falamos hoje?<br />R. – Uma comunidade muito jovem: 75 por cento tem menos de 28 anos e metade tem menos de 14 anos. Em Ibillin, pensei: devo dar a minha vida pela educação da juventude. Foi a isso que me dediquei. Começámos por juntar livros que as famílias já não usavam, para fazer uma biblioteca pública.<br />Ao mesmo tempo, pensei fazer colónias de férias para as crianças. Elas têm dois meses de férias de Verão, nada para fazer nem para onde ir. Passam o tempo a olhar em volta as colónias judaicas que foram construídas nas suas terras confiscadas. E pensei: isto não pode continuar. Fizemos a primeira colónia de férias com 1127 crianças; na última, em 1980, tivemos mais de cinco mil crianças de 30 aldeias da Galileia. Foi gigantesco.<br />Entretanto, senti a necessidade de uma instituição de educação, uma escola secundária. Começámos a construir no início de 1982 e, em Setembro desse ano, abrimos a escola com 80 estudantes.<br /><br />P. – Entretanto, começaram a pensar na universidade.<br />R. – Em 2001, começámos a trabalhar na universidade. Em Março de 2009, tivemos o reconhecimento do Conselho de Educação de Israel. Logo depois, a decisão foi ratificada pelo Governo. Sem dinheiro, não podemos ter uma universidade. Mas, se o tivermos, daqui a três ou quatro anos, teremos mais de quatro ou cinco mil estudantes: há todos os anos 12 mil estudantes da minoria árabe que vão para a Jordânia. Se conseguirmos recuperar cinco mil estudantes, será já uma grande universidade.<br /><br />P. – A experiência é positiva?<br />R. – Muito. Os estudantes trabalham na escola, vivem em conjunto, conhecem-se como homens e mulheres com relações de amizade. A universidade vem completar um grande projecto que caminha desde 1981. <br /><br />P. – Como arcebispo, deixou a escola. O que faz para construir a paz e a boa convivência entre as pessoas?<br />R. – Tornando-me arcebispo, não mudo de orientação: a necessidade do povo pela paz e pela justiça. Na escola, tinha uma responsabilidade limitada aquele espaço. Como arcebispo, estou em contacto com toda a população de Israel, da base ao topo: ministros, homens de negócios, agentes de educação e de universidade.<br /><br />P. – Falou dos cristãos da Terra Santa como factor de diálogo, mas eles próprios se dividem em muitas igrejas e comunidades. Como podem ser sinal de reconciliação?<br />R. – Tudo o que diz respeito aos lugares santos – Santo Sepulcro, Igreja da Natividade, Belém, Nazaré – não tem nada a ver com os cristãos palestinianos. É tudo entre religiosos estrangeiros, franciscanos, gregos, etíopes. Por isso é que afirmamos que não estamos divididos em diferentes igrejas, mas unidos em diferentes igrejas. Como os irmãos de uma família que depois constituem outras famílias, mas permanecem unidos. <br />No Ocidente, aprenderam a distinguir, até exagerar a distinção, dividindo-se. Nós queremos afirmar a unidade na diversidade. E é possível. Infelizmente, quando um franciscano e um ortodoxo se disputam no Santo Sepulcro, nós pagamos o preço, somos acusados. Fico desolado, é triste.<br /><br />P. – É por isso que escreve que Deus não é melquita nem católico nem ortodoxo?...<br />R. – Até diria mais: Deus não é mesmo cristão. Felizmente. Se não, que cristão seria? Um cristão reformado, re-reformado ou ainda não reformado? Deus está acima disso.<br /><br />P. – Que críticas faz à política de Israel?<br />R. – Temos muitos problemas com Israel: somos cidadãos de segunda; há problemas de subsídio para famílias, escolas e municípios, pois há uma verba para judeus e outra para árabes. Há muito a fazer para que uma igualdade verdadeiramente democrática seja praticada em Israel. Esta é a visão global. Mas, se ficarmos no global, vamo-nos perder. É preciso descer do global ao local: é preciso ter relações de amizade com cada judeu que possamos encontrar. O indivíduo judeu é como o cristão: há uma diferença entre o cristão e a cristandade. Tenho muitos amigos judeus, tenho muito orgulho nisso. Mas há uma política de Israel que não gostamos. A política em relação aos árabes é nefasta, muito segregacionista. E isso não pode continuar.<br /><br />P. – Diz que os católicos, em Israel, são árabes mas não muçulmanos, israelitas mas não judeus, católicos mas não de rito latino, orientais mas não ortodoxos. Minoritários em tudo…<br />R. – Sim, mas se perdermos o tempo a perguntar o que não somos, será uma existência muito triste. Se perguntarmos o que podemos fazer no interior desta grande diversidade, em vez de ver o negativo começamos a ver o potencial. E podemos fazer alguma coisa. É belo ser diferente mas complementar. <br /><br />P. – Os cristãos crêem que o Messias já veio, os judeus esperam-no. Diz que é possível todos trabalharem para que o Messias venha ou volte…<br />R. – Sim… Creio que o Messias já veio, o irmão rabino acredita que ele ainda virá. Acreditamos os dois no Messias, trabalhemos juntos para fazer a nossa vida humana viável e respeitável para que ele venha – e ele nos dirá se já tinha vindo ou se vem. Não vale a pena perder tempo a ver as pessoas morrer na guerra, no ódio, na segregação, por causa de saber se o Messias veio ou virá. Deixemos isso para Deus.<br /><br />P. – A noção de povo escolhido coloca dificuldades ao diálogo com os judeus?<br />R. – Sim, mas permite também extraordinárias possibilidades de diálogo. Não sei se um cristão poderia explicar-me o Evangelho sem referência ao Antigo Testamento. Eles completam-se: é a história de Deus na história humana. <br />Os muçulmanos e os judeus não precisam de aprender a viver juntos. Precisamos de nos recordar como vivíamos juntos há 60 anos. Até aí, havia judeus em todos os países árabes muçulmanos. Viviam bem, respeitados, eram tratados como os muçulmanos. O rei de Marrocos recusou entregar judeus à Gestapo. A história do judaísmo em Damasco é uma história proverbial de bondade. Em Alexandria ou no Iraque, eles eram senhores… <br />Precisamos de nos recordar disso, em vez de nos fixarmos na desconfiança que dura há 60 anos, não por causa da religião nem da raça, mas do território. Os judeus vieram da Europa e de outros lados para privar os palestinianos do seu território, que os judeus queriam chamar Israel, em vez de aceitar humildemente viver com os palestinianos. Optaram por deportá-los, tomando o seu lugar, destruíram mais de 460 aldeias e cidades palestinianas. <br /><br />P. – O senhor foi também uma vítima das deportações?<br />R. – Sim, sim… Tinha oito anos, mas lembro-me dos pormenores todos…<br /><br />P. – É possível manter essa ideia do regresso às antigas aldeias palestinianas?<br />R. – Não é possível esquecer. O meu pai morreu em 1992, aqui em Haifa. Era muito pobre. Transportámo-lo para o enterrar na aldeia de Bar-am [sul de Israel]. Os nossos casamentos, funerais, baptismos são feitos nas igrejas à volta das ruínas das nossas aldeias. Se os judeus esperaram dois mil anos para regressar, nós podemos esperar dois mil anos, também…<br /><br />P. – Disse isso uma vez a Shimon Peres.<br />R. – Sim… Ele respondeu: “Tem razão.” Mas não há um líder político corajoso para reconhecer essa verdade… Muitas vezes tenho a impressão de que não estamos na Terra Prometida, estamos na terra das promessas. Promessas vazias, digo-o a todos os judeus, incluindo ministros, primeiro-ministro, chefe de Estado…<br /><br />P. – E que lhe respondem?<br />R. – Dizem que tenho razão, mas que não sabem o que fazer. Não sabem? Se não soubessem nos anos 1940, não teriam criado o Estado de Israel.<br /><br />P. – A questão nessa época foi a de não criar dois Estados, no início?<br />R. – Ninguém pensava em dois estados. Ninguém pensava mesmo no Estado de Israel. Israel expulsou os palestinianos das suas cidades, das suas terras e propagandeou que os palestinianos não existiam. Mas nós existíamos, estávamos cá, eles preferiram ser míopes. Há a famosa frase de Theodore Herzl: “Uma terra vazia deve pertencer a um povo que não tem Estado.” Mas a assistente dele disse-lhe que a Palestina era superpovoada. Ele respondeu: “Devemos ser míopes, fazer como se não houvesse ninguém.” <br /><br />P. – Hoje, a situação está bloqueada. Devem fazer-se esforços para recordar como era possível viver em conjunto?<br />R. – Sim, é dessa fé de que os judeus são seres humanos como nós que partimos para uma nova visão na qual judeus e palestinianos têm que viver juntos. Não é possível viverem separados. Desde há 60 anos, os dois [lados] dizem que estamos condenados a viver juntos. É altura de mudar esta fórmula e começar a pensar que temos o privilégio de viver juntos. O que podemos fazer? Tudo, com um pouco de bom senso.<br />Os dois continuam a dizer: a Palestina pertence-me, a terra é minha. Mas nenhum conseguiu controlar a terra: Israel não é apenas um Estado judeu, há 20 por cento de árabes e 25 a 30 por cento de palestinianos sob ocupação israelita. A terra não pode pertencer nem aos judeus nem aos palestinianos. São os judeus e os palestinianos que têm que aprender como partilhar as suas vidas nesta terra. De outro modo, vamos até à destruição.<br /><br />P. – Hoje, a maior parte das pessoas não compreende esse discurso…<br />R. – Porque os líderes não têm coragem de o promover. Digo-o por todo o lado: reuniões, igrejas, assembleias…<br /><br />P. – Não há líderes comprometidos com a não-violência?<br />R. – Os líderes que podem representar os palestinianos estão na prisão, seja nas prisões árabes, seja nas prisões israelitas. Não nos faltam líderes, falta-nos a liberdade para que os líderes possam agir. O que falta é liberdade de expressão dos palestinianos. <br /><br />P. – Falta uma figura como Mandela, Gandhi, Luther King, Desmond Tutu?...<br />R. – Talvez. São figuras de referência nos seus países. Uma vez estive com Tutu, num jantar com o [então] Presidente [norte-americano James] Carter. E Tutu disse-me subitamente: “Padre Chacour, tenho muito mais sorte que o senhor, porque sou um negro da África do Sul. Os brancos não queriam expulsar-nos, queriam que fôssemos seus escravos e nós recusámos. A vocês, Israel não queria que vocês fossem os seus escravos, queria que desaparecessem. Por isso temos mais esperança.” E ele tinha razão. <br /><br />P. – São os radicais que, no fundo, fazem barulho, mais que as pessoas que querem viver pacificamente. Como cortar essa força dos radicais?<br />R. – Não é preciso cortar, é preciso antes dar vitamina às correntes moderadas, dando-lhes a possibilidade de se exprimirem e de terem alguns sucessos para gerar um pouco de esperança no coração dos jovens. Não vale a pena perder tempo com os radicais de um ou do outro lado. É inútil. Os radicais são sempre uma minoria. Mas são eles que marcam o compasso da marcha. Disse isso uma vez a Shimon Peres: vocês negligenciaram-nos a nós, cristãos, marginalizaram-nos mesmo, porque não somos violentos. Temos bombas muito poderosas, mas que não matam os corpos. Nós não podemos odiar e essa é a nossa força. <br /><br />P. – Num dos seus livros, diz que o seu ideal é secar as lágrimas a cada judeu, cada muçulmano, cada cristão. Continua a ser?<br />R. – Desejo verdadeiramente não ver nenhum judeu, nenhum muçulmano ferido ou a chorar. Porque quem chora é um homem, que é imagem de Deus. Queria colocar um sorriso no lugar do medo, um sorriso de esperança no lugar do desespero. <br /><br />P. – E essa esperança é possível ainda? Em breve?<br />R. – Claro que sim. Espero que o mais cedo possível.João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-36274336061125248992011-02-14T00:21:00.007+00:002011-02-14T01:05:05.163+00:00A religião oprime quando impede a alegria a nível sexualPublicamos, aqui, a entrevista concedida por Anselmo Borges a António Marujo e publicada na revista «Pública», no passado domingo 6 de Fevereiro. Quem quiser guardar, ou ler mais demoradamente, pode descarregá-la <a href="http://comunidadejoao23.no.sapo.pt/Entr_AnselmoBorges.pdf">aqui</a>.<br /><br /><br />«A Igreja Católica tem muita dificuldade em lidar com o prazer e a autonomia. Não sabe, por isso, como lidar com a sexualidade, diz Anselmo Borges, padre, teólogo e professor de Filosofia na Universidade de Coimbra. Autor de vários livros nas áreas da teologia e da ética, conhecido pelas suas posições críticas de vários aspectos da doutrina oficial católica, Anselmo Borges explica ainda porque é que a Igreja recuperou algumas causas da morte de Jesus, quando propaga a imagem de um Deus que aterroriza.<br />Entrevista de <span style="font-weight:bold;">António Marujo</span><br />Ilustração <span style="font-weight:bold;">Nuno Saraiva</span><br /><br /><br />Os grandes valores da modernidade vêm fundamentalmente da Bíblia e o cristianismo trouxe ao mundo a ideia da dignidade divina de todos os seres humanos. Mas, apesar disso, a Igreja Católica lutou contra ideias como os direitos humanos, a secularização e a separação da Igreja e do Estado. O padre Anselmo Borges, membro da Sociedade Missionária da Boa Nova, admite que a religião tem sido e pode ser opressora, mas que só pode entender-se como força de liberdade e de libertação. <br />Nascido em 1944, em Resende, Anselmo Borges é uma das vozes singulares do catolicismo português. Dedicado há anos ao ensino da filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tem privilegiado a ética como área de reflexão. Mas a sua intervenção alarga-se ao campo mediático: colunista semanal do <i style="">Diário de Notícias</i>, publicou vários livros, entre os quais <span style="font-size:100%;"><i style=""><span style="">Janela do (In)visível</span></i></span><span style="font-size:100%;">, <i style="">Religião: Opressão ou Libertação?</i>, <i style="">Morte e Esperança</i>,<i style=""> Corpo e Transcendência</i>, <i style="">Janela do (In)finito</i>. O último, <i style="">Religião e Diálogo Inter-Religioso</i>, publicado no final de 2010, fala do outro como <span style="color:black;">fascínio e ameaça. “Talvez não seja por acaso que a primeira edição esgotou em três meses”, comenta, porque “as pessoas andam preocupadas com a questão do outro, hoje mais sentido como ameaça”. </span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Alimentando o gosto do pensar, Anselmo Borges diz que “a grande crise do nosso tempo é que já não há espaço para as grandes perguntas” Afirma que a Igreja precisa de assumir o valor da autonomia, confrontar-se com o pluralismo e com as neurociências, repensar a questão da sexualidade, da lei do celibato obrigatório e do lugar das mulheres. Organizador de dois congressos internacionais de teologia – sobre <i style="">Deus no Século XXI e o futuro do cristianismo</i> (cujas actas estão publicadas) e, em Outubro, sobre <i style="">Religião e (In)felicidade</i> – Anselmo Borges reflecte, aqui, sobre as razões da difícil relação do catolicismo com alguns temas da ética e da modernidade. E diz que a eutanásia é um problema em aberto… </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" ><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Tomo o título de um dos seus livros para perguntar se a religião é opressão ou libertação.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – A religião pode ser, tem sido e é, de facto, uma coisa e outra. Quando esmaga o ser humano, quando em nome de Deus se mata ou se impede a crítica ou o desenvolvimento das pessoas, quando em seu nome se cometem injustiças, aí a religião é opressora.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >E também oprimiu quando trouxe medos, com coisas como o inferno, com o impedimento da alegria a nível sexual, todo esse universo de pânico. Mas, pela sua própria dinâmica, ela é libertadora. Toda a religião arranca desta pergunta: o quê ou quem liberta e salva? Na sua raiz, ela só pode entender-se enquanto força de liberdade e libertação. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Um dos medos que refere é a sexualidade. O cristianismo tem medo dela?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – É importante desfazer equívocos. Uma coisa é a Bíblia e a mensagem originária cristã, com Jesus Cristo. É interessante ver que Jesus, perante a sexualidade, mesmo confrontado com desvios, é tolerante e perdoa. A Igreja parece ter posto o acento no sexo e nos seus desvios, mas Jesus o que condenou de forma veemente foi fundamentalmente a ganância, a avareza, a opressão: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >É necessário distinguir entre a Bíblia, onde se encontra um dos livros mais exaltantes do amor erótico, que é o <i style="">Cântico dos Cânticos</i>, e, depois, o mal-estar do cristianismo histórico em relação à sexualidade, que provém fundamentalmente dos gnósticos e de Santo Agostinho. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Santo Agostinho é herdeiro de uma escola gnóstica, que é o maniqueísmo, que leva a gnose à radicalidade.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Então, Santo Agostinho trouxe também problemas…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Ele é um génio, mas trouxe ao Ocidente e ao cristianismo histórico verdadeiras tragédias do ponto de vista sexual. Ele era maniqueu e, a partir do maniqueísmo, tinha resolvido o problema do mal: há dois princípios, um do bem e outro do mal. Há uma questão que se coloca sobretudo aos crentes: se Deus é infinitamente bom e omnipotente, como se explica o mal? Através do maniqueísmo, ele tinha resolvido o problema. Mas, uma vez convertido, precisa de encontrar uma solução, pois o cristianismo diz que Deus, quando olhou para o mundo, viu que tudo era bom. Donde vem então o mal? Quando se converte ao cristianismo, Santo Agostinho tem de encontrar a origem do mal. Vai à Carta aos Romanos, de São Paulo, e lê: “Adão, no qual todos pecaram.” Mas o grego (ele só conhecia o latim) diz: “Porque todos pecaram.” Uma coisa é Adão ser o primeiro que peca, outra é dizer que, nele, todos pecaram. E, de tal modo pecaram, que todos transportam esse pecado, que tem uma origem sexual e se transmite sexualmente.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Este é o mal que vem ao Ocidente através da gnose, do maniqueísmo, de Santo Agostinho. Todos são concebidos em pecado e desse pecado original só o baptismo liberta. Assim, não hesitou em “enviar” para o Inferno as crianças não baptizadas, porque vinham com o pecado original…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Num dos seus textos, diz que a Igreja perdeu a credibilidade em termos de doutrina sexual. É assim?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – A sexualidade também tem a ver com o prazer e este confronta-se com o poder. Na medida em que a Igreja se tornou uma instituição de poder, tem muita dificuldade em lidar com o prazer e a autonomia. Não sabe, por isso, como lidar com a sexualidade, com as pessoas que estão no mundo de modo autónomo. Essa é uma das questões fundamentais da Igreja. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Por isso surgem as questões relativas ao planeamento familiar, aborto, eutanásia…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – A Igreja lutou contra a modernidade embora, por outro lado, os grandes valores da modernidade venham fundamentalmente da Bíblia. Não é por acaso que é no Ocidente que se dá a modernidade, a secularização, a separação da Igreja e do Estado, que tem a ver com a autonomia, os direitos humanos… São valores que vêm da Bíblia, mas que os iluministas tiveram de impor contra a Igreja oficial. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Há um Papa que proibiu a leitura da Bíblia, outro refere-se à “detestável doutrina” dos direitos humanos. No entanto, são valores que vêm fundamentalmente da Bíblia. Afirmam-se a partir da ideia de um Deus transcendente, que cria por amor, livremente. Se Deus cria livremente, só pode criar criaturas autónomas, homens e mulheres livres, e as realidades terrestres seguem as suas leis, sem precisarem da tutela da Igreja. Por outro lado, o cristianismo trouxe ao mundo a ideia da dignidade divina de todos os seres humanos, independentemente da cor, etnia, sexo, posição social, nacionalidade ou religião.<span style=""> </span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – A autonomia relaciona-se com os limites, que a sociedade também coloca, e com a ética, que foi sempre construída também com base religiosa. Hans Küng propõe uma nova ética mundial. Mas se a religião tem problemas com a modernidade, como se faz o equilíbrio entre os limites e o desejo de autonomia inerente ao ser humano?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Quando Hans Küng fala de uma ética mundial, refere-se mais a um <i style="">ethos</i> – aquela atitude radicalmente humana perante as grandes questões humanas, em que haja um consenso mínimo. Refere-se a um conjunto de bases éticas em que seja possível o acordo de todos os homens, crentes ou não-crentes: o compromisso com o princípio da humanitariedade, que obriga a respeitar a dignidade inviolável da pessoa humana, o compromisso com a não-violência e o respeito pela vida, o compromisso com a justiça e a solidariedade, o compromisso com a igualdade e companheirismo entre homens e mulheres. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Não se pode basear a ética na religião, porque a ética é autónoma, isto é, não é antes de mais uma questão religiosa, mas humana. E é possível e imprescindível um consenso ético mínimo nas questões que hoje nos afligem, como a bioética, a justiça, a ecologia. É possível uma ética autónoma, também porque somos seres racionais e sociais. Sendo livres, somos capazes de nos darmos a nós próprios uma ética na responsabilidade. A liberdade implica a responsabilidade: somos capazes de nos darmos regras, somos capazes de responder por isso.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >A religião relaciona-se com a ética, mas vincula-se a ela devido a outros problemas, que têm a ver com a culpa, com as vítimas inocentes, com a esperança, e com o sentido último…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Também há uma dimensão social da ética…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – A ética é fundamentalmente social, pois o ser humano só existe com outros seres humanos. Se só houvesse um, nunca despertaria para si mesmo enquanto tal. O homem só é homem com outros. Ser homem e ser em relação é a mesma coisa. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Há sempre uma co-pertença de mim aos outros e dos outros a mim, e aos passados e aos futuros. Porque a identidade própria é sempre atravessada pela mediação do outro. Só tomo consciência de mim passando pelo outro, pela alteridade. A alteridade é constitutiva da identidade. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Fala-se de grandes questões do mundo como problemas éticos: pobreza, direitos humanos, desenvolvimento. De que modo isso se relaciona com o que referiu?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Hoje tomamos consciência de que há uma só humanidade. Se tomamos consciência de que cada pessoa só é pessoa em relação a cada um dos outros seres humanos, é uma vergonha que 20 por cento da humanidade controle 80 por cento da riqueza e que quase metade da humanidade tenha que viver com menos de dois euros por dia. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Todos pertencemos a todos. Um homem só é homem na humanidade, no seu vínculo a todos os outros. Mas, se não formos solidários por uma questão ética, de humanidade, então sejamo-lo ao menos por egoísmo esclarecido. Porque vamos entrar numa conflitualidade sem limites: quem julga que nunca mais haverá revoluções anda enganado.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Esse seria também um modo de resolver o debate sobre se os direitos humanos são uma construção ocidental? Ou esta é uma falsa questão?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Sou contra o relativismo e proponho o perspectivismo, que é diferente. Há algo que transcende o relativismo cultural. Julgo que tem de haver algo de transcultural. Esse mínimo, o que seria? Pelo menos, o entendimento nesta pergunta: “O que é ser homem?” Porque, se não houver algo de comum, como podemos dialogar uns com os outros? Há esta universalidade: a dignidade do ser humano.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >A partir daqui, é possível e necessário avançar para um <i style="">ethos</i> mundial, o que se traduz nos direitos humanos, embora eu compreenda que haja quem critique – e não apenas por meros interesses políticos. A Declaração dos Direitos Humanos, tal qual está formulada, incide muito na dimensão individual. Talvez seja necessária também uma carta dos direitos humanos, incidindo mais nos direitos de grupos, das culturas, e também nos deveres…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – No seu último livro, <i style="">Religião e Diálogo Inter-Religioso</i>, escreve que “o outro é vivido sempre como fascinante e ameaça”. Não estamos hoje mais a viver o outro (o islão, o estrangeiro, o imigrante) como ameaça do que como fascínio?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – As pessoas andam preocupadas com a questão do outro, hoje mais sentido como ameaça, como dizem as sondagens, concretamente na França e na Alemanha. Por um lado, há a crise económica; por outro, o diálogo não pode ser unidireccional. Não se pode esquecer que o cristianismo é hoje a religião mais perseguida no mundo e nomeadamente no Médio Oriente, onde parece haver um plano para fazer desaparecer a presença dos cristãos.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Julgo que há condições fundamentais para o diálogo: o fim da leitura literal dos textos sagrados e a separação da Igreja e do Estado. Os Estados não podem ser confessionais. Isso que custou tanto à Igreja Católica tem de ser aprendido também pelos muçulmanos. Depois, as religiões têm de dialogar, porque nenhuma possui a verdade toda sobre Deus e o sagrado. O fundamentalismo – há fundamentalismo religioso, económico, político, filosófico – tem a sua origem na ignorância e na estupidez, pois julga possuir o fundamento. Ora, quem é o ser humano, finito, para possuir o fundamento?</span></p> <p class="MsoNormal" style="font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Também nos confrontamos com a crítica da hierarquia católica, a começar pelo actual Papa Bento XVI, ao relativismo ético, que aponta para muitas questões no âmbito da moral sexual…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – É evidente que quanto ao sexo não vale tudo. Por outro lado, dá a impressão que a Igreja vive obcecada com o sexo. Ora, o cristianismo é realmente uma religião do corpo. Porque, logo no livro do <i style="">Génesis,</i> se diz que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, “homem e mulher os criou” e achou que isso era muito bom. Deus mesmo, em Jesus Cristo, assumiu a corporeidade humana na sua fragilidade. E os cristãos têm como núcleo da sua fé a ressurreição de Jesus e a ressurreição dos mortos. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Como é que uma religião do corpo se dá depois tão mal com o corpo, historicamente? É espantoso e é necessário investigar isso...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Dá-se mal e nega a dimensão transcendente do corpo, aludindo ao que trata no seu livro <i style="">Corpo e Transcendência</i>…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – O corpo humano vivo é alguém, alguém que está aberto à transcendência. O cristianismo é a grande resposta a esta corporeidade, que se abre à transcendência do próprio Deus e que espera a ressurreição dos mortos. Mas a Igreja oficial deu-se muito mal com a matéria, com o corpo. Há o problema do poder e, voltando à moral, do celibato não assumido. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >O facto de a ética ter sido entregue a moralistas que eram padres, com um celibato obrigatório, por vezes não assumido, eventualmente infeliz, tudo isso envenenou o corpo e a sexualidade. E envenenou a mulher, porque a moral esteve entregue a homens, que talvez vivessem uma má relação com o corpo e que tinham de amaldiçoar a mulher como o fruto proibido. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Essa má relação com o corpo não explica também o mal-estar da nossa sociedade em relação à morte?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Quando falamos do corpo, falamos do ser humano, do corpo-pessoa, que é este enigma, esta exaltação, esta alegria, esta pergunta infinita, mas que se confronta com o limite. E é daqui que surge a pergunta religiosa, porque, quando nos damos conta do limite, perguntamos por aquilo que está para lá do limite, perguntamos pela transcendência. Surge aqui a questão da morte. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Há realmente hoje um enorme mal-estar em relação à morte, também porque se não quer aceitar o limite. O que se faz para manter o corpo jovem!... Mas envelhecemos e morreremos. E é fundamental reconciliar-se com a mortalidade.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – O mesmo mal-estar existe com a sexualidade.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – A relação com a sexualidade, hoje, não é boa, não é sadia. Passou-se do tabu ao vale tudo. E as pessoas percebem que não vale tudo. Um grande teólogo, renovador da moral católica, do qual agora se fala pouco, Bernard Häring, disse-me uma vez: “A Igreja Católica também tem culpa disso. Fez tabu de tudo e as pessoas quiseram depois libertar-se, mas libertaram-se mal.” Por isso hoje vivemos este mal-estar. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Há uma enorme crise de uma sociedade que apostou no espectáculo, voltada para o ter, para o consumir sem limites. A partir daí, a grande pergunta é a da morte. Da qual se fez tabu. Ora, uma sociedade que não sabe conviver com a morte também não sabe viver com a vida. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Penso mesmo que, para perceber uma sociedade, mais importante do que saber como é que nela se vive é saber como é que nela se morre e nela se trata os mortos. Ora, na nossa sociedade, sobretudo por causa da desafeição em relação à religião já não há esperança em relação ao além. Então, numa sociedade sem eternidade, só ficam instantes que não fazem tecido e, por isso, se devoram uns aos outros. A um agora segue-se outro agora... e assim sucessivamente. E é preciso viver sofregamente o instante, consumir, correr, afirmar-se na vertigem, porque, depois, não há mais nada. Este é hoje o nosso problema maior.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Não sou a favor do pensamento mórbido sobre a morte – infelizmente, a própria Igreja também utilizou o medo da morte para exercer o poder –, mas penso que o pensamento sadio sobre a morte traz sabedoria ao viver.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – O poder é uma questão-chave...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – O poder é fundamental para perceber as grandes problemáticas na história da Igreja, concretamente na sua contradição com o cristianismo originário.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – O cristianismo tem a ressurreição como resposta à morte, mas não sabe falar dela.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – A ressurreição deve entender-se na dinâmica do corpo-pessoa aberto à transcendência. Uma vez que a Igreja não sabe lidar com o corpo, fala da alma. Mas hoje, no quadro da antropologia, não se pode pensar em dualismo de alma e corpo. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >De qualquer forma, em relação ao para lá da morte, ficamos sem palavras. É o indizível. Porque nós estamos preparados para pensar no quadro do espaço e do tempo, e a morte retira-nos precisamente do espaço e do tempo. Mas a fé do cristianismo na ressurreição é essencial. Quem acredita em Deus que é amor, crê que não será abandonado por Deus nem mesmo na morte. Na morte, em vez de cair no nada, o crente espera entrar na plenitude da vida em Deus. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Nesse seu livro, refere-se às respostas perante a morte: resignação face ao nada, integração no todo, reencarnação, ressurreição...</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Julgo que dificilmente se consegue conviver com o nada. Então, como as pessoas não toleram o nada, é interessante observar que 25 por cento dos católicos franceses acreditam na reencarnação. Entendo isso, mas penso que a reencarnação é insustentável até do ponto de vista antropológico.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >A ressurreição é a proposta da fé cristã. Mas ela não pode ser entendida como a reanimação do cadáver. Só se pode dizer que a pessoa na sua identidade encontrará a plenitude da vida em Deus. É um mistério do qual apenas encontramos acenos no amor e na música.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Por vezes diz que a Igreja esqueceu o essencial: a ressurreição, a proposta de liberdade, a autonomia e transcendência do ser humano…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Quase sou levado a dizer que, desgraçadamente, a Igreja pode ser acusada por alguns de ter recuperado grande parte das causas que levaram Jesus à morte. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Quais?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – O que levou Jesus à morte foi a religião oficial dos sacrifícios, que explorava o povo. Jesus enfrentou-se fundamentalmente com o sacerdócio do Templo, pois Deus dizia: “Eu não quero sacrifícios, quero misericórdia.” Jesus veio anunciar um Deus de amor, não precisa de sacrifícios. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >As religiões estão assentes no sacrifício. Jesus enfrentou o sacerdócio do Templo e essa foi uma das causas da sua morte. A outra foi que ele morreu como subversivo, como alguém que subleva a ordem social e política injusta. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Encontramos aqui a mensagem nuclear de Jesus, que o leva à morte: um Deus de amor, que não precisa dos sacrifícios e que quer que todos os homens e mulheres se amem, que haja justiça e fraternidade no mundo. A Igreja recuperou, neste sentido, algumas das causas da morte de Jesus: um Deus que mete medo e aterroriza. E nem sempre dentro da Igreja reina a verdade limpa e honesta da transparência e da justiça: pense no Vaticano e na Cúria Romana.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – É um Deus imoral que provoca o aparecimento do ateísmo, como sugere em vários dos textos do livro <i style="">Janela do (In)visível</i>?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Um deus que mete medo, que humilha as pessoas e impede a sua alegria, que leva à violência e à guerra, é um deus em relação ao qual só há uma atitude digna: ser ateu. O mesmo se diga da doutrina que diz que Deus precisou da morte do Filho para aplacar a sua ira. Este deus seria pior que eu, é imoral, porque mata a vida, quer o sangue do Filho, precisa de vítimas. Isso é absolutamente intolerável. Um Deus que exige o sangue das vítimas é o Deus da vingança. Ora, se Deus se vinga, nós também podemos vingar-nos, podemos ir para a guerra.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >O Deus que Jesus anunciou constituiu uma revolução. Jesus não veio anunciar que há Deus, porque Deus nesse tempo era uma evidência social. O núcleo da sua mensagem é que Deus é amor. Esta é que é a notícia boa e felicitante do Evangelho. Ora, o que a Igreja pregou muitas vezes, ao longo dos tempos, foi uma má notícia, o “disangelho”, no dizer de Nietzsche. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – O que explica uma parte do ateísmo. Mas, em muitos dos seus textos, tem uma visão positiva do ateísmo. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Sim. Ai de nós se não houvesse ateus que sabem o que isso quer dizer…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Ateus graças a Deus?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Não… Admiro os ateus que, quando ainda não havia liberdade religiosa e ser ateu significava o fogo da Inquisição e implicava, no quadro doutrinal da época, ir para o Inferno, ousaram, em nome da liberdade crítica, da razão e da própria dignidade de Deus e do homem, pôr a questão de Deus e ser ateus. Esses são santos da humanidade, porque foram eles que obrigaram a criticar imagens falsas e ignominiosas de Deus.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Perante os ateus, é necessário perguntar em que Deus não acreditam. Os crentes, se também souberem o que isso quer dizer, talvez estejam de acordo com alguns ateus, dizendo: num Deus vingativo, guerreiro, em nome do qual a humanidade é explorada, nesse Deus também não acreditamos.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Tem um texto com o título “Karl Marx actual”. Vindo de um teólogo, soará estranho a algumas pessoas. Ainda mais hoje, em que o marxismo está fora de moda, mesmo apesar da crise… Como explica isso?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Karl Marx ensinou-nos, por exemplo, que ninguém fala a partir de um lugar neutro. Todos falamos a partir de um lugar social. A leitura que Marx faz em relação ao dinheiro enquanto mediador das relações humanas traduz a monetarização do humano. O dinheiro é o deus que tudo domina, ao qual homens e mulheres prestam culto. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Estes aspectos mostram a actualidade de Marx. Tal como Galileu, que mostrou que o homem não era o centro do universo, Darwin, que ensinou que provimos da cadeia da evolução, ou Freud, que mostra que a razão não domina tudo, Marx também nos ensina a ver que nenhum de nós fala a partir de um lugar neutro. A palavra justiça não é neutra, como não há consensos neutros no domínio social, porque cada um fala a partir de um lugar próprio. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >O conceito de justiça não será o mesmo para um grande capitalista e para um pai ou uma mãe desempregados que têm de alimentar três ou quatro filhos. O chamado “socialismo real” morreu, felizmente, mas Marx tem muita actualidade, sobretudo nestas dimensões. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – A religião continua a ser a busca de sentido?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Do sentido, do sentido último. Por isso é que nunca desaparecerá. E aqui reencontramos Marx. Ele tinha razão ao criticar a religião como ideologia. Mas ele não tinha razão ao pensar que, uma vez estabelecida a justiça social, a religião desapareceria. É que, mesmo que fosse possível uma sociedade transparente e sem conflitos sociais, a religião não desapareceria, porque há sempre o problema do sentido final, da morte, do tédio, como dizia Ernst Bloch.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Na prática e na disciplina da Igreja, quais são os aspectos mais importantes a mudar?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Tarefa fundamental é testemunhar, por palavras e obras, o Evangelho de Jesus e ajudar as pessoas a fazer a experiência de Deus. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >A Igreja precisa de assumir o valor da autonomia, em vários domínios, como a participação dos leigos, a liberdade de investigação e ensino, abrir-se a uma cosmovisão processual e não estática, confrontar-se com o pluralismo, com as novas ciências, nomeadamente as neurociências. A grande crise do nosso tempo é que já não há espaço para as grandes perguntas, sendo, pois missão da Igreja manter acesa a pergunta. Para isso, ela própria tem de deixar-se interrogar.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Tem de repensar a questão da sexualidade, nomeadamente dos anticonceptivos, da lei do celibato obrigatório. As mulheres não podem continuar a ser discriminadas. Não sou ingénuo: tem de haver alguma organização dentro da Igreja, mas uma coisa é o ministério e outra é o poder enquanto domínio e carreirismo.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – A função clerical de hoje não tem mais a ver com o sacerdócio judaico do tempo de Jesus do que com os ministérios dos primeiros tempos do cristianismo?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – A grande categoria religiosa é o sagrado, o mistério. O sagrado é o referente de todas as religiões. Se não houvesse experiência do sagrado, do mistério, as religiões não teriam lugar. Mas isso não implica a sacralização dos sacerdotes para oferecer sacrifícios. O Novo Testamento evitou a palavra <i style="">hiereus</i>, que significa sacerdote. Na Igreja primitiva, fala-se em ministérios e não em sacerdotes.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Como deveria a Igreja encarar a questão do limite em casos como o aborto ou a eutanásia?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Sou contra o aborto, que é um mal, objectivamente. Deveria haver educação sexual séria, também para que o aborto fosse evitado e para que as pessoas pudessem exercer a sua autonomia sexual no amor, na alegria e na dignidade. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Dito isto, a Igreja deveria estar muito atenta aos progressos científicos e distinguir entre vida, vida humana e pessoa humana. Assim, por exemplo, até à nidação, uma vez que pode haver ainda gémeos monozigóticos, não temos propriamente um indivíduo, de tal modo que a interrupção do processo não se pode chamar um homicídio. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Acrescento que a Igreja tem que saber argumentar, também do ponto de vista ético. Quando se diz que só se devem usar meios anticoncepcionais naturais, pergunto: o que são métodos naturais, se foi o homem que os descobriu? A Igreja torna o seu discurso não crível, porque, por vezes, a argumentação é frágil ou inexistente. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >Indo à sua pergunta, julgo que um cristão não estava impedido de votar favoravelmente o projecto de lei da descriminalização do aborto. O que é inadmissível é que, depois, segundo a lei, a mulher que aborta não pague taxa moderadora e seja possível fazer dois ou mais abortos por ano.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – E quanto à eutanásia?</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – A eutanásia é um problema em aberto, que não pode ser tabu. Se Deus deu a vida humana, deu-a mesmo. A argumentação que muitos cristãos apresentam de que não se pode intervir no fim da vida porque esta é dom de Deus não tem em conta a autonomia.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" > </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm; font-weight: bold;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >P. – Dizia que a vida é um dom de Deus…</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-indent: 1cm;font-family:georgia;"><span style=";font-size:100%;color:black;" >R. – Se Deus deu a vida, a vida, para o ser humano, é um dom e não é um fardo. E, com autonomia, tem pelo menos o direito de pôr a questão da eutanásia. É uma questão em aberto. Claro que neste problema, como no aborto, estamos perante questões-limite, que devem ser tratadas com toda a responsabilidade. Ninguém pode acabar com a vida de modo irresponsável, porque nós também pertencemos aos outros. E é preciso sublinhar que só o próprio é que poderá dispor da sua vida, em determinadas circunstâncias e mediante um pedido de ajuda consciente e consistente.</span></p> <span style=";font-family:";font-size:100%;color:black;" >Exige-se imenso cuidado no debate, porque vivemos numa sociedade na qual predomina o poder do dinheiro e o economicismo, há pouco respeito pela vida e os velhos são menosprezados e até excluído</span><span style=";font-family:georgia;font-size:100%;" >s.</span>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-70993591384009494162010-04-16T15:34:00.003+01:002010-04-16T15:40:34.270+01:00clarividência e coragem<div align="justify">Quando a orientação hierárquica da Igreja é a de ver em cada crítica um ataque e quando o descrédito social das suas palavras atinge níveis tão elevados e espalhados, impõem-se leituras serenas e clarividentes do que está a acontecer. Essas leituras escasseiam - e isso é mais um dos sinais dos tempos. É por tudo isso que <a href="http://www.elpais.com/articulo/sociedad/Carta/abierta/obispos/catolicos/todo/mundo/elpepusoc/20100415elpepisoc_3/Tes">esta carta</a> aberta de Hans Küng a todos os bispos católicos é tão oportuna e importante.</div>José Manuel Purezahttp://www.blogger.com/profile/10228797898189505911noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-36870219589859173362010-04-16T00:36:00.006+01:002012-05-29T11:29:08.532+01:00Transfiguração – 1º Domingo<span style="font-weight: bold;">Cântico de Entrada</span> – Abre os meus olhos<br />
<br />
Abre meus olhos meu Senhor<br />
E verei o dia<br />
Visitação do sol da luz<br />
Que ilumina a vida<br />
Guia-me pela mão<br />
Sê a lâmpada dos meus pés<br />
Que em tudo vacilam.<br />
<br />
Guia os meus pés e as minhas mãos<br />
Para a paz que façam.<br />
Dá-me o teu nome e partirei<br />
Dos lugares da sombra<br />
Vem poder do Amor<br />
Libertar o que nos falta ver<br />
E que os olhos querem<br />
<br />
Abram-se as portas do que é breu<br />
Sobre os campos verdes<br />
E floresçam mil flores<br />
Onde a morte cresce<br />
Vem Clamor da Manhã,<br />
Vem gritar que um fogo arde em nós<br />
E a promessa avança<br />
<br />
<br />
<span style="font-weight: bold;">Momento Penitencial</span><br />
Carta a meus filhos sobre os Fuzilamentos de Goya, Jorge de Sena dito por Mário Viegas <span style="font-size: 85%;">(Público [ed.], <span style="font-style: italic;">Mário Viegas - Discografia Completa: 5 – Pretextos para Dizer (1978)</span>, Lisboa, Público - Comunicação Social, SA, 2006)</span><br />
<br />
<embed bgcolor="#ffffff" src="http://www.xanga.com/media/xangaaudioembedplayer.swf?c=2&i=3872136&m=c9caa" style="height: 80px; width: 400px;" type="application/x-shockwave-flash" wmode="opaque"></embed><br />
<br />
<span style="font-weight: bold;"><br />Kyrie</span><br />
<br />
<embed bgcolor="#ffffff" src="http://www.xanga.com/media/xangaaudioembedplayer.swf?c=2&i=3872137&m=bff22" style="height: 80px; width: 400px;" type="application/x-shockwave-flash" wmode="opaque"></embed><br />
Lourenço Ribeiro, missa pro defunctis – Coro Gulbenkain, dir. Jorge Matta<br />
<br />
De seguida, comungámos a palavra do Evangelho; juntámos, a este momento, um texto de Erri de Luca (que nos vai acompanhar em todo o percurso):<br />
<br />
"BABEL <br />
Os homens gostam da construção civil. Erigiram muralhas colossais, templos sobre colunas, pirâmides, castelos, arranha-céus, pontes. A sagrada escritura conta a complexa e inspirada equipa reunida por Salomão para construir o templo em Jerusalém. Ainda antes deste, um empreendimento gigantesco e visionário foi concebido pela humanidade nos seus inícios, segundo a narração do capítulo 11 do livro <span style="font-style: italic;">Bereshìt</span> / Génesis: um edifício que chegasse ao céu. Foi o mais grandioso projecto de todos os tempos, merecedor por este motivo do maior desastre. A humanidade não tinha outro desejo, outras ocupações: a escritura diz que usava palavras únicas, <span style="font-style: italic;">devarím ahadím</span>. Estava concentrada numa única tarefa, como uma sociedade de abelhas, de formigas. Deus afastou-a desse beco sem saída: o céu não poderia ser alcançado com pedras e cal. Era uma multidão assustada a que se tinha reorganizado depois do dilúvio. Sonhava um lugar que nunca mais fosse submerso, uma altura que fundasse uma aliança com o céu, era esta a intenção da torre. Deus intervém com o dom misterioso das línguas que nos obriga a aprender muitos modos de nomear o mesmo sol, o mesmo pão. Teve em troca os alfabetos, as orações, os cantos. <br />
E teve o vasto mundo para habitar, afastando-se assim da ilusão de um centro. Pela primeira vez a intenção de Deus é de espalhar a humanidade por toda a superfície da terra. Pela primeira vez se lê esta sua vontade: «e dali os espalhou <span style="font-style: italic;">Iod</span> / Deus sobre a face de toda a terra» (<span style="font-style: italic;">Bereshìt</span> / Génesis 11,9).<br />
Juntamente com a multiplicação das línguas multiplicam-se os horizontes. Não haverá mais lugar da terra que permaneça sem uma pegada humana, sem uma tentativa de residência. Dos gelos habitados pelos esquimós a norte, como pelos povos da Terra do Fogo no sul, subindo os graus de latitude e de temperatura até aos desertos: a espécie humana move-se desde o vale de <span style="font-style: italic;">Scin’ar</span> para multiplicar-se pelo planeta e tornar-se assim inextirpável. Nenhum dilúvio ou epidemia a extinguirá, porque em alguma parte resistirá.<br />
Não era preciso subir ao céu para sobreviver, não necessitava de se entrincheirar, mas antes lançar-se à aventura do mundo. Aqui Deus ensina que a espécie humana é tanto mais forte quanto mais é variada e quanto mais é colocada à prova. Toda a tentativa de lhe dar um só sangue, um só pão, um só remédio vai na direcção errada. E também um só Deus: porque deve agradar-lhe a infinita variedade com que as criaturas, animais incluídos, o sentem próximo.João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-55554340078154567922010-04-08T01:34:00.005+01:002010-04-15T23:33:06.372+01:00Entrevista a Albert Rouet, Arcebispo de Poitiers (Le Monde)«Albert Rouet, Arcebispo de Poitiers, França, numa entrevista ao Le Monde (que aconselho vivamente) afirma profeticamente:<br /><br />“Pour qu'il y ait pédophilie, il faut deux conditions, une perversion profonde et un pouvoir. Cela signifie que tout système clos, idéalisé, sacralisé est un danger. Dès lors qu'une institution, y compris l'Eglise, s'érige en position de droit privé, s'estime en position de force, les dérives financières et sexuelles deviennent possibles. C'est ce que révèle cette crise, et cela nous oblige à revenir à l'Evangile; la faiblesse du Christ est constitutive de la manière d'être de l'Eglise.”»<br /><br />Deixo aqui, por sugestão do Samelo, o link para a entrevista na íntegra:<br /><a href="http://www.lemonde.fr/societe/article/2010/04/03/l-eglise-est-menacee-de-devenir-une-sous-culture_1328305_3224.html">http://www.lemonde.fr/societe/article/2010/04/03/l-eglise-est-menacee-de-devenir-une-sous-culture_1328305_3224.html</a><br /><br />Junto, também, a música por ele sugerida:<br /><br /><embed style="width:400px; height:80px;" wmode="opaque" bgcolor="#ffffff" type="application/x-shockwave-flash" src="http://www.xanga.com/media/xangaaudioembedplayer.swf?c=2&i=3867765&m=dc61a"> </embed><br /><br /><span style="font-weight:bold;">A Casa do Amigo</span><br />(Ricardo Cantalapiedra)<br /><br />A casa do Amigo não era grande <br />A casa era pequena <br />Na casa do Amigo havia alegria <br />E flores na porta <br />A todos ajudava nos trabalhos<br /><br />Seus actos eram justos<br />O Amigo nunca quis mal a ninguém<br />Partilhava nossas dores<br />Partilhava nossas dores<br /><br />O Amigo nunca teve nada seu<br />Suas coisas eram nossas<br />A “terra” do Amigo era a vida<br />Amor era a sua “terra”<br />Alguns não quiseram o Amigo<br />Expulsaram-no da terra<br />Sua ausência foi chorada p’los humildes<br />Penosa foi Sua ausência<br />Penosa foi Sua ausência<br /><br />A casa do Amigo tornou-se grande<br />E nela entrou muita gente<br />Na casa do Amigo entraram leis<br />E normas e condenações<br />A casa encheu-se de hipócritas<br />De negociantes<br />A casa encheu-se de negociantes<br />Correram as moedas<br />Correram as moedas<br /><br />A casa do Amigo está mui limpa<br />Mas... faz frio nela...<br />Já não canta o canário p’la manhã<br />Nem há flores na porta<br /><br />Fizeram da casa do Amigo uma obscura caverna<br />Onde ninguém se ama nem se ajuda<br />Onde não há Primavera<br /><br />Onde não há Primavera...<br /><br />Saímos de casa do Amigo<br />Em busca dos Seus passos<br />E já estamos vivendo noutra casa<br />Uma casa pequena<br />Onde se come o Pão e bebe o Vinho<br />Sem leis nem condenações<br />E já encontrámos nosso Amigo<br />E seguimos Seus passos<br />E seguimos Seus passosJoão Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-91963492135054288432010-02-28T23:34:00.001+00:002010-04-16T00:34:41.324+01:00QuaresmaQuisemos que as nossas Celebrações, durante a Quaresma deste ano, fossem marcadas por quatro momentos: o Penitencial; o da partilha da Palavra; o do Pai Nosso/Abraço da Paz, a que quisemos trazer experiências diversas de trabalho com pequenas comunidades; e, finalmente, o da Acção de Graças.<br /><br />O Evangelho de cada um dos Domingos seria o eixo da reflexão de cada uma das Celebrações. Assim: <br />a Transfiguração; <br />a parábola da figueira;<br />a parábola do Pai Misericordioso;<br />a da mulher adúltera;<br />antecipavam o grande momento do Domingo de Ramos, com a narração da Paixão.<br /><br />As experiências que nos desafiaram, em cada Domingo e por esta ordem perfeitamente aleatória, foram: a <span style="font-weight:bold;">Associação de Santa Bakita</span> (Timor-Leste, e a que estão ligados a Kuki e o Raimundo); a <span style="font-weight:bold;">Promundo</span> (constituída, inicialmente, por estudantes e professores da escola Secundária Avelar Brotero); a <span style="font-weight:bold;">Associação Vida Abundante</span> – núcleo da Lousã; e as <span style="font-weight:bold;">Criaditas dos Pobres</span>.<br /><br />Pela riqueza da partilha que fomos fazendo vamos procurar deixar aqui a maior parte dos <span style="font-style:italic;">materiais</span> que nos foram apoiando essa reflexão.João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-82007994085120842162009-12-14T11:19:00.000+00:002012-05-29T11:21:59.976+01:003º Domingo do AdventoApresentação, José Pureza<br />
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A Comunidade de Acolhimento Cristão João XXIII é uma comunidade eclesial de base sem assumir as consequências todas de o ser.<br />
Saímos das paróquias por causa do anonimato e cultivámos a familiaridade, o afecto e o cuidado com rosto concreto. Saímos dos movimentos por causa da nostalgia da cristandade de massas, triunfante e organizada, e cultivámos a pequenez e a presença no que mexe lá fora.<br />
Do que não saímos foi daquilo em que fomos educados na Acção Católica: a ter a <span style="font-weight: bold;">revisão de vida</span> como modo de ser cristão, a assumir a opção preferencial pelos pobres como princípio de vida e a querer ser fermento que leveda a massa como forma de compromisso.<br />
Escolhemos João XXIII como patrono porque não nos revemos numa igreja que multiplica anátemas e que desconfia de um mundo emancipado das religiões.<br />
Somos Comunidade de Acolhimento porque acolhemos pessoas e, sobretudo, a vida a fluir, totalmente insubmissa a normas e a códigos morais fechados e apriorísticos.<br />
Deve ser por isto tudo que o nosso bispo nos qualificou como "comunidade de risco". Esse é o mais forte dos traços de identidade desta comunidade – o gosto, a vocação de existir no risco, aquele que Yves Congar usou para definir a "igreja do limiar". Assim: "Gente que passa junto ao limiar da igreja, uns pensando-se fora, outros pensando-se dentro. Mas também aqui a fronteira não existe (…). A diferença entre uns e outros não é redutível a «acreditar» ou «não acreditar» (…). Por um lado, os que tentam seguir Jesus Cristo fazem-no porque nele vêem o caminho para Deus. Por outro lado, os que servem os fracos de entre os mais fracos são os que estão perto de Deus. Não há uma fronteira visível na humanidade, separando a comunidade dos cristãos da comunidade de toda a humanidade."<br />
A comunidade, tal como a Igreja, não está, é. Sem um território, sem uma administração, sem um templo. Apenas acolhimento, risco e luz" (que é o nome da nossa Sala).<br />
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<embed bgcolor="#ffffff" src="http://www.xanga.com/media/xangaaudioembedplayer.swf?c=2&i=3779714&m=19c3f" style="height: 80px; width: 400px;" type="application/x-shockwave-flash" wmode="opaque"></embed>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-59270255311528209302009-11-23T01:39:00.007+00:002009-11-23T09:06:16.842+00:00Cristo ReiQue poder temos? o que dele fazemos?<br />Foi este o desafio que a Carminho e o José Pureza nos lançaram... a partilha foi rica e intensa, tendo versado diversos dos poderes com que lidamos: o de liderar equipas e/ou instituições, o de influenciar os poderes institucionais pela via da participação cívica,...<br />Mas foi com muito agrado que registámos uma das notícias deste fim-de-semana: o encontro de Bento XVI, em Roma, com mulheres e homens da cultura. Escritoras/es e músicas/os, arquitectas/os e poetisas/as, cineastas e pintoras/es, mais próximos ou mais <span style="font-style: italic;">distantes</span> da Igreja, tod@s foram convocados pelo Papa, que usou o seu poder para estabelecer pontes, construindo um diálogo rico e fecundo com um mundo tantas vezes, e de modo especial no último século, <span style="font-style: italic;">malquisto </span>(bastará lembrar o episódio mais recente, vivido em Portugal).<br /><br />Fica aqui, ainda, uma outra reflexão, descoberta no <a href="http://religionline.blogspot.com/">http://religionline.blogspot.com/</a><br />Para a semana lá nos encontraremos para celebrar o primeiro domingo do Advento.<br />Começaremos, então, a caminhada para o Natal.<br /><br />Tragam um/a amig@, também.<br />Uma boa semana para tod@s.<br /><br /><object name="iLyROoafIK3Y" id="iLyROoafIK3Y" type="application/x-shockwave-flash" data="http://sa.kewego.com/swf/p3/epix.swf" height="300" width="400"> <param name="flashVars" value="language_code=fr&playerKey=9ae796f26a4d&skinKey=8374fbecf1a6&sig=iLyROoafIK3Y&autostart=false"> <param name="movie" value="http://sa.kewego.com/swf/p3/epix.swf"> <param name="allowFullScreen" value="true"> <param name="allowscriptaccess" value="always"></object><div style="width: 400px;"><a href="http://mesvideos.croire.com/video/iLyROoafIK3Y.html">croireTV : Christ, Roi de l'univers - Croire</a><br /><br />(Comentário de Jean-Luc Ragonneau, redactor de Croire Aujourd'hui)</div>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-52058815262608968902009-11-21T01:00:00.002+00:002009-11-21T01:33:33.026+00:00ApocalipseRetomámos as nossas celebrações há algum tempo.<br /><br />No passado Domingo o Samelo ensinou-nos que o Apocalipse é o anúncio da <span style="font-weight: bold;">esperança</span> para o <span style="font-weight: bold;">tempo presente</span>.<br /><br />Por isso mesmo, e apesar de já ter passado há algum tempo (do tamanho de um grão de mostarda ou talvez menos...), aqui vos deixo três pequenos textos: dois da Cila e do Zé Filipe, outro do Samelo, todos do Casamento que a Cila e o Zé Filipe celebraram tendo o Samelo e mais umas dezenas de Amigos por testemunhas (27.Junho.2009). Porque tratam, cada um à sua maneira, de anunciar a esperança.<br /><br />"<span style="font-weight: bold;">Boas vindas</span><br />Queremos agradecer, do fundo do coração, a presença de cada um de vós, aqui hoje.<br />A escolha do lugar para realizar o nosso casamento, como tivemos a oportunidade de dizer a alguns dos presentes, recaiu sobre esta igreja para facilitar a vossa chegada cá, sobretudo dos que não conhecem Aveiro. No entanto, quando viemos conhecer este espaço, percebemos que nos identificamos bastante com esta igreja, do arquitecto Luís Cunha.<br />Os bancos estão dispostos em semi-círculo e em anfiteatro, tornando as pessoas mais próximas. No projecto inicial havia apenas a imagem de Nossa Senhora e este Cristo de espelho para que nos possamos rever Nele. A igreja é simples, despojada de ostentação e riqueza, mais próxima da realidade das duas povoações que acolhe. Estamos contentes com a escolha deste lugar, agora descoberto o seu estilo, pós-Concílio Vaticano II. Como o Samelo gosta de lembrar “nada acontece por acaso”.<br />Vamos ainda explicar brevemente o sentido que demos a esta celebração.<br />Pois bem, como é evidente, estamos aqui porque somos crentes, porque afirmamos acreditar em Deus, no Deus de Jesus Cristo. Para nós acreditar em Deus é acreditar que a nossa história não é em vão. Isso dá-nos uma responsabilidade especial sobre a nossa própria vida. Como dizia o Jorge de Sena, achamos que devemos viver com uma “fiel dedicação à honra de estar vivo”. Descobrirmos que nos encontros e desencontros das nossas vidas alguma coisa mais preciosa emerge – aquilo a que Jesus chamava o Reino de Deus, já não com um sentido apocalíptico, mas com um sentido libertador. A sua morte e ressurreição mostram-nos qual o Reino de que se fala: viver a vida com sentido até ao fim. Nós temos muitas vezes essa intuição nos momentos mais felizes e por vezes também nos momentos mais tristes: a vida só se ganha se formos capazes de a oferecer aos outros, sabendo que nada é em vão.<br />Foi assim que aprendemos a olhar para a vida e é assim que queremos continuar a vivê-la a dois. Por isso viemos aqui celebrar o nosso casamento. Esta missa, que preparámos muito ao nosso jeito, será provavelmente a melhor forma de explicação do que queremos dizer e do que queremos viver. E então, celebremos!"<br /><br />"<span style="font-weight: bold;">Homilia</span>*<br />Antes de passarmos ao rito do matrimónio, gostávamos de vos dizer duas ou três coisas sobre esse momento, sobre o que ele significa para nós, no fundo sobre o que queremos que seja o nosso casamento. E vamos fazê-lo de forma muito simples, exprimindo alguns desejos que têm muito a ver com os textos que acabámos de ouvir.<br />Primeiro desejo: queremos que o nosso projecto de vida a dois seja um projecto aberto. Aberto à novidade de um Deus que nos surpreende, aberto à solidariedade para com todos, aberto a um projecto muito mais vasto que é o projecto de Deus para a felicidade das pessoas. Como nos diz o poema da Rita: queremos “encher tudo de futuros”, queremos construir possibilidades novas, queremos transformar os nossos sonhos e esperanças em realidade. Queremos que o nosso projecto de vida a dois seja também uma forma modesta de participação no que Jesus chamava o Reino dos Céus.<br />O texto do Evangelho que escolhemos, conhecido por “Sermão da Montanha”, é talvez um dos textos mais belos da história humana, onde Jesus explica qual é esse Reino que ele anunciava: um reino para os simples e generosos, onde haverá consolo para os que choram, um reino de paz, de verdade e de justiça. Como dizia Umberto Eco, mesmo que Deus não exista, o facto de a humanidade O conceber com um projecto tão maravilhoso de amor e esperança é por si só um motivo de espanto e crença na humanidade. É esse projecto de amor, de esperança e liberdade que queremos viver a dois.<br />Segundo desejo: queremos que este compromisso seja para nós e para todos um motivo forte de alegria. A alegria não é somente contentarmo-nos com alguma coisa boa momentaneamente. Também não é pintarmos o mundo de cor-de-rosa. A alegria de que falamos não é propriamente um sentimento, mas antes uma forma de encarar a vida, alegre porque cheia de sentido.<br />A primeira leitura, do livro do Eclesiastes explica um pouco mais o que queremos dizer. “Para tudo há um tempo” – devemos saber viver um dia de cada vez, sabendo que as coisas nem sempre avançam como queremos. “Todas as coisas são boas a seu tempo” – devemos saborear os bons momentos e ser capazes de encontrar sinais de esperança em todos eles. Como dizia o Alçada Baptista, «a vida não é banal não obstante o nosso quotidiano ter sido de uma banalidade atroz. Acredito que é possível descobrir pedaços de luz no meio de tudo isso». A nossa vida a dois tem sido já uma experiência muito feliz de crescimento, dia a dia. Queremos continuar a gozar essa alegria de vivermos e crescermos juntos, de descobrirmos em conjunto a luz do nosso quotidiano, porque isso é muito bom.<br />Terceiro desejo: queremos que este compromisso não seja só nosso, mas também vosso. A comunidade onde crescemos, onde quotidianamente celebramos a nossa fé, é também aquela que se compromete connosco a acompanhar a nossa vida. Para nós a experiência da fé passa muito pela interpelação a sermos melhores, mais solidários, mais fraternos, mais humanos. Nós não somos donos da verdade e muitas vezes precisamos da ajuda de outros para descortinar os caminhos do Senhor da História. É isso que nos diz o texto da Gaudium et Spes: a Igreja é essencialmente uma comunidade que olha para a história das pessoas, para as alegrias e tristezas das pessoas de hoje e que as ampara na sua procura de uma vida mais cheia de significado. É isso que quer dizer uma Igreja “real e intimamente ligada ao género humano e à sua história”. Foi nesta Igreja que crescemos, nas nossas famílias, no Movimento Católico de Estudantes, na Comunidade João XXIII. É nessa Igreja que queremos continuar a crescer, convosco.<br />São estes os três desejos que deixamos. Terminamos com uma espécie de poema que resume isto duma maneira um pouco mais espalhafatosa e desarrumada. Então aqui vai:<br /><br />Queremos festejar o nosso amor!<br />Queremos uma vida cheia de sentido<br />Queremos viver a sério a nossa solidariedade<br />Queremos um coração onde caiba toda a gente<br />Queremos uma liberdade mais pura e completa<br />Queremos ser nós mesmos até ao fim<br />Queremos encontrar sempre coisas novas<br />Queremos esperar e descobrir o inesperado<br />Queremos viver como se estivéssemos a dançar<br />Queremos acreditar profundamente nas pessoas<br />Queremos embriagar-nos do amor de Deus<br />Queremos encontrar esperança mesmo no desespero<br />Queremos descobrir uma presença mais pura em cada pessoa<br />Queremos viver o “afecto de cada dia nos dai hoje”<br />Queremos ensinar alguma coisa e aprender muito com os miúdos<br />Queremos a verdade como peixe quer água<br />Queremos a justiça sempre<br />Queremos ser escutados sem fazer barulho<br />Queremos encontrar motivos porque lutar<br />Queremos cultivar humanidade."<br /><div style="text-align: right;">Cila e Zé Filipe, Junho 2009<br />* <span style="font-size:85%;">Há umas semanas o Jorge Wemans cravou-nos um texto para a Viragem sobre a nossa vivência em Igreja baseado na nossa preparação para o casamento. A nossa homilia foi escrita posteriormente com base nesse [outro] texto [que irá ser publicado na revista], introduzindo as referências às leituras e tornando a coisa um pouco mais pessoal.</span><br /></div><br /><br />"<span style="font-weight: bold;">Matrimónio de Cila e Zé Filipe – Homilia</span><br />A fé da pessoa bíblica, iluminada por Deus, reinterpreta os acontecimentos, comum a outros povos, como sinais da aliança. Essa atitude mostra-nos uma característica da “mentalidade sacramental”. Quando Jesus “institui” os sacramentos, não inventa uma realidade semelhante a um meteorito, a uma instituição que “cai dos céus aos trambolhões“ e se impõe à pessoa humana. Trata-se, pelo contrário, de algo que tem as suas raízes na condição humana. É que Deus é, ao mesmo tempo, criador e salvador. Por isso, linguagens, gestos, encontros… dizem-nos claramente que a pessoa humana necessita do que é sensível para conhecer e exprimir-se, necessita de sinais autênticos sem formalismos nem ritualismos, sinais que sejam expressão do “coração” na sua relação com o Senhor Deus, consigo, com os outros, com a natureza e com os acontecimentos.<br />O que há de mais comum e, simultaneamente, de mais misterioso do que o encontro de dois seres que se amam e se reconhecem e que, no entanto, nunca acabaram de se descobrir? É o quotidiano em toda a sua poesia, riqueza e monotonia; é o quotidiano a tornar-se espelho do infinito.<br />Desde a primeira página da Bíblia, o encontro da mulher e do homem é visto como um dos espaços em que se desvenda o invisível. O próprio Deus quis inscrever o Seu rosto no casal humano que aparece no sexto dia como o cume da criação.<br />Cila e Zé Filipe, na vossa vida de casal tornais-vos imagem de Deus, tornais-vos sacramento nos vossos três desejos: projecto aberto, vivido na alegria e apoiado na e pela comunidade(s).<br />Entre todos os sacramentos, o matrimónio é um daqueles em que aparece claramente que não se pode separar a realidade humana e a realidade sacramental.<br />No matrimónio, mais do que noutro sacramento, fidelidade e perdão estão sempre ligados. Ambos têm a mesma fonte. Quando um esposo perdoa ao outro, é porque quer permanecer com ele, para que o amanhã seja diferente do ontem. Quando se perdoa vive-se mais alegre e é-se mais humano(a)... e mais divino(a)! Não se trata nem de esquecer o passado, nem de se tornar indiferente, nem de ser ingénuo(a)!...<br />Perdoar, como Deus perdoa, é amar o bastante para querer continuar a construir o futuro em conjunto; por isso, o casal humano é a realidade no seio da qual se pode compreender melhor toda a riqueza e toda a dificuldade do perdão: aí se revela também o rosto do Deus de Jesus.<br />Então, nesta envolvência sacramental ousamos cantar:<br /><br />É grande a Tua piedade,<br />Se não fosse,<br />Qualquer homem deixaria de orar.<br />Mas apostamos no Teu Reino<br />Mesmo se sofremos. (bis)<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Refrão<span style="font-style: italic;"></span></span><br /><span style="font-weight: bold;">Seja o Teu Reino um corpo,<br />O mistério do Teu rosto<br />E as mãos<br />De gestos simples de amor<br />E de invenção.</span><br /><br />Temos as mãos no vazio<br />Nada tocam,<br />Ainda que as saibamos feitas para lutar;<br />Mas apostamos no Teu Reino<br />Queremos lutar. (bis)<br /><br />Ó Deus da nossa unidade,<br />Faz-nos fortes<br />Nossa força é trabalhar a aventura.<br />Mas apostamos no Teu Reino<br />Vamos trabalhar. (bis)"<br /><div style="text-align: right;">António Samelo<br /></div>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-40214708199115766332009-03-29T21:49:00.017+01:002009-05-04T13:12:33.117+01:00«Se o grão de trigo, lançado à terra, morrer, dará muito fruto» – Domingo V da QuaresmaFoi o José Vieira que, hoje, nos ajudou na reflexão. <span style="font-style: italic;">Valeu a pena...</span><br /><br />"COMEÇAR DE NOVO<br /><br />O TPC de hoje que o professor José Manuel Pureza me encomendou tem um belo título: Começar de Novo. A primeira coisa, que imediatamente me ocorreu, foi cantar Ivan Lins…<br /><br /><span style="font-style: italic;">Começar de novo e contar comigo</span><br /><span style="font-style: italic;">Vai valer a pena ter amanhecido</span><br /><span style="font-style: italic;">Ter me rebelado, ter me debatido</span><br /><span style="font-style: italic;">Ter me machucado, ter sobrevivido</span><br /><span style="font-style: italic;">Ter virado a mesa, ter me conhecido</span><br /><span style="font-style: italic;">Ter virado o barco, ter me socorrido</span><br /><span style="font-style: italic;">Começar de novo e contar comigo</span><br /><span style="font-style: italic;">Vai valer a pena ter amanhecido…</span><br /><br />Depois comecei a pensar que sendo eu professor de Filosofia, se calhar, era suposto que eu falasse da condição humana, porque começar de novo é no fundo o tema do Mito de Sísifo. Este Sísifo é um herói da mitologia grega, que os deuses condenaram a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra do sopé de uma montanha até ao topo, só para vê-la rolar para baixo novamente. Albert Camus escreveu que este mito trágico pode ser um resumo do absurdo da condição humana: “ Se o mito é trágico é porque o homem seu protagonista tem consciência de que a esperança de atingir o propósito do seu trabalho é frustrada. Muitos trabalhadores do nosso tempo trabalham nas mesmas condições e o seu destino não é menos absurdo.”<br />Mas algumas perguntas se impõem: O ser humano tem ou não a possibilidade de modificar esta rotina absurda? Pode ou não lançar para longe o rochedo da miséria, da ignorância e da inconsciência? Pode ou não deixar de repetir a rotina dos dias, das semanas, dos meses e dos anos? Pode ou não alterar uma vida repetitiva e monótona para construir o próprio destino?<br />Responder negativamente a estas interrogações implicaria aceitar o fatalismo rotineiro que nunca nos permitirá modificar a nossa vida, o nosso presente e o nosso futuro.<br /><br />Por isso, enquanto cristãos, homens e mulheres de fé, temos de recusar este fatalismo e temos antes de aceitar o desafio do Poeta (Miguel Torga):<br /><br /><span style="font-style: italic;">Recomeça….</span><br /><span style="font-style: italic;">Se puderes</span><br /><span style="font-style: italic;">Sem angústia</span><br /><span style="font-style: italic;">E sem pressa.</span><br /><span style="font-style: italic;">E os passos que deres,</span><br /><span style="font-style: italic;">Nesse caminho duro</span><br /><span style="font-style: italic;">Do futuro</span><br /><span style="font-style: italic;">Dá-os em liberdade.</span><br /><span style="font-style: italic;">Enquanto não alcances</span><br /><span style="font-style: italic;">Não descanses.</span><br /><span style="font-style: italic;">De nenhum fruto queiras só metade.</span><br /><span style="font-style: italic;">E, nunca saciado,</span><br /><span style="font-style: italic;">Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.</span><br /><span style="font-style: italic;">Sempre a sonhar e vendo</span><br /><span style="font-style: italic;">O logro da aventura.</span><br /><span style="font-style: italic;">És homem, não te esqueças!</span><br /><span style="font-style: italic;">Só é tua a loucura</span><br /><span style="font-style: italic;">Onde, com lucidez, te reconheças…</span><br /><br />Creio que este é de facto um belo desafio. Creio que é mesmo o desafio que se nos impõe com uma urgência urgente porque enquanto não alcançarmos as metas desejadas não podemos parar. Contentar-nos só com metade quando podemos ter tudo é preguiça. Nunca nos podemos dar por saciados por mais desilusões que possamos colher neste pomar de aventuras da nossa vida. Pedem-nos que sejamos fermento que leveda a massa. Que sejamos sal. Então sejamos sal e fermento. Não sei se vamos mudar o mundo. Mas sei que temos de mudar o nosso mundo. Sei que temos de começar de novo todos os dias porque vai valer a pena.<br /><br /><font face="Arial" size="2"> <a target="_blank" href="http://www.yehplay.com/musics/Ivan-Lins-Comecar-de-Novo/293342/">Ivan Lins - Começar de Novo</a></font><br><object classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000" codebase="http://fpdownload.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" width="260" height="60" id="yehplay" align="middle" border="0"><param name="movie" value="http://www.mp3tube.net/play.swf?id=b240e2204490ddb61d99cef74a980d58" /><param name="quality" value="High" /><param name="wmode" value="transparent"><param name="menu" value="false"><embed src="http://www.mp3tube.net/play.swf?id=b240e2204490ddb61d99cef74a980d58" quality="High" width="260" height="60" name="yehplay" align="middle" allowScriptAccess="sameDomain" type="application/x-shockwave-flash" pluginspage="http://www.macromedia.com/go/getflashplayer" wmode="transparent" menu="false" /></embed></object>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-36828062464338212682009-03-22T21:35:00.001+00:002009-05-02T12:41:24.014+01:00"Se eu me não lembrar de ti, Jerusalém, fique presa a minha língua" - Domingo IV da QuaresmaQue belo mote para a nossa reflexão, ajudada pelo texto de D. Pedro Casaldáliga:<br /><br />"<span style="font-weight: bold;">Os sonhos de um grande profeta</span>"<br />O cardeal Carlo Maria Martini, jesuíta, biblista, arcebispo que foi de Milão e colega meu de Parkinson, um eclesiástico de diálogo, de acolhimento, de renovação a fundo, tanto na Igreja como na Sociedade, em seu livro de confidências e confissões Colóquios nocturnos em Jerusalém, declara: «Antes eu tinha sonhos acerca da Igreja. Sonhava com uma Igreja que percorre o seu caminho na pobreza e na humildade, que não depende dos poderes deste mundo; na qual se extirpasse de raiz a desconfiança; que desse espaço às pessoas que pensem com mais amplidão; que desse ânimo, especialmente, àqueles que se sentem pequenos ou pecadores. Sonhava com uma Igreja jovem. Hoje não tenho mais esses sonhos». Esta afirmação categórica de Martini não é, não pode ser, uma declaração de fracasso, de decepção eclesial, de renúncia à utopia. Martini continua sonhando nada menos que com o Reino, que é a utopia das utopias, um sonho do próprio Deus. Ele e milhões de pessoas na Igreja sonham com a «outra Igreja possível», ao serviço do «outro Mundo possível». E o cardeal Martini é uma boa testemunha e um bom guia nesse caminho alternativo; tem-no demonstrado.<br />Tanto na Igreja (na Igreja de Jesus que são várias Igrejas) como na Sociedade (que são vários povos, várias culturas, vários processos históricos) hoje mais do que nunca devemos radicalizar na procura da justiça e da paz, da dignidade humana e da igualdade na alteridade, do verdadeiro progresso dentro da ecologia profunda. E, como diz Bobbio, é preciso instalar a liberdade no coração mesmo da igualdade»; hoje com uma visão e uma acção estritamente mundiais. É a outra globalização, a que reivindicam os nossos pensadores, nossos os militantes, os nossos mártires, os nossos famintos...<br />A grande crise económica actual é uma crise global de Humanidade que não se resolverá com nenhum tipo de capitalismo, porque não é possível um capitalismo humano; o capitalismo continua a ser homicida, ecocida, suicida. Não há modo de servir simultaneamente ao deus dos bancos e ao Deus da Vida, conjugar a prepotência e a usura com a convivência fraterna. A questão axial é: Trata-se de salvar o Sistema ou trata-se de salvar a Humanidade? As grandes crises, grandes oportunidades. No idioma chinês a palavra crise desdobra-se em dois sentidos: crise como perigo, crise como oportunidade.<br />Na campanha eleitoral dos EUA apelou-se repetidamente «ao sonho de Luther King», querendo actualizar esse sonho; e, por ocasião dos 50 anos da convocatória do Vaticano II, tem-se recordado, com saudade, o Pacto das Catacumbas da Igreja serva e pobre. No dia 16 de Novembro de 1965, poucos dias antes da clausura do Concílio, 40 Padres Conciliares celebraram a Eucaristia nas catacumbas romanas de Domitila, e firmaram o Pacto das Catacumbas. Dom Helder Câmara, cujo centenário de nascimento estamos a celebrar neste ano, era um dos principais animadores do grupo profético. O Pacto em seus 13 pontos insiste na pobreza evangélica da Igreja, sem títulos honoríficos, sem privilégios e sem ostentações mundanas; insiste na colegialidade e na co-responsabilidade da Igreja como Povo de Deus e na abertura ao mundo e no acolhimento fraterno.<br />Hoje, nós, na convulsa conjuntura actual, professamos a vigência de muitos sonhos, sociais, políticos, eclesiais, aos quais de nenhum modo podemos renunciar. Seguimos rechaçando o capitalismo neoliberal, o neo-imperialismo do dinheiro e das armas, uma economia de mercado e de consumismo que sepulta na pobreza e na fome uma grande maioria da Humanidade. E continuaremos a rechaçar toda discriminação por motivos de género, de cultura, de raça. Exigimos a transformação substancial dos organismos mundiais (a ONU, o FMI, o Banco Mundial, a OMC...). Comprometemo-nos a viver uma «ecologia profunda e integral», propiciando uma política agrária-agrícola alternativa à política depredadora do latifúndio, da monocultura, do agrotóxico. Participaremos nas transformações sociais, políticas e económicas, para uma democracia de «alta intensidade».<br />Como Igreja, queremos viver, à luz do Evangelho, a paixão obsessiva de Jesus, o Reino. Queremos ser Igreja da opção pelos pobres, comunidade ecuménica e macroecuménica também. O Deus em quem acreditamos, o Abbá de Jesus, não pode ser de jeito nenhum causa de fundamentalismos, de exclusões, de inclusões absorventes, de orgulho proselitista. Chega de fazermos do nosso Deus o único Deus verdadeiro. «Meu Deus, deixa-me ver a Deus?». Com todo respeito pela opinião do Papa Bento XVI, o diálogo inter-religioso não somente é possível, é necessário. Faremos da co-responsabilidade eclesial a expressão legítima de uma fé adulta. Exigiremos, corrigindo séculos de descriminação, a plena igualdade da mulher na vida e nos ministérios da Igreja. Estimularemos a liberdade e o serviço reconhecido dos nossos teólogos e teólogas. A Igreja será uma rede de comunidades orantes, servidoras, proféticas, testemunhas da Boa Nova: uma Boa Nova de vida, de liberdade, de comunhão feliz. Uma Boa Nova de misericórdia, de acolhimento, de perdão, de ternura, samaritana à beira de todos os caminhos da Humanidade. Continuaremos a fazer com que se viva na prática eclesial a advertência de Jesus: a «Não será assim entre vocês» (Mt 21,26). Seja a autoridade serviço. O Vaticano deixará de ser Estado e o Papa não será mais chefe de Estado. A Cúria terá de ser profundamente reformada e as Igrejas locais cultivarão a inculturação do Evangelho e a ministerialidade compartilhada. A Igreja comprometer-se-á sem medo, sem evasões, com as grandes causas da justiça e da paz, dos direitos humanos e da igualdade reconhecida de todos os povos. Será profecia de anúncio, de denúncia, de consolação. A política vivida por todos os cristãos e cristãs será a «expressão mais alta do amor fraterno» (Pio XI).<br />Não renunciamos a estes sonhos mesmo quando possam parecer quimera. «Ainda cantamos, ainda sonhamos». Nós atemo-nos à palavra de Jesus: «Fogo vim trazer à Terra; e que mais posso querer senão que arda» (Lc 12,49). Com humildade e coragem, no seguimento de Jesus, tentaremos viver estes sonhos no dia-a-dia das nossas vidas. Continuará a haver crises e a Humanidade, com as suas religiões e as suas Igrejas, seguirá sendo santa e pecadora. Mas não faltarão as campanhas universais de solidariedade, os Foros Sociais, as Vias Campesinas, os movimentos populares, as conquistas dos Sem Terra, os pactos ecológicos, os caminhos alternativos da Nossa América, as Comunidades Eclesiais de Base, os processos de reconciliação entre o Shalom e o Salam, as vitórias indígenas e afro e, em todo o caso, mais uma vez e sempre, «eu me atenho ao dito: a Esperança».<br />Cada um e cada uma a quem possa chegar esta circular fraterna, em comunhão de fé religiosa ou de paixão humana, receba um abraço do tamanho destes sonhos. Os velhos ainda têm visões, diz a Bíblia (Jl 3,1). Li nestes dias esta definição: «A velhice é uma espécie de pós-guerra»; não exactamente de claudicação. O Parkinson é apenas um percalço do caminho e seguimos Reino adentro.<br /><div style="text-align: right;">Pedro Casaldáliga, Circular 2009. [com adaptações]<span style="font-size:85%;"> (in: http://www.combonianosbne.org/node/526)</span></div>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-11436447.post-73367617052221769062009-03-15T21:37:00.003+00:002009-05-02T13:46:18.962+01:00"Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna" – Domingo III da QuaresmaEsta semana, ajudados pelo José Pureza, rezámos também...<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Pelo Luís, pelo João, por nós</span><br />Estranha coisa esta de a morte nos trazer a vida de volta quando dela pouco quisemos saber no tempo em que com ela nos cruzámos. Foi assim, para muitos de nós, com o Luís. Foi quando ele morreu, subitamente, que procurámos resgatar o melhor da sua vida para entregar ao Miguel e à Ana como a única herança que valia a pena herdar. Na dor da Nani, a Comunidade aprendeu a ver a presença ausente da vida do Luís. Acho que nunca nos resignámos a esse lugar vazio. Nestes quatro anos, acompanhámos a Nani não só por amizade e por emoção mas também por estarmos com ela irmanad@s na perplexidade perante o mistério da perda. Hoje vimos aqui rezar para que esta pergunta que está connosco há quatro anos não deixe de nos desassossegar. E para que a possamos refazer, a olhar para a esperança, em conjunto com a Nani, o Miguel e a Ana, a tempo inteiro.<br />Foi também a morte do João Mesquita que trouxe de volta a sua vida, esta semana, para @s seus/suas muit@s amig@s. O João teve uma vida vertical e limpa, feita de cumplicidades muito densas. Foi uma vida muito difícil, por ser exigente de princípios e intransigente de recusas. Esta semana. @s seus/suas muit@s amig@s olharam para trás, lá para onde o João esteve. E sentiram tod@s esse mistério de uma vida que marca vidas a tomar corpo. O João não acreditava em Deus. Mas eu acho que ele se limitaria a cofiar o bigode e a acender mais um cigarro e, com calma e uma grande bonomia, escutaria a oração que eu hoje aqui faço para dar graças a Deus pelo seu testemunho de vida e para lhe pedir carinho e alento para a Clara e a Joaninha.<br /><br />No final, o Zé Carlos Pina partilhou connosco um cântico retirado do disco <span style="font-style: italic; font-weight: bold;" id="entity_full_name" class="f-bold">Keur Moussa: Sacred Chant & African Rhythms from Senegal</span>*, interpretado pelos <a href="http://www.mp3.com//artist/monks-of-keur-moussa-abbey/summary/" class="f-FFF f-bold">Monks of Keur Moussa Abbey</a> (Senegal). A música é o "Cântico da criação", inspirada em melodia popular da Mauritânia e texto adaptado de: Cântico dos três jovens (Daniel, 3:57-ss):<br /><br />«Os três jovens, então, não tiveram senão uma só voz para louvar, glorificar e bendizer a Deus, na fornalha, com este cântico:<br /><br />Todas as obras do Senhor,<br /> louvai o Senhor<br />E vós, anjos do Senhor,<br /> louvai o Senhor<br />E vós, seres humanos,<br /> louvai o Senhor<br />E vós, filhos de Israel<br /> louvai o Senhor<br />E vós, sacerdotes do Senhor,<br /> louvai o Senhor<br />E vós, servos do Senhor,<br /> louvai o Senhor<br />E vós, espíritos e almas dos justos,<br /> louvai o Senhor<br />E vós, santos e humildes de coração,<br /> louvai o Senhor<br />E vós, todas as criaturas do universo,<br /> louvai o Senhor.»<br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > <a target="_blank" href="http://www.mp3tube.net/musics/Monks-of-Keur-Moussa-Abbey-Tya-Mom-Ndam-Gu-Rey/293303/">Monks of Keur Moussa Abbey - Tya Mom Ndam Gu Rey</a></span><br /><object classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000" codebase="http://fpdownload.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=7,0,0,0" id="mp3tube" align="middle" border="0" height="60" width="260"><param name="movie" value="http://www.mp3tube.net/play.swf?id=75d3a97eeb982f17a14cfad764e6b167"><param name="quality" value="High"><param name="wmode" value="transparent"><param name="menu" value="false"><embed src="http://www.mp3tube.net/play.swf?id=75d3a97eeb982f17a14cfad764e6b167" quality="High" name="mp3tube" allowscriptaccess="sameDomain" type="application/x-shockwave-flash" pluginspage="http://www.macromedia.com/go/getflashplayer" wmode="transparent" menu="false" align="middle" height="60" width="260"></embed></object>João Marujohttp://www.blogger.com/profile/14514577943593252285noreply@blogger.com0