domingo, março 13

O Corpo, Sacramento de Salvação

Ensinaram-nos (e ainda ensinam) que o Corpo é perdição.
Por ele nos diabolizamos, com ele pecamos. Puxa-nos para baixo, amarra-nos à terra, impede a alma de voar até lugares onde Deus mora.

E no amor? O corpo, dizem-nos, é ferramenta imprescindível... mas traiçoeira.
Que bom seria se pudéssemos passar sem ele, deixar que o meu espírito do amor se casasse (sem entraves corpóreos, nem físicas limitações), se casasse com o espírito do amor dela. Isso seria o céu perfeito do entendimento.

O corpo só atrapalha, inculcam-nos. Na busca de Deus, certamente... mas, sobretudo, na busca do outro.
Ou porque é novo demais, ou velho para lá da conta. Porque é gordo em excesso, ou magro em demasia. Seguramente porque é feio até o outro não gostar, ou tão belo que amedronta qualquer um.

E, no entanto...

No entanto nada tinha de ser como foi. Nada tem de ser como é.
Deixai-me cantar o Corpo, esse meu SACRAMENTO DE SALVAÇÃO.

No Princípio criou Deus o Céu e Terra, o Homem e a Mulher. Deus viu que tudo era bom ... tão bom que resolveu descansar no sétimo dia da Criação.
Vamos agarrar-nos a esta tão bela metáfora e esquecer o abastardamento que dela fez a Humanidade subsequente.

... E Deus viu que tudo era muito bom ...

Se ERA, É!!!
Por isso eu vou cantar o CORPO, meu lugar de habitação para sempre. Até mesmo depois de morrer aqui, para continuar, ressuscitado, no meu corpo, então, glorioso.

Mas falemos de sexo, pois foi essa a encomenda.
Porque Deus criou a Mulher e o Homem e ficou feliz com o que fez, não estraguemos a obra divina.
Passemos a olhar o amor físico com a mesma nobreza com que conceituamos o amor platónico.
Eu quisera poder sentir, SEMPRE, esta sereníssima harmonia entre o que o meu corpo deseja e a minha alma anseia.
Eu quisera saber transmitir essa felicidade felicíssima que o meu ser revela quando dialoga, corpo a corpo, com a minha amada.

Não pode haver condenação em tão imensa plenitude. Não pode haver pecado em tão profundíssima alegria.
Deus acertou em cheio na invenção da sexualidade. Porque o sexo é sacramento de salvação sempre que veicula amor, cumplicidade, alegria de viver, generosidade, busca de encontro, partilha, apaziguamento.
Mas o sexo também pode ser sinal de condenação (pecado de morte) sempre que veicula ódio, traição, morte, egoísmo, desencontro, apropriação, guerrilha.
Todos nós já experimentámos, nas nossas vidas, estes dois rostos do corpo sexuado.
O que Jesus Cristo nos convida é a que testemunhemos a beleza da sexualidade cristã. E ela tem de travar, constantemente, o bom combate contra as teorias e as práticas da sexualidade maldita.
Somos uma indivisível unidade de corpo e espírito chamada à plenitude da VIDA que o Ressuscitado certifica.
Já é tempo de sermos o rosto interpelador de uma sensualidade radiosa. Temos seguros fundamentos divinos para irradiar um exemplo de feliz sexualidade.
Estaremos mais próximos do coração de Deus se conseguirmos realizar a máxima de Santo Agostinho:

AMA... E FAZ O QUE QUISERES ...